Até 2019, os acidentes rodoviários eram a principal causa de morte em crianças e adolescentes nos Estados Unidos, mas um estudo publicado no The New England Journal of Medicine dá conta de uma mudança de paradigma: em 2020 os tiroteios em massa passaram à frente dos acidentes de viação no ranking das causas da mortalidade infantil.

Na terça-feira, o médico Sam Ghali postou a imagem de uma radiografia ao tórax no Twitter e lançou o debate. "Aqui está a radiografia ao tórax de uma jovem que sofre de uma condição que agora é a causa número 1 de morte em crianças e adolescentes nos Estados Unidos", escreveu. "Qual é o diagnóstico?", questionou.

Depois de vários palpites dos seguidores, foi confirmado pelo médico que os incidentes envolvendo armas de fogo são agora a principal causa de morte em crianças nos EUA.

A publicação foi partilhada e comentada dezenas de milhares de vezes, com vários médicos especialistas a relatarem situações em que nunca viram crianças baleadas em mais de 20 anos de carreira a trabalhar em urgência noutros países do mundo em contraponto com aquilo que acontece nos Estados Unidos.

Dados mostram que houve um aumento constante na taxa de mortalidade associada ao porte de arma de fogo nos Estados Unidos entre 2015-2019, com um crescimento acentuado de 13,5% observado até 2020. Isso só foi exacerbado por um aumento chocante de 33,4% em homicídios com armas de fogo entre 2019-2020, lê-se no referido estudo publicado no New England Journal of Medicine.

A publicação de Sam Ghali é feita dias depois de uma mulher de 28 anos matar seis pessoas (três crianças e três adultos) numa escola em Nashville, nos Estados Unidos.

O tiroteio mortal ocorreu num momento em que as comunidades em todo o país recuperam de uma onda de violência escolar, que inclui o massacre numa escola primária em Uvalde, no Texas, no ano passado, e um tiroteio na semana passada em Denver, que feriu dois administradores.

Este é já o 128.º tiroteio em massa nos Estados Unidos desde o início do ano, de acordo com dados do Gun Violence Archive, que define um tiroteio em massa quando pelo menos quatro pessoas são baleadas, excluindo o atirador.

Os Estados Unidos, onde circulam aproximadamente 400 milhões de armas de fogo, são frequentemente afetados por tiroteios mortais, inclusive em escolas.

Desde o início de 2023, foram registados pelo menos 30 incidentes envolvendo armas de fogo em escolas nos Estados Unidos, que deixaram oito mortos e 23 feridos, segundo dados da organização Everytown for Gun Safety.