Segundo um estudo desenvolvido no âmbito da campanha “saBeR mais Conta”, que pretende esclarecer a população, sobretudo os doentes oncológicos e familiares, sobre a relação entre estas mutações genéticas e alguns tipos de cancro, apenas 9,8% dos doentes que já ouviram falar nestas alterações as relacionam com o cancro do pâncreas.

“O gene BCRA vem do nome inglês Brest Câncer Gene (gene do cancro da mama), o que leva a muitas interpretações erradas. Este gene não está só ligado ao cancro da mama. A síndrome do cancro da mama e ovário também envolve outros órgãos, nomeadamente próstata e pâncreas, ou melanomas e cancro da mama no homem”, explicou à Lusa Tâmara Milagre, da associação Evita.

A presidente da Evita — Associação de Apoio a Portadores de Alterações dos Genes Relacionados com Cancro Hereditário – sublinhou a importância de se saber que “não é só uma coisa das mulheres”, pois pode afetar também os homens e outros órgãos, além da mama e do ovário.

“Estamos a discutir a nível europeu alterar o nome da síndrome, pois o próprio nome desvia da realidade”, disse.

O estudo indica ainda que, dos 30% de doentes que já ouviram falar de mutações genéticas nos genes BRCA, mais de metade (57,4%) não sabem que aumentam o risco de desenvolver alguns tipos de cancro, apenas 9,8 as associa ao cancro do pâncreas e 76% desconhece que estas mutações aumentam o risco de cancro da próstata.

Dos doentes que já ouviram falar das mutações genéticas BRCA, 63,9% não sabe que os familiares do doente com um cancro associado a uma delas podem ter um risco acrescido de desenvolver cancro e 41,8% desconhece que uma vigilância apertada, através de consultas médicas regulares, é também uma medida preventiva.

O estudo foi elaborado no âmbito da campanha “saBeR mais Conta”, que pretende esclarecer a população, sobretudo os doentes oncológicos e os seus familiares, sobre a relação entre as mutações BRCA e alguns tipos de cancro.

Questionada pela Lusa, Tâmara Milagre disse que não ficou surpreendida com o desconhecimento à volta da doença oncológica: “[o conhecimento da população] não é muito elevado e, quando começamos mergulhar na medicina personalizada e de precisão, como é o caso das mutações genéticas germinativas nos genes que supostamente nos devem proteger do cancro, o conhecimento é muito reduzido”.

“As pessoas tendem a só querer saber de coisas quando toca a elas próprias”, acrescentou.

Sublinhando a importância de as pessoas conhecerem bem a sua história familiar, a responsável alerta que a idade em que o cancro é diagnosticado pode servir de alerta: “Se uma mulher tem cancro da mama aos 28 anos, por exemplo, isso pode ser uma indicação para aconselhamento genético e para um futuro teste”.

Tâmara aconselha as pessoas a levarem em conta, nesta análise à história familiar, diversos tipos de cancro: “Não é só esta síndrome que está em causa. Há outras alterações genéticas, que dizem respeito ao cancro cólon retal e ao do estômago, por exemplo. Há genes já conhecidos de alto risco”.

“E também é preciso dizer que as pessoas precisam de ver o lado materno e o lado paterno. Estas mutações não passam só pelo lado materno”, acrescentou.

Reconhecendo que nem todos os médicos de família têm informação suficiente para fazer esta avaliação e enviar a pessoa para aconselhamento genético, a responsável da Evita adiantou que a associação pode ajudar a encaminhar estas pessoas para os sítios certos e até tem especialistas nesta matéria que com ela colaboram.

“É importante as pessoas estarem informadas. Até para saberem que a pessoa pode ter cancro aos 28 e sobreviver até aos 80 ou mais”, frisou.

A campanha “saBeR mais Conta” é uma iniciativa da Careca Power, Evita, Sociedade Portuguesa de Genética Humana, Sociedade Portuguesa de Ginecologia — Secção de ginecologia oncológica, da Sociedade Portuguesa de Oncologia e da Sociedade Portuguesa de Senologia.