20 de maio de 2014 - 09h15
A Associação de Luta Contra o Cancro do Intestino – Europacolon contesta o tipo de rastreio à doença proposto pela Direção-Geral da Saúde, considerando-o ineficaz, inadequado e “enganador” para a população.
“O rastreio oportunístico proposto já existia e era ineficaz. Parece-nos redutor e enganador que se continue a deixar na dependência da boa vontade dos médicos dos cuidados de saúde primários o convite não organizado a que os doentes, que vão à consulta por outra razão, façam o rastreio”, defendeu em declarações à agência Lusa o presidente da Europacolon, Vítor Neves.
O responsável considerou como um “ato agressivo e criminoso”, “demasiado cruel”, que não se faça em Portugal um rastreio organizado de base populacional para o cancro do intestino, à semelhança dos tumores da mama ou do colo do útero.
Vítor Neves lembrou que o cancro do intestino mata em Portugal quase quatro mil pessoas por ano, ao mesmo tempo que surgem oito mil novos casos.
“Isto é os portugueses a continuarem enganados. Fala-se em rastreio, mas não é rastreio nenhum", disse o presidente da Europacolon, referindo-se a uma norma da Direção-Geral da Saúde publicada no final de março.
Para esta associação, que junta doentes e médicos, esta norma apenas reintroduz uma medida que já existe e que não está a funcionar.
“É uma mortalidade avassaladora, uma questão de saúde pública que está a ser insistentemente ignorada pelo ministro da Saúde. Em 2014 morrerem quase quatro mil pessoas por ano por uma doença que é rastreável, já chega, já chega”, refere o presidente Europacolon.
O que a associação defende é um rastreio organizado, em que os centros de saúde convocam especificamente os utentes numa determinada faixa etária para realizarem, anualmente, o exame ao sangue oculto nas fezes. Em caso positivo, esses doentes devem fazer colonoscopia de forma imediata.

Caso não seja possível avançar com rastreio de base populacional ao mesmo tempo a nível nacional, o investigador Manuel Sobrinho Simões, que pertence aos órgãos sociais da associação, defende que seja aplicado de forma faseada, segundo uma nota da Europacolon.
Também o médico Daniel Serrão, membro do conselho superior da Europacolon, sugere que avance, numa primeira fase, um rastreio-piloto na zona do Grande Porto, alargando progressivamente de norte para sul.
O presidente da Europacolon sublinha que criar um rastreio de base populacional não vai pesar no orçamento do país, até porque, ao detetar casos de cancro mais cedo, pode gerar-se uma “poupança de milhões” em tratamentos antecipados de doentes.
Isto não é um problema de dinheiro, é um problema de vontade política”, insistiu Vítor Neves, indicando que o preço de um exame de pesquisa de sangue oculto nas fezes é “irrisório”.
Por Lusa