A parceria entre o Instituto de Patologia e Imunologia Molecular da Universidade do Porto (Ipatimup) e o grupo de Engenharia Biomédica da Universidade de Valladolid, em Espanha, surgiu há quase dois anos no âmbito do AD-EEGWA, projeto que integra o Programa de Cooperação INTERREG V-A Espanha-Portugal (POCTEP).
Iniciado em junho de 2017, o projeto é financiado em 543.404,47 euros pelo Fundo de Desenvolvimento Regional e por duas entidades que fazem também parte deste consórcio ibérico, a AFA-ZAMORA (Associação de Familiares e Amigos de Doentes de Alzheimer e outras doenças) e a Alzheimer Portugal.
Com o intuito de desenvolver um ‘software’ que relacione os genes associados à doença de Alzheimer com os padrões da atividade cerebral, os investigadores estão neste momento a criar uma “base de dados” de 250 doentes do Norte de Portugal e da província espanhola de Castela e Leão - 150 com Alzheimer em fase inicial, moderada e severa, 50 com défice cognitivo ligeiro e 50 controlos (cidadãos idosos sem Alzheimer ou défices cognitivos).
“Aquilo que pretendemos é contribuir com a nossa amostra para consórcios maiores, porque a doença de Alzheimer é uma doença muito complexa, mesmo em termos genéticos. É uma doença muito difícil de fazer esta associação”, disse, em entrevista à agência Lusa, Nádia Pinto, a responsável pelo AD-EEGWA.
Uma das vertentes do projeto, desenvolvida pelos investigadores portugueses, assenta na recolha e análise de amostras genéticas da mucosa bucal, através da saliva dos doentes.
Apesar de os resultados genéticos ainda não estarem concluídos, Nádia Pinto adiantou que o grupo vai, posteriormente, compará-los com “marcadores genéticos” já associados aos diferentes estádios do Alzheimer e com os resultados das 50 pessoas que fazem parte da amostra e que não desenvolveram a doença (controlos).
"Analisamos alguns marcadores genéticos, alguns já associados à doença de Alzheimer, e depois vemos se há alguma diferença naquelas pessoas relativamente à população em geral. Portanto, se há alguma informação diferente, se há frequências diferentes desses genes naquela população e na população em geral de forma a haver uma associação da doença a alguns daqueles marcadores", frisou.
Contactado pela Lusa, Carlos Gómez, responsável pelo grupo de Engenharia Biomédica da Universidade de Valladolid, acredita que esta combinação entre a informação cerebral com a genética pode ajudar a diagnosticar “o mais cedo possível” a patologia.
"Nesta área, temos inúmeros artigos científicos publicados e a ideia agora é, quando o projeto estiver na sua fase final, combinar esses estudos que temos sobre a atividade elétrica cerebral com os da genética e ver se podemos melhorar a precisão no diagnóstico do Alzheimer", afirmou.
O investigador adiantou ainda que a análise dos encefalogramas (EEG) dos 250 pacientes tem permitido "observar as mudanças concretas que se produzem no cérebro".
"O que vimos até agora é que, fundamentalmente, se produzem mudanças que são mais acusadas numa fase avançada da doença e estas mudanças podem ser alterações da complexidade das análises e alterações no espetro", explicou.
À Lusa, os dois investigadores admitiram que o projeto, que termina no final deste ano, abre “novas portas” e que vão, por isso, continuar a colaborar com o propósito de “ajudar no diagnóstico” do Alzheimer e de outras doenças neurodegenerativas.
"O consórcio funciona muito bem. É multidisciplinar, temos pessoas de áreas diferentes e queremos ver se conseguimos continuar nisto, quer aumentando a amostra, quer fazendo outro tipo de análise com os pacientes que temos", frisou Nádia Pinto.
Também Carlos Gómez sublinhou a relação "positiva" com todos os membros deste consórcio ibérico, adiantando que “a ideia é num futuro muito próximo continuar a colaborar noutros projetos".
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