
"A grande novidade é que, pela primeira vez, o cirurgião vai ter um dispositivo digital a auxiliá-lo, inserido num computador. Assim, ao invés de colocar as mãos diretamente no doente, é um aparelho que faz isso, comandado à distância pelo profissional. E, entre os dois, há um computador, que permite ao cirurgião fazer coisas que, caso estivesse diretamente em cima do doente, não conseguiria", disse Carlos Vaz à Lusa à margem da conferência YES Talk, dedicada à cirurgia robótica.
"Além disso, ao terem uma inteligência própria, os sistemas conseguirão criar memórias das operações que foram feitas, auxiliando os cirurgiões no processo de decisão", acrescentou.
Segundo o especialista, a cirurgia robótica surgiu a partir das técnicas de cirurgia minimamente invasiva como a laparoscopia e a videoendoscopia, utilizadas desde 1987.
Com a criação da laparoscopia, "deixamos de abrir as cavidades, como o tórax e a barriga, e passamos a fazer furos nos quais inserimos pequenos tubos, com entre um e cinco milímetros de diâmetro. Por um dos tubos colocamos uma câmara e pelos outros diferentes instrumentos", contou.
Cirurgia robótica é muito cara
Questionado sobre a evolução da cirurgia robótica a nível mundial, indicou que está ainda "pouco introduzida", devido ao facto de ser muito cara, tanto no desenvolvimento como na utilização e na manutenção.
Apesar disso, Carlos Vaz, que começou a trabalhar com cirurgia robótica em 2010, defende que a avaliação desta tecnologia deve ser feita tendo em consideração "aquilo que ela vale intrinsecamente, independentemente das condições à volta".
"Em Portugal, esta área está muito mais atrasada do que em outros países", afirmou, contando que existem somente quatro sistemas robóticos instalados no território nacional, todos em instituições privadas de cuidados de saúde, enquanto na Bélgica - "um país com a mesma dimensão" -, existem cerca de 20.
"O nosso Serviço Nacional de Saúde (SNS) ainda não tem nenhum. No mínimo, os hospitais universitários deveriam ter. Estão a formar médicos, que depois hão de ser cirurgiões e que, durante todo curso, não tiveram qualquer contacto com a cirurgia robótica, que virá a ser a cirurgia do tempo deles", referiu.
Relativamente ao papel dos médicos e dos cirurgiões num universo onde a robótica tende a ser cada vez mais utilizada, o especialista afirmou que os profissionais vão ser sempre necessários, mas que, no entanto, terão que estar em constante adaptação.
Durante a YES Talk, promovida pelos estudantes da Faculdade de Medicina da Universidade do Porto (FMUP) no âmbito do congresso internacional YES Meeting, participou ainda a investigadora Guilia Veronesi, responsável pelo desenvolvimento de programas pioneiros na área da cirurgia robótica para doenças torácicas, desde 2006.
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