O termo Fake News foi popularizado pelo Presidente norte-americano Donald Trump, mas notícias falsas sempre existiram. A única diferença são os mecanismos de propagação, que são hoje mais sofisticados e rápidos.
Adolph Hitler chegou ao poder na Alemanha através de mecanismos de propaganda política que difundiram notícias falsas sobre os judeus. A ideologia nazi fez crer que a população da religião judaica pretendia conquistar o mundo. Ao disseminarem a mentira através de publicações disfarçadas de notícia, foi perniciosamente fácil manipular a opinião pública e eleger um nazi que mais não quis senão expropriar, explorar e depois exterminar um povo.
As Fake News não são produto do trabalho jornalístico, embora haja quem tenha interesse em teimar que erros do trabalho jornalístico e notícias falsificadas são a mesma coisa. As notícias falsificadas têm na sua base interesses políticos, económicos, ideológicos e psicossociais que vão muito além do erro jornalístico. As Fake News não são baseadas em fontes credíveis e na maioria das vezes nem se sabe quem as escreveu. Voltando ao erro jornalístico, sim, ele existe e deve de ser denunciado, mas não é o mesmo que Fake News. São batalhas diferentes numa mesma guerra: a luta contra a desinformação.
Generalizar será dizer que os jornalistas são todos uns burros, como alguém já o disse. E generalizar será dizer que no The Sun todos os jornalistas são maus e que no The Guardian todos os jornalistas são bons. Basta mencionar o recente caso do jornalista alemão Claas Relotius, um dos mais premiados repórteres da Alemanha, que foi afastado da conceituada revista Der Spiegel sob a acusação de múltiplos crimes associados à invenção de histórias e caracteres ficcionais nas suas reportagens, que, aliás, ele próprio admitiu ter construído. Maus profissionais existem em todo o lado e em todas as profissões e devem ser sancionados por isso.
As redes sociais como o Facebook têm-se desdobrado em intenções para aumentar mecanismos de regulação na Internet como se as Fake News fossem de agora. A Comissão Europeia fez aprovar um Código de Conduta e um Plano de Ação Contra a Desinformação para combater as Fake News. O PS aprovou, com a abstenção do PSD e o voto contra do PCP, uma recomendação ao Governo para que adote esse plano. CDS e BE também votaram a favor. Mas até que ponto será garantida a liberdade de imprensa nesse combate à desinformação? Falo em liberdade e não em libertinagem. O Ministério da Saúde do Brasil - ainda na era de Michel Temer - teve a brilhante ideia de criar uma conta de Whatsapp para a qual qualquer cidadão pode enviar publicações informativas sobre saúde que considere duvidosas. O governo brasileiro responde na mesma plataforma ao atribuir uma chancela de aprovação ou negação. Não será preciso dizer que qualquer notícia que não agrade o Executivo em Brasília poderá ser selada como falsa só para adestrar os eleitores.
A solução está em aumentar a literacia, tal como aquele sábio provérbio diz: “não se deve dar o peixe, mas ensinar a pescar”. É preciso aumentar o sentido crítico e começar desde cedo nas escolas. Hoje em dia leem-se em manuais infantis exercícios em que as crianças são convidadas a escrever que no tempo da mãe se pesquisava em enciclopédias e que hoje em dia se lê notícias na Internet. Errado. Hoje em dia não se leem notícias na internet, hoje em dia leem-se notícias no jornal online do Público, no site do SAPO ou na página do El País. Não há notícias na Internet. Isso é fomentar a ideia de que as notícias podem ser lidas em qualquer lado, o que não é verdadeiro. Difundir essa falsa percepção na infância só agrava o risco de confusão entre o que é um artigo noticioso, uma opinião ou um texto cuja origem é totalmente desconhecida.
Dados do Eurobarómetro divulgados este ano indicam que 48% dos portugueses não sabem distinguir entre notícias e Fake News. Talvez por isso movimentos como o da Antivacinação ganhem força à escala mundial. Em 1998, um estudo altamente manipulado, com dados falsificados de 12 crianças, correu mundo alegando que a vacina tríplice viral (VASPR) provocava autismo. A mesma investigação foi retirada pela revista The Lancet em 2010. Entretanto centenas de outros estudos foram já publicados a atestar a qualidade, segurança e efetividade da VASPR. Ainda assim, continuam a circular informações falsas sobre a segurança da vacinação e do Plano Nacional de Vacinação.
A desinformação faz vítimas em Portugal e no estrangeiro. Só este ano, morreram 11 pessoas na Ucrânia e foram identificados 30 mil casos de infeção por sarampo o que provocou um novo alerta junto das autoridades europeias.
Não haja dúvidas, a aposta na educação é a vacina contra as notícias falsas.
O tema das Fake News em Saúde esteve em debate na 3ª edição da "Portugal eHealth Summit", em Lisboa, no dia 21 de março.
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