A Universidade de Coimbra (UC) apresenta sexta-feira um medicamento para o diagnóstico do cancro que poderá satisfazer as necessidades do país e evitar o gasto anual de cinco milhões de euros na sua importação de Espanha.
O primeiro radio fármaco produzido por uma universidade portuguesa chega também ao mercado a cerca de metade do custo atual, revelou à agência Lusa o investigador Antero Abrunhosa, que tem estado envolvido na produção, no Instituto de Ciências Nucleares Aplicadas à Saúde (ICNAS).
A sessão de lançamento formal no mercado realiza-se sexta-feira, na Universidade de Coimbra, com a presença dos ministros da Saúde, Paulo Macedo, e da Educação e Ciência, Nuno Crato, acompanhados pelo secretário de Estado do Ensino Superior, João Queiró.
No entanto, o denominado FDG (Fluodesoxiglucose[18f]), usada nos exames PET (Tomografia por Emissão de Positrões) para o diagnóstico de doenças oncológicas, já está a ser fornecido pelo ICNAS aos centro privados existentes em Portugal, em Lisboa e Porto, e a expetativa é que as unidades públicas o venham a comprar também, em breve, logo que cessem os contratos de importação com Espanha.
Além de tornar desnecessário o recurso à importação, e de fazer baixar os custos para os serviços de saúde, "há ganhos de eficiência" porque a molécula "tem uma atividade que decai a partir de duas horas após a sua produção", na sua componente radioativa, o que pode obrigar a utilizar mais do que uma dose para conseguir o mesmo efeito, explicou Antero Abrunhosa.
Dadas as caraterísticas do fármaco, Coimbra surge como uma localização privilegiada, a meio caminho entre Lisboa e Porto, onde se localizam os centros que a utilizam em Portugal.
Para fazer chegar o fármaco na plenitude da sua eficiência aos centros de diagnóstico, ao princípio da manhã, os cientistas "fazem como os padeiros". Começam a produzi-la cerca da uma hora da manhã e, cinco horas depois, está pronta a ser transportada para Lisboa e Porto, através de uma empresa especializada.
Esta molécula já é utilizada desde os anos 70 do século passado, mas em Coimbra só foi possível preparar um projeto para a sua produção a partir de 2009, com a aquisição de tecnologia, nomeadamente de um ciclotrão.
Trata-se de uma modificação da glicose marcada com o átomo de flúor 18, que permite "mapear a três dimensões o percurso dessa molécula no corpo humano". Desse modo, indica quais as células que estão a consumir mais glicose, no caso particular das cancerígenas, pelo seu metabolismo alterado, explicou Antero Abrunhosa.
Além do diagnóstico do cancro, uma parte desta tecnologia pode ser utilizada no desenvolvimento de novos medicamentos, para avaliar a sua eficácia e segurança, acrescentou.
O especialista realçou ainda que, nessa vertente, a industria farmacêutica já mostrou interesse para ajudar a desenvolver fármacos para tratamento doenças cancerígenas.
"Temos aqui um excelente enquadramento para desenvolver projetos que possam ser relevantes", sustentou o investigador, admitindo que até ao final do corrente ano o ICNAS divulgue em Portugal moléculas inovadoras, nas áreas da oncologia e ciências neurológicas, que possam até ser licenciadas para a sua comercialização em Espanha.
As receitas da comercialização da FDG ajudarão a suportar os custos de gestão anual do ciclotrão, estimados em meio milhão de euros, e reforçar a investigação no Instituto de Ciências Nucleares Aplicadas à Saúde (ICNAS) da UC, dirigido pelo cientista Miguel Castelo Branco.
2 de fevereiro de 2012
@Lusa
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