A opinião é sustentada por dois especialistas na área da comunicação, que analisaram as redes sociais para aferir a forma como tem sido difundida informação relativa ao vírus e à propagação da epidemia.
“Eu tendo a não olhar para as redes sociais como um vetor desestruturante daquilo que é a nossa ideia do discurso sobre o COVID-19. Quem tem marcado o tom, o registo daquilo que é a opinião publica sobre o COVID-19 são as próprias fontes oficiais, as próprias fontes oficiais têm tido aqui algum domínio sobre aquilo que é o registo dominante”, disse Felisbela Lopes, especialista em media.
Na opinião da professora universitária, se esta quarta-feira existe “bastante medo social, em alguns casos pânico”, o dedo deve ser apontado às entidades oficiais que “foram promovendo essa preocupação permanente das pessoas”.
“Acho que aqui as redes sociais não tiveram assim tanto protagonismo como aquele que eventualmente tenhamos a tentação de lhes dar”, afirmou.
Gustavo Cardoso, sociólogo responsável por estudos na área da comunicação e da Internet, é da mesma opinião, explicando que normalmente o que se observa nas redes sociais é uma polarização de posições entre lados oponentes.
Ou seja, as redes sociais são muitas vezes palco de ataques quando há um lado que alguém considera ser o lado bom contra o outro, qualquer que ele seja, por exemplo, a direita política versus a esquerda, ou clubes de futebol, especificou.
“Essas dinâmicas quando estão em jogo, efetivamente, nas redes sociais encontra-se muita desinformação”.
O que está a acontecer – não quer dizer que não existam tentativas de desinformação e alguma colocada em campo por parte de pessoas que querem aproveitar um momento de crise para fazer valer a sua agenda politica, ou pessoal, ou de grupo – “é que quem partilha, o cidadão comum, não está a fazer partilha em torno de questões que possam considerar que são causadoras da crise”.
“É isso que a análise das redes sociais demonstra: as pessoas procuram e preocupam-se e dizem, sobre o que se está a passar, a sua opinião, mas não estão a ir atrás de narrativas de desinformação”.
A questão chave aqui é que “não há um inimigo. O inimigo aqui é a doença e portanto não há ninguém que esteja a defender o coronavírus e a sua propagação, pelo contrário, toda a gente pretende que ele seja combatido e isso cria um ambiente diferente para não entrar desinformação.
A epidemia de COVID-19 foi detetada em dezembro, na China, e já provocou mais de 4.300 mortos em 28 países e territórios.
O número de infetados ultrapassou as 120 mil pessoas, com casos registados em 120 países e territórios, incluindo Portugal, que tem 59 casos confirmados.
Em Portugal, a Direção-Geral da Saúde (DGS) atualizou esta quarta-feira o número de infetados, que registou o maior aumento num dia (18), ao passar de 41 para 59.
A Organização Mundial da Saúde (OMS) declarou esta quarta-feira a doença COVID-19 como pandemia.
Acompanhe aqui, ao minuto, todas as informações sobre o novo coronavírus em Portugal e no mundo.
Comentários