Em declarações à agência Lusa, o diretor do Serviço de Gastrenterologia do IPO-Porto, Mário Dinis Ribeiro, afirmou que o cancro digestivo está "sempre associado a melhores sobrevivências quanto mais precoce é o diagnóstico".
"Temos procurado, ao longo dos anos, aumentar a adesão das populações ao diagnóstico através de ações de educação", destacou Mário Dinis Ribeiro, notando que um dos projetos aprovados pela União Europeia, intitulado ONCOSCREEN, visa desenvolver "novos métodos e novas tecnologias" para o rastreio e deteção precoce do cancro colorretal.
"O que se procura é a otimização do rastreio colorretal", esclareceu o médico.
Financiado pelo programa Horizonte Europa, o projeto, que arrancou no inicio do ano e termina em 2026, junta 38 organizações de 15 países europeus, sendo coordenado pelo EXUS AI Labs (Grécia).
A par do cancro retal, o grupo de investigação do IPO do Porto tem "dedicado imensa atenção" ao cancro gástrico, tendo obtido financiamento europeu para, em dois projetos diferentes, "otimizar o diagnóstico precoce".
Um dos projetos, intitulado AIDA e financiado em mais de sete milhões de euros, visa desenvolver "um assistente de diagnóstico" para ajudar a detetar lesões que, normalmente antecedem o aparecimento de cancro gástrico.
Nos próximos quatro anos, os investigadores vão recorrer à inteligência artificial para "ajudar os clínicos a diagnosticar inflamações pré-cancerígenas", mas também fornecer acompanhamento médico personalizado, recomendar ações para monitorizar o estado de saúde dos doentes e selecionar o tratamento mais eficaz.
"Este projeto assenta no princípio de qualquer cidadão ter ao seu dispor uma plataforma eletrónica (uma aplicação) através da qual pudesse saber melhor o que fazer para que o seu risco [de desenvolver cancro gástrico] diminua", referiu Mário Dinis Ribeiro, esclarecendo que o projeto pretende também contribuir para a "individualização do diagnóstico precoce".
Já o projeto TOGAS tem como principal objetivo "informar a União Europeia e os decisores sobre qual a melhor metodologia para rastrear e prevenir o cancro gástrico na Europa".
No âmbito do projeto, que envolve 18 parceiros de 12 países europeus, vão ser realizados três estudos-piloto, sendo que cada um vai abordar "aspetos específicos da triagem e deteção precoce" deste tipo de cancro.
Um dos pilotos, explicou à Lusa Mário Dinis Ribeiro, vai tentar analisar a adesão da população aos rastreios, nomeadamente, através da oferta do rastreio ao cancro gástrico quando é, por exemplo, realizado o rastreio ao cancro do intestino.
"O objetivo é produzirmos evidência de que isto [oferta] pode ser eficaz e este piloto permitirá avaliar a exequibilidade, adesão e revisitar o custo-benefício", esclareceu.
O Centro de Investigação do IPO-Porto integra ainda o projeto ONCOVALUE que pretende, através de inteligência artificial, avaliar a eficácia de novas terapias em cancro, sendo que os resultados do projeto podem vir a "sustentar a implementação de novas terapias mais seguras, eficientes e personalizadas".
"Estes projetos vieram dar corpo a muitos anos de investigação, mas também ao reconhecimento do IPO como parceiro clínico. No total, os consórcios conseguiram reunir mais de 30 milhões de euros, sendo que desses, o IPO terá mais de dois milhões de euros para desenvolver o seu trabalho", acrescentou Mário Dinis Ribeiro.
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