Tem a sua vida sob controlo? Mesmo sabendo que o controlo é uma ilusão humana, em Medicina esta ideia funde-se com a da prevenção da doença e manutenção do equilíbrio do organismo.
Um dos centros deste equilíbrio é a glândula tiroideia, cuja produção hormonal permite a regulação de múltiplas funções no nosso organismo, desde a fertilidade ao desempenho cognitivo.
Estima-se que 1 em cada 10 portugueses sofra de algum tipo de doença da tiroide, sejam perturbações da sua função (com excesso ou deficiência hormonal) ou a presença de nódulos. Se, no primeiro caso, o objetivo é o tratamento para se obter novamente o equilíbrio hormonal, na presença de nódulos o foco centra-se em saber se o mesmo é ou não maligno.
A partir dos 50 anos, quase 50% da população pode ter nódulos na tiroide. Mas qual é o risco real de malignidade? A resposta a esta pergunta é tudo menos linear e exige uma equipa multidisciplinar bem preparada.
A medicina atual, e em particular nos nódulos da tiroide, trabalha com base em probabilidades. Probabilidade de um nódulo específico ser ou não maligno.
Vários fatores devem ser levados em consideração, alguns do próprio doente como a sua história familiar, outros do próprio nódulo.
A importância da inovação tecnológica
É aqui que o desenvolvimento do conhecimento e da tecnologia tem permitido grandes avanços. Ao nível do diagnóstico, com exames de imagem e avaliações ao nível da célula cada vez mais precisas e fidedignas. Ao nível terapêutico com a cirurgia personalizada e tanto quanto possível minimamente invasiva - a cirurgia de precisão.
Se, no passado, a existência de um nódulo tiroideu frequentemente acabava na necessidade de um ato cirúrgico, hoje a tecnologia e o saber acumulado permitem-nos selecionar quem de facto beneficia de algo tão agressivo como uma intervenção cirúrgica, e individualizar a cirurgia ao doente, com terapêutica seletiva e cada vez menos invasiva.
O desafio atual na cirurgia da tiroide é conseguir manter o equilíbrio nestas várias facetas: a cancerofobia nas sociedades desenvolvidas, a precisão diagnóstica exigida e a necessidade de tratamentos eficazes, pouco invasivos e personalizados.
É aqui que entram tecnologias recentes como a radiofrequência (destruição de nódulos por via percutânea) e a cirurgia robótica (cirurgia sem cicatriz).
No entanto, a tecnologia não resolve todos os problemas - “a fool with a tool is still a fool”. Ela tem que ser enquadrada e aplicada em prol do doente.
Apenas aliando conhecimento, experiência e tecnologia, num contexto de multidisciplinariedade, se pode estar à altura de vislumbrar e utilizar as tecnologias do futuro em benefício dos doentes. Só assim teremos sob controlo todas as vertentes da patologia tiroideia.
No dia 25 de maio, entre as 9h30 e as 12h00, assinalando o Dia Mundial da Tiroide, irei juntar-me a várias personalidades para aprofundar estes temas ligados à cirurgia da tiroide e refletir sobre a comparação entre o controle que as pessoas têm sob a sua vida e o papel regulador da tiroide. O evento “ A vida sob Controlo?” decorre no Auditório do Centro do Conhecimento do Hospital CUF Descobertas e todas as pessoas interessadas podem aparecer e juntar-se à discussão.
Um artigo de opinião do médico Carlos Leichsenring, cirurgião geral no Hospital CUF Descobertas.
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