Quase dois anos desde o diagnóstico do primeiro caso de COVID-19 em Portugal, esta continua a ser uma doença desafiante para a comunidade científica.
Após a exposição ao vírus, o período de incubação desta doença (COVID-19) é de cerca de 4 a 5 dias. A Organização Mundial de Saúde (OMS) relatou que a maioria dos casos positivos de COVID-19 (cerca de 80-85%) se manifesta clinicamente como uma forma leve ou assintomática, semelhante à gripe sazonal, com resolução em cerca de duas semanas sem complicações. Os sintomas mais comuns incluem febre, dor de garganta, tosse, dor de cabeça, dores musculares ou articulares, perda de paladar ou olfato e diarreia.
Outras manifestações
Em 10 a 15% dos casos, esta doença tem manifestações graves, por vezes com insuficiência respiratória e necessidade de ventilação mecânica invasiva.
Nestes casos estão bem documentadas sequelas pulmonares, tais como fibrose, no entanto, há doentes assintomáticos na fase aguda da doença, que também desenvolvem sintomas a longo prazo.
Muito embora a maioria dos doentes recupere completamente em 3-4 semanas, nalguns casos os sintomas persistem ou são recorrentes mantendo-se mesmo semanas ou meses após a recuperação do COVID-19.
A essas sequelas de longa duração do COVID-19 durante uma fase pós-recuperação, vários autores referem-se como “Long-COVID”, “efeitos de longo prazo do COVID-19”, “sintomas persistentes do COVID-19” ou “síndrome pós-COVID-19”. Mais recentemente o termo Long-COVID foi reconhecido pela comunidade científica, sendo amplamente utilizado em múltiplas publicações.
O que é o Long-COVID?
Definiu-se esta entidade, a Long-COVID, como uma condição caracterizada por manifestações clínicas multissistémicas, do foro respiratório, cardiovascular, neurológico, gastrointestinal, renal e/ou músculo-esquelético, que surgem habitualmente na fase aguda da infeção ou imediatamente depois, não são explicáveis por um diagnóstico alternativo e persistem além das quatro semanas de doença.
Alguns estudos caracterizam esta entidade de acordo com a duração dos sintomas: A "COVID pós-aguda", que inclui os casos em que os sintomas persistem de 4 a 12 semanas após a infeção aguda, e a “COVID crónica” na qual os sintomas se prolongam por mais de 12 semanas.
Não foi demonstrada uma correlação direta entre a gravidade clínica da doença aguda e o risco de long-COVID.
Atendendo a que cerca de 10 a 30% dos casos de COVID-19 evoluem para Long-Covid, é fácil perceber o impacto que esta entidade tem e terá no dia-a-dia dos doentes afetados, nos custos para a saúde e no absentismo prolongado. A long-Covid carece de investigação, caracterização e tratamento multidisciplinar abrangente.
Uma das principais tarefas que teremos é a de identificar corretamente estas sequelas.
Quais os sintomas?
Os sintomas mais prevalentes nos casos de Long-Covid incluem fadiga persistente e dificuldade respiratória (dispneia) em quase todos os estudos efetuados nestes doentes. Outros sintomas comuns incluem: tosse, dor nas articulações, dor ou aperto no peito, dor de cabeça, perda de olfato/paladar, dor de garganta, diarreia, perda de memória, depressão, ansiedade. Além disso, alguns sintomas menos frequência foram insónia, palpitações, anorexia, erupções cutâneas e queda de cabelo.
As manifestações extrapulmonares incluem assim complicações cardiovasculares, manifestações neurológicas, perturbações da saúde mental e manifestações renais.
Após infeção aguda por SARS-CoV-2, até cerca de 20% dos doentes, nalguns estudos, apresentam complicações cardiopulmonares como miocardite, pericardite, enfarte agudo do miocárdio, disritmias ou eventos trombo-embólicos.
Estudos realizados nestes doentes recomendam que o exercício cardiovascular intenso deve ser evitado por três meses após a miocardite/pericardite. No caso de atletas, este período deverá ir de três a seis meses, mediante avaliação e seguimento adequado.
Deve ser dada particular importância à reação individual à pandemia, com enfoque na saúde mental do doente e possíveis queixas relacionadas com ansiedade, stress, alterações nas rotinas, isolamento e solidão.
Necessária avaliação clínica adequada
Devido à persistência da pandemia, com novas vagas e variantes do vírus SARS-CoV-2, o Long-COVID é um problema de saúde cada vez mais relevante e prevalente em todo o mundo.
Uma investigação detalhada sobre a compreensão de todos os aspetos relacionados às consequências a longo prazo do COVID-19 é, portanto, importante.
Até à data, médicos e investigadores centraram a sua atenção na fase ativa em curso da doença. Mas impõe-se uma monitorização destes doentes, mesmo após a recuperação e alta.
É necessária uma avaliação clínica adequada após a COVID 19, para identificar sintomas, diagnosticar e tratar as complicações da doença.
Para contribuir não só para a melhoria da qualidade de vida destes doentes, mas também para permitir um regresso à vida ativa em segurança, a clínica Fisiogaspar criou a consulta de check-up pós-Covid-19.
É fundamental que todos os que contraíram a doença, incluindo os que tiveram sintomas moderados a ligeiros, façam um check-up. Torna-se importante a vigilância do aparecimento de novos sintomas, de sintomas persistentes ou de agravamento progressivo, sobretudo nos doentes que sofrem de doenças crónicas.
Um artigo da médica Eduarda Comenda, especialista em Medicina Interna, na Clínica Fisiogaspar.
Comentários