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Exposição crónica a mercúrio está associada a danos no sistema nervoso central, rins e estômago
21 de junho de 2013 - 09h38
As mães portuguesas têm cinco vezes mais mercúrio no organismo do que a média registada num estudo com 17 países europeus, ocupando o segundo lugar, situação relacionado com o consumo de peixe, mas abaixo dos limites internacionais, revelou uma investigadora.
Portugal participou no projeto Democophes, que pretende recolher dados acerca da exposição a poluentes e apoiar a definição de medidas políticas e a sua avaliação.
"A média das mães portuguesas apresentam mais que cinco vezes a média registada" no estudo para o mercúrio, presença que é explicada com o consumo de algumas espécies de peixe capturado no mar.
"Os níveis detetados nas mães e crianças participantes no estudo, com algumas (muito poucas) excepções, estão abaixo dos limites estabelecidos por organizações internacionais", como a Organização das Nações Unidas para a Agricultura e Alimentação, ou a Organização Mundial de Saúde, explicou à agência Lusa a investigadora do Instituto de Medicina Preventiva, Fátima Reis, que coordenou o estudo em Portugal.
A especialista realçou que, no entanto, "é necessário ter em atenção que o mercúrio se vai acumulando no organismo e que, mesmo que se encontre agora a níveis considerados ´seguros´, pode vir, no futuro, e em caso de exposição continuada, a provocar efeitos adversos na saúde".
O estudo da presença dos químicos cádmio, cotinina e ftalatos na urina e mercúrio no cabelo foi realizado pela Unidade de Saúde Ambiental do Instituto de Medicina Preventiva, da Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa, e abrangeu 120 pares de mães, com menos de 45 anos, e crianças, entre seis e 11 anos.
"A boa correlação entre os teores de mercúrio das mães e das respetivas crianças aponta para uma mesma fonte de exposição, eventualmente a alimentação, a maioria das vezes comum às mães e crianças destas idades", especificou Fátima Reis.
Sendo o consumo de determinados tipos de peixe, como cação, tintureira, espadarte, tamboril e peixe-agulha, ou preprados com estas espécies, "uma das fontes mais relevantes de mercúrio, isto pode significar que estas espécies podem estar a ser consumidas com uma frequência maior do que a recomendável", acrescentou.
Esta preferência pode acontecer "eventualmente em detrimento do consumo de outros peixes, como por exemplo a cavala, a sardinha, a truta ou o salmão, cujo consumo não apresenta aqueles problemas e traz grandes benefícios para a saúde, pois contêm nutrientes que protegem de doenças como as cardiovasculares", salientou ainda Fátima Reis.
A exposição crónica a mercúrio está associada a danos no sistema nervoso central, rins e estômago, influencia o sistema imunitário, a tensão arterial e o batimento cardíaco, pode causar tremores, alterações de personalidade e diminuição na memória de curto prazo.
Para a investigadora, "seria de grande utilidade em termos de saúde pública que as pessoas pudessem ter acesso aos resultados da monitorização do pescado relativamente aos teores em poluentes como o mercúrio, para poderem fazer as suas opções alimentares de forma fundamentada".
Também na medição dos níveis de cotinina nas crianças, relacionada com o contacto com o fumo de tabaco, Portugal regista valores acima da média, enquanto nos restantes químicos, como o cádmio, absorvido nos alimentos e através do pó, e os ftalatos, igualmente presentes nos produtos alimentares, assim como nos cosméticos, registam-se valores abaixo da média.
Lusa
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