Arlindo Oliveira descreve em "The Digital Mind" como o cérebro humano e a inteligência artificial se têm vindo a entrelaçar de uma maneira que pode conduzir a cenários imprevisíveis para a espécie, desde logo pela criação de "pessoas digitais", máquinas capazes de pensar que se confundem com os seres humanos. "Não tenho dúvidas de que estamos a caminhar para lá de uma maneira ou de outra", disse o autor.

Desde logo, é impossível prever quando se poderá chegar a uma máquina que seja capaz de assegurar a sua própria evolução: "não é para amanhã nem daqui a cinco anos, não sei dizer se é daqui a 500 anos ou 50", reconheceu Arlindo Oliveira.

Mesmo sem saber quando acontecerá, é possível dizer que haverá primeiro um período de coexistência entre humanos e máquinas artificialmente inteligentes. "Se acontecer em 50 ou em 100 anos, vamos habituar-nos a essa ideia, como nos habituámos a conviver com os animais domesticados", de uma forma que poderá não ser pacífica, atendendo a cenários sociais que já se verificam hoje, como a xenofobia.

Como estas máquinas teriam "em princípio, um comportamento interior muito semelhante ou igual aos humanos", ser-lhe-iam "conferidos direitos", uma teoria jurídica que já hoje se discute.

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Uma "pessoa digital", ou uma inteligência dentro de uma máquina, poderia ser o último estádio de uma evolução cujo embrião já hoje se manifesta nos algoritmos que pesquisam os dados dos utilizadores de redes sociais para compilar tendências, gostos, opiniões e ambições. "Já são evidência muito clara que o comportamento de muitas pessoas é altamente previsível", apontou Arlindo Oliveira, o que, em última análise, pode levar à destruição da ideia de que cada pessoa é importante, tal como as suas escolhas.

Outro risco da evolução da inteligência artificial é que um sistema capaz de se tornar muito mais inteligente que um humano possa ser uma ameaça para a espécie.

Se se perguntasse a um computador de tal forma inteligente que fosse capaz de resolver o problema do aquecimento global, por exemplo, a resposta poderia ser "exterminar as pessoas", indo à raiz da questão. "Há muitas pessoas que acham que os riscos de sistemas inteligentes, que rapidamente se tornam muito mais inteligentes que os seres humanos, existe. Sistemas que estariam para o ser humano como nós para os cães ou macacos, em que somos vastamente superiores, controlamos o destino deles, sobrevivem só se nós quisermos", afirmou.

Arlindo Oliveira especula ainda que a criação de máquinas inteligentes capazes de produzir versões aperfeiçoadas de si próprias criaria uma "singularidade" em que a intervenção humana deixaria de ser precisa para a tecnologia evoluir. "Como isto criaria uma situação em que os humanos deixariam de ser a inteligência dominante na Terra, depois da singularidade tecnológica, a evolução da tecnologia e da sociedade tornar-se-ia completamente imprevisível", escreve o diretor do Instituto Superior Técnico.

Em "The Digital Mind", Arlindo Oliveira faz a história da evolução da inteligência artificial, do conhecimento do cérebro humano e das maneiras como computadores, células e cérebros são, na sua essência, instrumentos para processar informação.