O Cancro Colorretal (CCR) é um tipo de cancro muito frequente, com um impacto significativo na saúde dos doentes. Este tipo de cancro inicia-se pelo aparecimento de pólipos, que são alterações causadas pelo desenvolvimento anómalo de tecido no intestino grosso que com o tempo crescem e se transformam em cancro. A maioria dos pólipos não são malignos nos primeiros anos e qualquer pessoa pode desenvolver estas lesões.
Há vários fatores conhecidos que alteram o risco de desenvolvimento de cancro colorretal, sendo que ainda não se conhecem todas as causas desta doença. Há fatores de risco que não se conseguem modificar, como a idade (sobretudo mais de 50 anos), síndromes genéticas ou o histórico familiar de cancro. No entanto, são conhecidos outros fatores de risco importantes e que se podem alterar. Evitar o tabaco, moderar o consumo de álcool, manter-se fisicamente ativo, adotar uma dieta rica em fibras e pobre em carnes vermelhas e processadas, são medidas que podem reduzir esse risco.
A realização de exames de rastreio (ou seja, na pessoa sem sintomas) é importante para prevenir e detetar de forma precoce este tipo de cancro, sendo recomendado que se inicie a partir dos 50 anos de idade. Existem vários métodos para fazer rastreio do CCR: pesquisa de sangue oculto nas fezes (PSOF), colonoscopia com ou sem anestesia, colonografia por tomografia computadorizada (TC), também conhecida como “colonoscopia virtual”, cápsula do cólon e pesquisa de DNA nas fezes (este último usado sobretudo em investigação). Os métodos mais recomendados são a pesquisa de sangue oculto nas fezes e a colonoscopia. A PSOF é mais simples de realizar, através de uma amostra de fezes recolhida no domicílio e entregue no laboratório. É um método não invasivo e permite detetar muitos casos de CCR (sensibilidade de 80%), sendo menos eficaz em detetar pólipos. Após uma PSOF positiva, há indicação para fazer colonoscopia que permitirá identificar (ou excluir) alguma alteração.
A colonoscopia é o método mais eficaz para identificar pólipos e casos de cancro (sensibilidade superior a 85%). A colonoscopia permite a observação direta de algum problema, mas também a remoção de pólipos e recolha de pequenos fragmentos de tecido para análise (biópsias). Apesar de ser o método mais eficaz, pode ter algumas complicações, sendo considerado um método invasivo. A colonografia por TC ou cápsula do cólon são menos utilizados como primeiro exame de rastreio e estão menos acessíveis. São usadas habitualmente em caso de colonoscopia incompleta ou por preferência do paciente em fazer um exame menos invasivo. Ambos necessitam também de preparação intestinal e, em caso de ser identificada alguma alteração, será necessário realizar, posteriormente, uma colonoscopia para remover lesões ou esclarecer dúvidas.
O rastreio pode permitir a deteção e remoção de pólipos antes de se tornarem malignos, além de diagnosticar precocemente casos de cancro, aumentando as hipóteses do tratamento ser bem sucedido. Há contextos específicos nos quais pode estar indicado fazer rastreio mais cedo. Por exemplo, se tiver histórico familiar de CCR e/ou pólipos mais avançados, a idade de início de rastreio poderá ser aos 40 anos ou 10 anos antes do caso mais jovem na família. Há outros casos ainda mais específicos, como doentes com doença inflamatória intestinal, doenças genéticas, entre outras, em que os pacientes devem ser aconselhados pelo especialista que os acompanha. Em breve, a idade de início poderá ser antecipada para os 45 anos.
Muitas vezes a presença de um cancro colorretal pode causar sintomas muito ligeiros ou até mesmo não causar sintomas numa fase inicial, o que realça a importância do rastreio (ou seja, fazer um exame sem ter queixas). Os sintomas de Cancro Colorretal podem ser ligeiros, mas a perda de sangue nas fezes, perda de peso não intencional, dor abdominal e alterações persistentes nos hábitos intestinais devem ser avaliados e investigados por um médico.
Em conclusão, a prevenção do Cancro Colorretal envolve uma combinação de mudanças no estilo de vida e na realização de rastreio no momento adequado a cada doente. Com a prevenção e deteção precoce é possível reduzir significativamente o impacto desta doença.
Um artigo de opinião de Eugénia Cancela, médica gastrenterologista e Membro da Sociedade Portuguesa de Endoscopia Digestiva (SPED).
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