15 de janeiro de 2014 - 12h12
O investigador da Universidade de Vila Real João Santos prevê um aumento de extremos climáticos nas próximas décadas em Portugal e na Europa, com uma maior frequência de ondas de calor, vagas de frio, secas e cheias.
“As estações do ano estão cada vez mais extremadas e a perder a sua tipicidade. No caso específico de Portugal, registamos que, se por um lado parecem estar cada vez mais secas, por outro, tem aumentado a frequência de episódios de precipitação intensa”, afirmou hoje o especialista na área das alterações climáticas.
João Santos é investigador do Centro de Investigação e Tecnologias Agroambientais e Biológicas (CITAB), da Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro (UTAD).
O especialista suporta as suas conclusões nos vários estudos que tem desenvolvido na área.
Um dos estudos em causa traça o futuro do clima entre 2041 e 2070, período em que são esperados mais extremos de precipitação e de temperatura em Portugal.
“O verão vai passar a ter temperaturas muito mais elevadas. O aumento da temperatura máxima no interior do país será o ponto mais crítico,” considerou João Santos.
Outro dos estudos em que o investigador participou, e que analisou todos os invernos em Portugal e na Europa desde 1870, aponta para níveis de precipitação e de secura anormais.
“Em quase 150 anos, verificámos níveis de precipitação inédita em território nacional no inverno de 2009/2010, e de secura extrema no inverno de 2011/2012”.
Segundo João Santos, “trata-se de dois anos perfeitamente antagónicos e excecionais”, até pela "proximidade temporal”.
“Estamos, portanto, a assistir a uma mudança cada vez mais evidente nos padrões meteorológicos”, afirmou.

Para o especialista, os efeitos destas alterações traduzem-se em inúmeros impactos socioeconómicos, atingindo a saúde humana e animal, a agricultura ou a produção de energia.
“O próprio frio extremo pode ser uma manifestação das alterações climáticas”, frisou.
Índices como a precipitação, a temperatura, os padrões do vento no Atlântico Norte e na Europa, (nomeadamente a corrente de jato – ventos de oeste em altitude e que determinam o estado do tempo à superfície), são incluídos no trabalho realizado conjuntamente com investigadores das universidades de Reading e de Oxford (Reino Unido).
“O comportamento da corrente de jato está a tornar-se mais irregular e isso vai determinar que ocorram mais extremos de temperatura e de precipitação”, afirmou João Santos.
O ano de 2013 é também apontado como modelo do extremismo que o estado do tempo está a atingir, com cada vez mais frequência.
Por exemplo, em alguns locais do país, o mês de março foi o mais chuvoso desde que há registos climatéricos (início do século XX), com quatro vezes mais precipitação do que os níveis normais para esse período.
No extremo oposto, o mês de novembro foi o mais seco dos últimos 80 anos, com uma quase total ausência de chuva.
Um outro episódio raro, segundo João Santos, foi registado na cidade de Vila Real, a 24 de dezembro, quando as estações meteorológicas contabilizaram um valor próximo de 100 milímetros de precipitação, ou seja, mais de metade da média do mês inteiro.
“Ao fazermos uma média do estado do tempo de vários anos, calculando as médias de temperatura e precipitação, até poderemos, aparentemente, interpretar as condições meteorológicas como normais mas, na verdade, as médias podem mascarar uma maior frequência de extremos climáticos, tais como ondas de calor e vagas de frio, secas e cheias”, concluiu.
Lusa