HealthNews (HN) – A PharmaMar é reconhecida pelo seu foco em compostos de origem marinha. Pode explicar os desafios e oportunidades únicos associados à obtenção de compostos bioativos de organismos marinhos, em comparação com fontes terrestres?

Carmen Cuevas (CC) – O foco da PharmaMar em compostos de origem marinha traz tanto desafios como oportunidades. Entre os desafios está a dificuldade de acesso aos organismos marinhos e a complexidade das suas estruturas químicas. As oportunidades residem nos compostos únicos e inovadores que estes organismos produzem, podendo conduzir a tratamentos inovadores, especialmente para doenças resistentes às terapias atuais. A rica biodiversidade da vida marinha oferece um grande potencial para a descoberta de novos medicamentos com efeitos farmacológicos poderosos.

Em resumo, embora existam desafios na obtenção de bioativos marinhos, o potencial para descobertas revolucionárias faz deste um campo promissor.

Fundo marinho

HN – Sendo líder no desenvolvimento de fármacos anticancerígenos de origem marinha, como o Yondelis, como aborda a PharmaMar a identificação e otimização de compostos com potencial terapêutico contra o cancro?

CC – A PharmaMar identifica e desenvolve compostos anticancerígenos a partir de organismos marinhos. O processo inclui a recolha de invertebrados marinhos para extrair substâncias bioativas, a testagem dos extratos para atividade anticancerígena através de ensaios biológicos e o estudo do mecanismo de ação para identificar como os compostos promissores afetam as células cancerígenas a nível molecular.

Para reduzir a dependência de fontes naturais, desenvolvemos processos de síntese química que nos permitem produzir os compostos em quantidades suficientes para investigação contínua. Em paralelo, lançamos programas de química medicinal para criar análogos do composto original, com o objetivo de identificar os candidatos mais promissores para ensaios pré-clínicos e clínicos.

HN – A passagem da investigação pré-clínica para os ensaios clínicos é frequentemente complexa. Que estratégias ou inovações implementou a PharmaMar para agilizar este processo, particularmente para fármacos de origem marinha?

CC – A PharmaMar implementou várias estratégias para agilizar a transição da investigação pré-clínica para os ensaios clínicos. Estas incluem a integração precoce de equipas multidisciplinares – combinando biologia marinha, biologia celular, química e oncologia – para acelerar a tomada de decisões. Adicionalmente, a empresa desenvolve processos de síntese escaláveis desde cedo para garantir a disponibilidade dos compostos. Plataformas avançadas de triagem e perfis moleculares aprofundados ajudam a identificar mais rapidamente os candidatos mais promissores.

A colaboração estreita com entidades reguladoras e parceiros clínicos permite também à PharmaMar desenhar ensaios mais eficientes e direcionados para cancros com grandes necessidades não satisfeitas.

HN – A PharmaMar colabora com instituições como o CNIO em projetos como o microMETonChip. Como é que estas parcerias potenciam o processo de descoberta de medicamentos e que papel desempenham na resposta a desafios críticos como a metástase?

CC – A colaboração da PharmaMar com o CNIO no projeto microMETonChip desempenha um papel fundamental no avanço da descoberta de medicamentos, em particular na resposta ao complexo desafio da metástase. Este projeto utiliza tecnologia organ-on-chip para recriar o microambiente tumoral e simular o processo metastático num ambiente controlado e dinâmico. Ao imitar a forma como as células cancerígenas se espalham para órgãos distantes, o microMETonChip permite testar candidatos a fármacos de forma mais precisa e compreender melhor como interagem com células metastáticas. Esta inovação não só acelera a identificação de compostos eficazes, como também ajuda a PharmaMar a desenhar terapias mais direcionadas para prevenir ou tratar a doença metastática.

HN – Dada a dependência da biodiversidade marinha para a descoberta de medicamentos, como garante a PharmaMar a sustentabilidade das suas práticas de investigação, mantendo o acesso a estes recursos valiosos?

CC – A PharmaMar promove a sustentabilidade nas suas práticas de investigação ao cumprir rigorosas diretrizes ambientais e acordos internacionais, incluindo o Protocolo de Nagoya e a Convenção sobre Diversidade Biológica. A empresa garante a proteção da biodiversidade e a preservação dos ecossistemas. A PharmaMar implementa práticas de recolha sustentáveis e desenvolve processos de síntese química escaláveis para reduzir a dependência de fontes naturais, permitindo a produção contínua de compostos sem impactar ainda mais os ambientes marinhos. Este forte compromisso com a sustentabilidade impulsiona a inovação responsável e posiciona a PharmaMar como líder na proteção da biodiversidade marinha enquanto avança na descoberta de medicamentos inovadores.

HN – Olhando para o futuro, que avanços ou tendências antecipa na área dos fármacos de origem marinha e como se está a posicionar a PharmaMar para se manter na vanguarda desta inovação?

CC – Olhando para o futuro, os fármacos de origem marinha estão a entrar numa nova fase entusiasmante, graças a tecnologias como a inteligência artificial, novas ferramentas de edição genética e modelos laboratoriais avançados que imitam o crescimento e disseminação dos tumores. Estas inovações tornam mais rápido e preciso o processo de descoberta e teste de novos candidatos a medicamentos. A PharmaMar está preparada para este novo capítulo – apoiando-se em anos de experiência em ciência marinha e adotando estas novas ferramentas. Ao reforçar parcerias, atualizar as nossas plataformas de investigação e focar-nos em cancros de difícil tratamento, trabalhamos para nos manter na vanguarda da inovação a partir do mar.

Entrevista MMM