“Respeito profundamente o drama de quem sofre e não estou pronto para condenar ninguém pelas atitudes tomadas em consequência da dor, da falta de sentido, de condições e de esperança”, disse José Ornelas, no discurso de abertura da 199.ª Assembleia Plenária da CEP, que decorre até sábado em Fátima (distrito de Santarém), pela primeira vez maioritariamente em formato digital.
Para o também bispo de Setúbal, “aquilo de que essas pessoas precisam não é de mais condenação nem de estigmas”, considerando que “também não são soluções facilitadoras e legalizadas que ajudarão a criar uma sociedade mais humana”.
José Ornelas acrescentou que não encontra lógica no facto de se escolher este momento, a pandemia de covid-19, “para dizer aos que tocam no mais fundo da dor e do abandono ‘tem coragem, ajudamos-te a morrer; estamos a caminho de aprovar uma opção que aceita a tua eutanásia”, quando “tantos e com total dedicação se esforçam por dar razões e condições para ajudar a viver”.
“O que é preciso é acompanhar e oferecer condições e razões para viver”, defendeu o presidente da CEP, frisando que ao retomar-se “esta iniciativa precisamente neste momento e se tenha negado a discussão pública integrada num pronunciamento da vontade do povo, em assunto tão importante e fraturante”, não abona a democracia “nem a promoção de uma cidadania que se quer participativa e interventiva”.
A Assembleia da República “chumbou” em 23 de outubro um referendo sobre a morte medicamente assistida, ou eutanásia, apresentado através de uma iniciativa popular com mais de 95 mil assinaturas.
Com o “não” ao referendo, o processo legislativo da despenalização da morte medicamente assistida foi retomado, podendo ter votação final em dezembro.
Ainda sobre a pandemia de covid-19, um dos temas de que se ocuparão os bispos católicos portugueses na assembleia plenária, José Ornelas disse que esta crise “requer atitudes e medidas de caráter sanitário, social, económico, cultural e necessariamente espiritual”
“Precisamos urgentemente de vacinas e de tratamentos eficazes, mas não somos apenas organismos doentes do coronavírus. Somos pessoas que precisam de integrar o sofrimento, os esforços e os sacrifícios e a beleza dramática da solidariedade num sentido de viver e num caminho de futuro”, declarou, apelando: “Que não amanheçamos um dia apenas curados do vírus, mas exaustos e vazios da pandemia, e naturalmente sedentos de voltar sôfregos e saudosos ao que já era”.
Segundo o presidente da CEP, “tanto sacrifício, tanta luta e tanta vontade de ajudar e mesmo tantos erros e atitudes irresponsáveis não podem simplesmente ficar escritos nas páginas dum livro que se fecha e arquiva, ou numa página das redes sociais onde a memória recusa fazer um clique”.
Devem, antes, “desabrochar num mundo, numa sociedade, numa economia, numa Igreja mais solidários, mais atentos”, continuou.
“Temos de voltar a socializar, temos de voltar às nossas igrejas, mais humanos, mais fraternos, mais crentes”, pediu o bispo de Setúbal, que lembrou também o trabalho da Igreja Católica no país nos últimos meses, ao tomar “as medidas necessárias para evitar a expansão da pandemia”, e na assistência e atenção “às vítimas económicas, sociais e do isolamento”.
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