As demências hereditárias são um grupo de doenças neurodegenerativas caracterizadas pela perda progressiva das funções cognitivas e que podem ser causadas por fatores genéticos. Embora nem todas as formas de demência tenham um componente hereditário, algumas são diretamente ligadas a mutações genéticas herdadas.

As demências têm uma parte do risco determinado pelos genes (DNA do portador/paciente) e outra parte pelo estilo de vida (alimentação, exercício físico, entre outros). Estes fatores diferem muito de doença para doença. Para os portadores destes genes, bem como para os descendentes, como filhos e netos, é fundamental perceber se a tendência genética pode ser equilibrada com alterações no estilo de vida.

A progressão da investigação na área da Genética tem contribuído para a identificação de diversas variantes de genes associados ao risco de desenvolver Demência.

Demência fronto-temporal hereditária (DFT)

A demência fronto-temporal afeta principalmente as regiões do cérebro associadas ao comportamento e linguagem, levando a alterações no humor, personalidade e capacidades de comunicação. Cerca de 40% dos casos têm um componente hereditário. Mutações nos genes MAPT, GRN, e C9orf72 estão frequentemente implicadas. A transmissão é autossómica dominante ou seja, uma cópia do gene alterado já é suficiente para a pessoa desenvolver a doença.

Doença de Alzheimer Familiar (DAF)

É uma forma rara de Alzheimer que se manifesta precocemente (antes dos 65 anos) e é causada por mutações genéticas herdadas.  As mutações mais associadas estão nos genes APP, PSEN1 e PSEN2. Estas mutações são transmitidas de forma autossómica dominante.

Doença de Huntington

É uma doença neurodegenerativa hereditária caracterizada pela perda progressiva do controlo motor, além de alterações cognitivas e psiquiátricas. É causada por uma mutação no gene HTT. A doença é transmitida de forma autossómica dominante.

Ataxia Espino-cerebelosa (SCA)

A ataxia espino-cerebelosa compreende um grupo de doenças neurodegenerativas que afetam a coordenação motora, podendo também causar demência em alguns casos. Existem várias formas de SCA. Os genes associados variam, mas todas as formas são hereditárias.

Doença de Parkinson com Demência (DPD)

Embora a maioria dos casos de Parkinson não seja hereditária, existem formas familiares associadas à demência que envolvem mutações genéticas. Mutações nos genes LRRK2, SNCA e PARK7 estão associadas a formas hereditárias da doença de Parkinson, que também podem levar à demência.

Demência com Corpos de Lewy

É uma forma de demência que envolve a acumulação de proteínas anormais chamadas corpos de Lewy no cérebro. Embora a maioria dos casos seja esporádica, algumas formas hereditárias foram descritas. Mutações em genes como o SNCA têm sido associadas a casos hereditários de demência com corpos de Lewy.

CADASIL (Arteriopatia Cerebral Autossómica Dominante com Enfartes Subcorticais e Leucoencefalopatia)

Uma doença genética que afeta os vasos sanguíneos no cérebro, levando a múltiplos pequenos derrames que podem causar demência. É causada por mutações no gene NOTCH3, e tem transmissão autossómica dominante.

Fatores de Risco Genético em Demências Não Hereditárias

Além das formas hereditárias diretas, também existem fatores de risco genéticos que podem aumentar a predisposição para demências, como o gene APOE (alelo APOE-ε4) no Alzheimer esporádico. Embora não cause diretamente a doença, este alelo pode aumentar o risco de desenvolver doença de Alzheimer.

Diagnóstico Genético e Considerações Éticas

Para as demências hereditárias, os testes genéticos podem confirmar a presença de mutações específicas. No entanto, o diagnóstico e a escolha de testes a realizar pode ser difícil, pois algumas destas patologias, como a doença de Huntington, não têm cura.

Aconselhamento genético é altamente recomendado nesses casos.

Conclusão

As demências hereditárias representam uma pequena, mas significativa, parte dos casos de demência. O conhecimento sobre os genes envolvidos está em crescimento, permitindo diagnósticos mais precisos e, eventualmente no futuro, a possibilidade de terapias genéticas dirigidas.

Um artigo do médico Germano de Sousa, especialista em Patologia Clínica.