Chamo-me Andreia, tenho 24 anos e tenho Esclerose Múltipla. Sou formada em Criminologia e, neste momento, estou a estagiar na Câmara Municipal de Chaves, no distrito de Vila Real.
Os primeiros sintomas da doença manifestaram-se em fevereiro do ano passado, altura em que tive uma nevrite ótica retrobulbar, ou seja, uma inflamação do nervo ótico. De um momento para o outro comecei a ficar com a visão nublada e com uma dor no olho direito, algo que se manteve durante uma semana. Após efetuar diversos exames a nível oftalmológico no Hospital de Chaves, onde se concluiu que não conseguia distinguir cores fortes através do olho direito, fui reencaminhada, de urgência, para o Hospital de Vila Real onde fui medicada com corticoterapia.
Após o tratamento, os médicos realizaram-me dois exames: uma punção lombar e uma ressonância magnética. A punção lombar, que aparentemente é um exame simples e de rápida recuperação, trouxe-me bastante sofrimento devido aos efeitos colaterais que afetam apenas 1% dos pacientes.
Para além de cefaleias intensas e náuseas, não conseguia estar de pé em momento nenhum, sentindo-me bem apenas totalmente deitada. No espaço de uma semana, em regime de internamento, a minha vida mudou completamente: para além do desespero e angústia de não conseguir levantar-me, instalaram-se muitas dúvidas relativamente ao meu estado de saúde que, no dia após a realização da ressonância magnética, foi esclarecido.
"Tens Esclerose Múltipla", disse-me a minha médica na altura. Nesse momento o meu mundo desabou. As lágrimas escorriam-me pela cara abaixo. Os pensamentos negativos inundaram a minha cabeça uma vez que não sabia praticamente nada sobre a doença. Com apenas 23 anos achei que a minha vida ia terminar naquele exato momento.
Apesar de a médica me ter tentado explicar, calmamente, o que era a doença, fazendo esquemas, eu não a conseguia ouvir. A única coisa em que conseguia pensar era: “Porquê a mim? O que vai ser da minha vida?”
Os meses que se seguiram ao diagnóstico clínico de Esclerose Múltipla na forma surto-remissão foram muitos difíceis. A depressão instalou-se e bati no fundo do poço. Para além de não aceitar a doença, as dúvidas e os sintomas da doença estavam a consumir-me. Não tinha vontade de fazer nada nem queria ver ninguém.
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Com o agravamento do meu estado clínico, comecei a ser acompanhada por uma psicóloga e por um psiquiatra que, juntamente com a equipa médica, foram fundamentais na minha recuperação.
Para além disso tenha a sorte de ter a melhor família do mundo que me apoiou de forma incondicional. São eles que me dão força diariamente e que me fazem levantar da cama com uma nova esperança.
Mas nem tudo foi fácil. Os amigos? Bem, costuma-se dizer que é em alturas críticas que se vêem os verdadeiros amigos e a verdade é que muitos me viraram as costas, não entendendo aquilo que estava a passar e a sentir. Socialmente senti-me julgada inúmeras vezes, pois a perspectiva de quem está de fora é completamente diferente.
Quem tem de viver para o resto da vida com a Esclerose Múltipla, e tudo aquilo que ela acarreta, sou eu. Sinto que, nos dias que correm, as pessoas ainda estão pouco informadas sobre a doença.
Mas é possível levar uma vida normal? Sim. Apesar da fadiga extrema que sinto ao acordar me deixar um pouco desanimada – sentindo como se tivesse corrido uma maratona – tento concentrar-me no novo dia que tenho pela frente. O simples facto de acordar, conseguir andar e não ter qualquer sintoma da doença já me faz sorrir.
Acho que a maior lição de vida que retiro disto tudo é que temos de viver cada dia como se fosse o último. Aproveitar cada segundo e cada minuto da nossa vida, pois hoje pode estar tudo bem, mas amanhã não sabemos. Viver na incerteza é, sem dúvida, uma das piores sensações do mundo mas há que manter sempre viva a esperança de que tudo vai melhorar.
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