Existem diferentes tipos de miomas?
Existem diferentes tipos de miomas e classificam-se consoante a sua localização. Em termos de localização, os miomas podem ser intramurais (crescem na parede do útero e são os mais frequentes), subserosos (crescem na parede exterior do útero) ou submucosos (localizam-se na cavidade uterina/endométrio e tendem a provocar mais perdas de sangue) e a sua gravidade caracteriza-se pelo seu número, tamanho e localização.
O tratamento é variável?
Em relação ao tipo de tratamento é individualizado, dirigido à mulher, ao desejo de fertilidade, à gravidade da sintomatologia, ao tipo, tamanho e localização dos miomas.
O tratamento vai desde a não intervenção e vigilância por não haver sintomas, ao tratamento farmacológico ao dispor para controlo da sintomatologia até à intervenção cirúrgica mais conservadora ou definitiva.
O papel do tratamento farmacológico tem ganho desenvolvimento nos últimos anos através de recurso a terapêutica hormonal ou não. Os objetivos da terapêutica médica, passaram a incluir, não apenas, o controlo dos sintomas, mas até mesmo a redução dos miomas.
Pode recorrer-se a antifibrinolíticos, anti-inflamatórios não esteroides, venotrópicos, progestativos e estroprogestativos, inibidores da aromatase, análogos da GnRH, moduladores seletivos dos recetores da progesterona e inibidores hipofisários.
O tratamento cirúrgico foi durante muito tempo o tratamento de eleição para os miomas uterinos, que continua a ser uma das principais indicações para retirar o útero (histerectomia).
A histerectomia é neste contexto o tratamento com maior eficácia, sobretudo a longo prazo, mas a miomectomia é, em casos específicos, uma abordagem terapêutica não só possível, mas até a mais indicada, seja por laparoscopia, laparotomia (via abdominal clássica) ou via vaginal.
A embolização das artérias uterinas, a sua laqueação e outros tratamentos como a miólise constituem alternativas terapêuticas a considerar, embora com indicações muito precisas e estritas, e ainda controversas.
Como surgem os miomas uterinos?
Os miomas uterinos aparecem sem motivo aparente. As causas são multifatoriais, vão desde fatores genéticos, fatores hormonais e de crescimento. O ambiente hormonal é muito importante no seu desenvolvimento, já que após a menopausa param de crescer e começam a reduzir as suas dimensões.
Não existindo medidas comprovadamente eficazes para prevenir o desenvolvimento de miomas uterinos, que parece uma predisposição já inerente, existem alguns fatores de risco descritos como a idade, idade precoce da primeira menstruação, ter mãe ou irmã com o mesmo problema, raça negra, obesidade, hipertensão arterial, alimentação (carnes vermelhas, álcool, cafeína) e nunca ter tido filhos.
Quais são os sinais a que as mulheres devem estar atentas?
Os miomas uterinos são maioritariamente assintomáticos. No entanto, podem ter sinais e sintomas que vão depender do seu tamanho e da sua localização e que podem de algum modo afetar a qualidade de vida das mulheres.
Os sintomas mais frequentes são a hemorragia uterina anormal e excessiva, com menstruações muito abundantes e prolongadas, podendo originar anemia. Também podem originar sintomas de compressão pélvica pelo tamanho dos miomas e dor pélvica.
A hemorragia uterina anómala e excessiva é o sintoma mais frequente, principalmente sob a forma de hemorragia menstrual abundante. É a sua localização e as suas dimensões que vão determinar o grau da hemorragia, que ocorre pelo aumento da superfície endometrial que sangra, maior vascularização do útero e por não permitir a normal contractilidade vascular e uterina.
De que forma é que os miomas uterinos condicionam a qualidade de vida das mulheres?
Qualquer mulher perante uma patologia ginecológica pode ter repercussões físicas e psicológicas. Em particular, no caso dos miomas uterinos como a sua expressão clínica pode ser muito variada pode também ter influência ou consequências muito díspares.
Maioritariamente sem consequências porque a maioria são assintomáticos, mas, em termos físicos, podem diminuir drasticamente a qualidade de vida da mulher por hemorragia profusa ou dor intensa e implicar decisões médicas rápidas, em termos de controlo da sintomatologia.
Em termos psicológicos, traz muitas incertezas e humor depressivo face à dificuldade de resolução de sintomas, o risco de retirar o útero e pode pôr em questão e em dúvida a repercussão futura na fertilidade da mulher e do casal.
De que modo é que a campanha “WTF: Mulheres que falam de miomas” pretende ajudar as mulheres que sofrem com este problema?
A campanha “WTF: Mulheres que falam de miomas” tem como principal objetivo aumentar a consciencialização das Mulheres sobre os Miomas Uterinos, ou seja, garantir que as mulheres têm informação credível, correta e necessária para ajudar na identificação da doença, que tem elevada prevalência.
“Silêncio” é o mote da campanha, que visa alertar para o fator mais comum entre as mulheres que sofrem de miomas uterinos – o sofrimento em silêncio.
Para muitas mulheres é difícil falar sobre aspetos da saúde da mulher como os Miomas Uterinos, então outro objetivo importante é empoderar as mulheres para falar com seu médico.
Irina Ramilo é médica e assistente hospitalar de Ginecologia e Obstetrícia no Hospital Vila Franca de Xira e do Centro Especializado de Endometriose do Hospital Lusíadas em Lisboa. É autora da página @aginecologistadamelhoramiga.
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