Quais são os tipos de cancro digestivo e qual o mais prevalente em Portugal?
Os cancros digestivos são um grupo de neoplasias malignas que afetam o sistema digestivo, incluindo órgãos como o esófago, estômago, fígado, pâncreas, intestino, cólon e reto e ânus O cancro colorretal é o mais prevalente em Portugal, tanto em homens como em mulheres. Este tipo de cancro tem uma alta taxa de incidência no país, sendo um dos principais responsáveis pela mortalidade associada ao cancro.
Em Portugal, o cancro colorretal é o mais prevalente. Quantos casos são diagnosticados por ano?
Em Portugal, o cancro colorretal é, de facto, o mais prevalente, com cerca de 10.000 a 11.000 novos casos diagnosticados por ano. É a segunda causa de morte por cancro no país, tanto entre homens como entre mulheres.
Quais são os fatores de risco associados ao cancro colorretal?
Os fatores de risco associados ao cancro colorretal podem ser modificáveis (relacionados ao estilo de vida) ou não modificáveis (relacionados à genética ou idade). Os fatores de risco modificáveis incluem uma dieta pobre em fibras e rica em gorduras (uma alimentação rica em carnes vermelhas, carnes processadas e gorduras saturadas aumenta o risco, enquanto uma dieta rica em frutas, vegetais e fibras pode reduzir a probabilidade de desenvolver cancro colorretal), o sedentarismo, obesidade, tabagismo (os fumadores têm um risco aumentado de cancro colorretal, além de muitos outros tipos de cancro digestivo, como o do pâncreas, por exemplo) e o consumo excessivo e frequente de álcool.
Os fatores de risco não modificáveis são a idade (o risco de cancro colorretal aumenta significativamente após os 50 anos) uma história pessoal de pólipos colorretais ou cancro, história familiar de cancro colorretal (ter parentes de primeiro grau com cancro colorretal aumenta o risco, especialmente se o diagnóstico tiver sido feito antes dos 50 anos), doenças inflamatórias intestinais (como colite ulcerosa ou doença de Crohn), síndromes hereditárias (como a polipose adenomatosa familiar e a síndrome de Lynch, que aumentam substancialmente o risco de cancro colorretal). Também as pessoas com diabetes, especialmente aquelas que necessitam de insulina, podem ter um risco mais elevado.
Como se pode prevenir?
A alimentação e os hábitos de vida têm um papel muito importante na prevenção desta doença. Aumentar a ingestão de fibras, reduzir o consumo de gorduras saturadas e carnes vermelhas, poderá reduzir o risco de cancro colorretal. Alguns estudos sugerem que uma maior ingestão de cálcio (laticínios, vegetais de folhas verdes) e vitamina D pode ajudar a reduzir o risco. A manutenção de um peso saudável através de uma dieta equilibrada e exercício físico regular pode ajudar a reduzir o risco. Também, limitar o consumo de bebidas alcoólicas pode diminuir o risco, assim como deixar de fumar é uma medida eficaz de prevenção.
Se estas atitudes são importantes, não excluem a necessidade de fazer rastreios regulares.
Há algum exame/rastreio que se possa fazer para despistar/detetar?
A Colonoscopia é a principal forma de deteção precoce e prevenção, porque permite identificar e remover pólipos (pequenos tumores benignos) antes de se tornarem malignos. O rastreio é geralmente recomendado a partir dos 45 anos, ou mais cedo se houver história familiar ou sintomas suspeitos (alteração do transito intestinal, perda de sangue nas fezes, dor abdominal, emagrecimento).
Em Portugal, é implementada pelos Centros de Saúde a realização da pesquisa de sangue oculto nas fezes como medida de seleção de doentes assintomáticos e de risco médio para a colonoscopia. Este exame deteta a presença de pequenas quantidades de sangue nas fezes, um sinal precoce de cancro colorretal. Deve ser feito anualmente ou a cada dois anos, dependendo das recomendações médicas. As pessoas com doenças inflamatórias intestinais, como colite ulcerosa e doença de Crohn devem fazer acompanhamento médico regular e estar atentas a rastreios precoces. Quem tenha histórico de cancro colorretal ou pólipos na família, deve-o comunicar ao médico, que pode recomendar rastreios mais precoces e frequentes.
Como é que a Inteligência Artificial pode contribuir para um diagnóstico de cancro colorretal mais eficaz e atempado?
