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Venda de medicamentos em unidose nos hospitais dos Açores afetam as farmácias
31 de janeiro de 2014 - 10h31
O bastonário da Ordem dos Farmacêuticos e o delegado regional dos Açores alertaram na quinta-feira para as dificuldades financeiras das farmácias e laboratórios privados da região, criticando medidas dos governos central e regional.
Durante a cerimónia da sua tomada de posse, na quinta-feira à noite, em Angra do Heroísmo, o reeleito delegado regional da ordem, João Pedro Toste Freitas, apontou como principais culpados pela situação das farmácias e laboratórios as "sucessivas baixas no preço dos medicamentos", a "abertura de farmácias de venda de medicamentos em unidose nos hospitais da região" e a "internalização dos meios complementares de diagnóstico de terapêutica dos cuidados primários nos hospitais".
"As medidas que à partida douraram a promessa da poupança na fatura da saúde, cedo mostraram os efeitos ineficazes no seu objetivo maior: poupar", criticou, alegando que têm provocado a "destabilização do setor, dos operadores e das necessidades assistenciais ao utente".
Segundo o delegado regional da Ordem dos Farmacêuticos (OF), a redução do preço dos medicamentos e das margens têm provocado "falências" e "estados de insolvência" nas farmácias.
"O preço dos medicamentos baixou tanto, que o tratamento mensal de uma dislipidemia passou a custar, em Portugal, menos do que uma caixa de pastilhas elásticas, o que tornou a exportação de medicamentos uma prática aliciante, delapidando os 'stocks' nacionais, deixando os nossos doentes, quantas vezes, sem medicamentos essenciais às suas patologias", frisou.
De acordo com João Pedro Toste Freitas, a venda de medicamentos em unidose nos hospitais dos Açores tem contribuído também para os problemas financeiros das farmácias e ainda "somam a cada dia que passa avultados prejuízos".
Quanto à obrigatoriedade de os utentes pedirem análises nos laboratórios dos hospitais, alegou que "não trouxe qualquer benefício financeiro à região nem tão pouco aos utentes".
Segundo o representante dos farmacêuticos nos Açores, a medida foi tomada porque os laboratórios dos hospitais têm uma "capacidade instalada bastante superior às necessidades hospitalares", mas não representa uma mais-valia financeira.
"Não traduz poupança, não melhora a qualidade, não beneficia a população, antes pelo contrário", criticou, alegando que os laboratórios privados fizeram investimentos e agora não têm clientes, para além de terem visto o valor dos preços convencionados com o executivo açoriano reduzido para metade há dois anos.
O bastonário da OF, Carlos Maurício Barbosa, frisou ainda que os laboratórios receberam em janeiro de 2014 o pagamento referente ao período de abril e outubro de 2013.
"Não é possível uma microempresa, como é um laboratório de análises clínicas, manter-se quase um ano sem receber do seu principal cliente, que é o Serviço Regional de Saúde", salientou.
Por sua vez, o secretário regional da Saúde, Luís Cabral, defendeu que as farmácias e os laboratórios devem "refazer" o seu modelo de negócio, considerando que continuam a ser "rentáveis".
"Uma das alternativas será apostar numa qualidade diferenciada de serviços, apostar na convencionalização de alguns exames que não sejam possíveis fazer no Serviço Regional de Saúde e encontrarmos parcerias", frisou.
Carlos Maurício Barbosa propôs ainda que os farmacêuticos assumam funções ao nível dos cuidados primários de saúde, "no rastreio de indivíduos suspeitos de terem situações patológicas, que possam levar a complicações, designadamente no âmbito das doenças cardiovasculares, e também no acompanhamento de doentes crónicos".
Lusa
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