Encorajadas pelo anúncio de 174 mortes em 24 horas no domingo, o menor número desde o início do confinamento, as autoridades italianas estão a preparar-se para suspender gradualmente as restrições a partir desta segunda-feira, uma medida esperada por todos, podendo assim reativar a economia.
A mesma tendência foi registada em outros países do continente, como França ou Espanha, onde foram registadas 135 e 164 mortes, respetivamente, nas últimas 24 horas.
Em Espanha, com 25.264 mortos, os cidadãos começaram a descobrir a felicidade de voltar às ruas no sábado. Em França, com 24.895 mortos, o alívio do confinamento começará só a 11 de maio.
"Quero levar a minha mãe idosa para o mar, posso?", perguntou Pietro Garlanti, 53 anos, com uma máscara e luvas de plástico. "Espero que os jornais nos digam o que podemos e o que não podemos fazer".
Estritamente confinada desde 9 de março, Itália foi duramente atingida, com 28.884 mortos contabilizados até agora. Os italianos aguardam ansiosamente a reabertura de parques, a possibilidade de visitar a família ou reuniões de no máximo 10 pessoas, deslocamentos limitados ao bairro de residência e a possibilidade de receber entregas de bares e restaurantes.
As medidas, entretanto, variam nas vinte regiões do país. A Calábria e o Veneto já autorizaram a reabertura de bares e restaurantes.
"Não baixem a guarda. A fase II começa. Devemos estar cientes de que este será o começo de um desafio ainda maior", alertou o chefe do grupo de trabalho encarregado de responder à pandemia, Domenico Arcuri.
"Histórico" da China
A pandemia já causou pelo menos 246.893 mortes em todo o mundo desde que surgiu na China em dezembro, mais de 85% delas na Europa e nos Estados Unidos, de acordo com o último balanço estabelecido pela AFP com base em fontes oficiais.
Nos Estados Unidos, com 67.155 mortos, apesar dos trágicos balanços diários, alguns estados já flexibilizam medidas para relançar a economia.
Neste domingo, o governo dos EUA responsabilizou a China pela pandemia mais uma vez.
"Há uma enorme quantidade de provas de que foi ali que começou", disse o secretário de Estado dos EUA, Mike Pompeo, referindo-se ao laboratório de virologia na cidade de Wuhan, no centro da China, a região onde os primeiros pacientes foram detetados no final de dezembro.
"Acho que o mundo todo pode ver isso agora. Lembrem-se, a China tem histórico em provocar infeções no mundo e em administrar laboratórios de baixa qualidade", disse Pompeo.
Os serviços de inteligência dos Estados Unidos anunciaram esta quinta-feira ter chegado à conclusão de que o novo coronavírus tem origem na China, mas "não foi criado pelo homem ou modificado geneticamente".
O Instituto de Virologia de Wuhan afirma ser impossível que a pandemia tenha surgido a partir de uma falha nas suas instalações. Apesar de ser um grande crítico da atuação da China no começo da pandemia, Pompeo não disse se acha ou não que o vírus foi libertado de forma intencional.
O presidente americano, Donald Trump, afirmou na noite deste domingo que os Estados Unidos terão uma vacina antes do final do ano. "Acreditamos que teremos uma vacina antes do final do ano", disse Trump na Fox News. "Os médicos vão dizer: você não deveria dizer isso. Mas eu digo o que penso".
Neste domingo, os líderes europeus expressaram apoio à iniciativa de Bruxelas de arrecadar 7,5 mil milhões de euros para encontrar uma vacina contra o novo coronavírus.
O mundo do entretenimento também está a levar a cabo um movimento para arrecadar fundos. O "rei de Bollywood" da Índia, Shah Rukh Khan, juntamente com estrelas internacionais como o ator Will Smith e a lenda do rock Mick Jagger, promoveram um espetáculo online de quase cinco horas neste domingo para arrecadar fundos para os indianos afetados pela pandemia de coronavírus.
Regresso da Bundesliga?
A Europa prepara-se para suspender gradualmente o confinamento, embora as medidas sejam diferentes de país para país.
A suspensão das restrições já está em curso na Alemanha, onde as escolas começam a reabrir gradualmente em algumas regiões nesta segunda-feira. Na Áustria, as ruas comerciais de Viena recuperaram da agitação no sábado com a reabertura de lojas.
O ministro alemão do Interior e do Desporto mostrou-se favorável neste domingo em entrevista ao jornal Bild à retomada da primeira liga de futebol, a Bundesliga. A Bundesliga seria o primeiro grande campeonato europeu a dar esse passo.
No Reino Unido, o pico da pandemia foi atingido, de acordo com o primeiro-ministro Boris Jonhson, que prometeu um plano de desconfinamento para a próxima semana. Contabilizando um total de 28.131 mortos neste domingo, o país é o segundo mais afetado na Europa, atrás da Itália.
Em França, onde o estado de emergência sanitária foi adiado até 24 de julho, o desconfinamento será feito a ritmos diferentes, dependendo da região.
Pandemia acelera na América Latina
Enquanto na Europa os casos caem, em outros países, como a Rússia, e em estados da América Latina, aumentam.
Nas últimas 24 horas, a Rússia registou 10.633 novos casos, totalizando 134.687 infeções confirmadas. A América Latina já ultrapassa os 250.000 casos e está perto das 15.000 mortes. Os países mais atingidos são Brasil (quase 100.000 casos e 7.000 mortes), Peru e Equador, que respondem por 86% das mortes na região e 77% dos casos diagnosticados.
O presidente Jair Bolsonaro reiterou neste domingo em Brasília o seu discurso contra o confinamento, enquanto o número de casos de coronavírus no país excede os 100.000, com mais de 7.000 mortes. O Brasil ocupa o nono lugar no mundo em termos de pessoas infetadas.
O fotógrafo brasileiro Sebastião Salgado lançou uma petição online, assinada pelo ator Brad Pitt e pelos cantores Paul McCartney e Madonna, para exigir "medidas urgentes" das autoridades públicas para proteger os indígenas da pandemia.
Mais de cem municípios do Equador, incluindo Quito e Guayaquil, foco da pandemia no país, vão estender o confinamento ordenado pelo governo há sete semanas para tentar conter a disseminação do coronavírus.
Na cidade de Manaus, uma dos mais afetadas no Brasil, o prefeito Arthur Virgilio Neto, pediu no Twitter à ambientalista militante Greta Thunberg que exercesse a "sua influência" para ajudar a combater a pandemia do COVID-19 na sua cidade, localizado no coração da Amazónia.
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