A Inteligência Artificial (IA) tem mostrado potencial para melhorar o diagnóstico do cancro colorretal de forma mais eficaz e atempada. o do cancro colorretal. Um exemplo é a Colonoscopia Assistida por IA, especialmente a que baseia em algoritmos de aprendizagem profunda (“deep learning”), que pode ser usada para ajudar na detecção de pólipos durante a colonoscopia ou na análise de colonoscopia por cápsula endoscópica. Existem outros campos em que IA pode ajudar como a sua utilização pelos histopatologistas na análise de biopsias e de pólipos, até à decisão clínica, podendo, pela análise de grandes volumes de dados clínicos ajudar os médicos a estratificar os pacientes de acordo com o risco.
A colonoscopia assistida por IA apresenta resultados promissores na deteção de pólipos. Quais são as principais vantagens desta tecnologia no contexto do rastreio do cancro colorretal?
As tecnologias de IA podem analisar imagens em tempo real e ajudar os médicos a identificar pequenos pólipos que podem ser difíceis de detetar a olho nu. De facto, os sistemas de IA para apoio à colonoscopia têm mostrado maior sensibilidade na deteção de pólipos e na sua caracterização. Isso pode reduzir a possibilidade de erros humanos e melhorar a precisão do diagnóstico. Deste modo, a IA pode reduzir os falsos negativos, ajudando a garantir que nenhum pólipo seja perdido durante o exame, o que é essencial para prevenir a progressão para cancro. Devemos, desde já, salientar que a IA não obvia de modo nenhum a necessidade de a colonoscopia ser realizada com o máximo de qualidade, o que passa por diversos fatores, como uma limpeza adequada do cólon e uma observação minuciosa no decorrer do procedimento.
Como imagina o futuro do combate ao cancro digestivo, considerando os avanços na prevenção, diagnóstico e tratamento?
O futuro do combate ao cancro digestivo, considerando os avanços na prevenção, diagnóstico e tratamento, promete ser revolucionário, com um impacto profundo na forma como essas doenças serão geridas. O futuro da prevenção será cada vez mais personalizado, com análises genéticas a desempenharem um papel central. Através da IA e de grandes bases de dados, será possível criar perfis de risco detalhados para cada indivíduo, permitindo programas de rastreio adaptados ao perfil genético, histórico familiar e estilo de vida. Em vez de uma abordagem "tamanho único", os rastreios serão direcionados para quem mais precisa e no momento certo. Com o sucesso das vacinas no combate ao cancro do colo do útero e do ânus(por meio da vacina contra o HPV), é possível que novas vacinas possam ser desenvolvidas contra infeções associadas a certos tipos de cancro digestivo, como a infeção por Helicobacter pylori no caso do cancro gástrico. Também se poderá caminhar para um diagnóstico mais preciso e não Invasivo.
No caso do Cancro colorretal, já é possível realizar colonoscopia por métodos não invasivos, como a cápsula endoscópica. A eficácia deste método é limitada pelo elevado tempo que é necessário para a sua análise. A IA poderá ajudar a resolver este problema, encurtando significativamente a leitura e aumentando a sua precisão. Também se perspetivam novos métodos no rastreio, como a biopsia líquida, que deteta fragmentos de ADN tumoral no sangue, ou novos métodos de deteção de ADN em fezes. Também no tratamento existirão grandes avanços, como o desenvolvimento das terapias-alvo, que atacam mutações genéticas específicas nas células tumorais. A imunoterapia, que estimula o sistema imunitário a atacar o cancro, terá um papel crescente. Também se registam avanços no desenvolvimento de terapias genéticas e celulares. O desenvolvimento da cirurgia robótica vai continuar a evoluir, permitindo intervenções minimamente invasivas e com maior precisão.
A nanotecnologia poderá ser usada para entregar medicamentos diretamente nas células cancerígenas, minimizando os danos aos tecidos saudáveis. Novas técnicas de radioterapia, como a radioterapia de protões ou fotões, permitirão um tratamento muito mais focalizado no tumor, preservando tecidos saudáveis e reduzindo efeitos colaterais. Com essas e outras inovações, espera-se um aumento significativo das taxas de sobrevivência e uma melhor qualidade de vida para os pacientes, com tratamentos menos invasivos e mais precisos.
Estas doenças, que atualmente causam grande preocupação, poderão ser tratadas de forma mais proativa, com a deteção precoce a desempenhar um papel central na redução da mortalidade.
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