Ao longo da última década, a despesa com medicamentos em hospitais cresceu 3,5%. Este aumento justifica-se pelo aparecimento de medicamentos inovadores e dispendiosos, especialmente nas áreas da oncologia e imunologia. O aumento de preços pode, à primeira vista, ser explicado por dois fatores: assimetria de conhecimento e processo de desenvolvimento dos medicamentos.

A assimetria de conhecimento é explicada pela existência de vários stakeholders: a indústria farmacêutica, os prescritores, o Estado e os doentes. A indústria farmacêutica, principal fornecedor, possui mais informação que as Entidades Reguladoras e Prescritores. Os Prescritores, embora não sendo consumidores diretos, prescrevem os medicamentos. O Estado, por sua vez, é o pagador, não sendo utilizador direto. E, por fim, os doentes, que são os que têm menos conhecimento sobre os medicamentos. Além disso, na maioria dos casos, são os principais beneficiários, não sendo os pagadores principais. O facto de a indústria farmacêutica ser a parte mais informada, coloca os outros em desvantagem no acesso e na negociação dos preços dos medicamentos.

O custo de oportunidade é um fator especialmente presente em medicamentos inovadores para os quais não existe alternativa. A indústria farmacêutica, apesar de ter alguma obrigação moral e responsabilidade social, tem como objetivo o lucro. Desta forma, aproveita a oportunidade e aumenta o preço dos medicamentos de forma a recuperar o investimento, o mais rápido possível. O Estado, sem alternativas terapêuticas para negociar o preço do novo medicamento, vê-se obrigado a adquiri-lo ao preço fixado pela indústria.

Por fim, o processo de desenvolvimento dos medicamentos é um desafio em termos de inovação e sustentabilidade financeira. A inovação é o pilar essencial para o combate a novas doenças emergentes. Além disso, permite a adaptação às necessidades dos doentes, por exemplo, através da medicina personalizada. No entanto, o processo de investigação e desenvolvimento é extremamente dispendioso e inconstante. Dispendioso, pelo facto de chegarem ao mercado apenas 1/5000 das moléculas descobertas. Dessas, em média 25, chegam à fase dos ensaios clínicos, sendo metade do investimento num medicamento gasto neste tipo de ensaios. Contudo, devido à incerteza e irregularidade que pautam este meio, o facto de um medicamento ser aceite para ensaio clínico, não se traduz obrigatoriamente na sua entrada no mercado. Ou seja, pode ter-se investido milhares de euros com uma determinada molécula, para no fim, não se traduzir na sua comercialização. Desta forma, os medicamentos inovadores que são comercializados, são extremamente dispendiosos não só pelo processo de investigação associado, mas também pelos custos não recuperados de outros medicamentos que nunca chegaram a ser comercializados.

A sustentabilidade financeira é, também, uma preocupação constante e crescente. Como os recursos são escassos e limitados, o acesso a tratamentos essenciais pode ser limitado. Para isso, é necessária uma avaliação clara e concisa para demonstrar o valor acrescentado da terapêutica e que evidencie o benefício para o utente relativamente às alternativas já existentes. Assegurar que tudo o que é novo é inovador e ser crítico relativamente ao que vem de novo para o mercado.

Assim, é impreterível a existência de mecanismos de avaliação e monitorização de resultados em saúde dos medicamentos, com base em indicadores (redução de mortalidade, morbilidade, número e/ou dias de internamento), que evidenciem o custo efetividade de determinada molécula. É ainda necessária a existência de equipas multidisciplinares que atualizem os protocolos clínicos existentes e que contribuam para boas práticas de prescrição, com a finalidade de trazer valor acrescentado para o utente. Só assim é possível quantificar e evidenciar o valor real de cada fármaco e incentivar, dessa forma, a verdadeira inovação.

Seria ainda essencial a existência de centros de compra centralizados nacionais para este tipo de medicamentos, permitindo a sinalização de doentes similares que necessitam do mesmo medicamento e assim obter benefícios financeiros por parte da indústria farmacêutica.

Por fim, decisões inclusivas, com todos os interessados, potenciando a participação dos doentes no processo para efetivamente perceber se aquele medicamento se traduz num benefício claro para o mesmo. Isto permite uma melhor gestão do circuito do medicamento e possibilita o equilíbrio entre a promoção da inovação contínua, com benefícios claros para os doentes.