O que é a tiroide e quais são as principais patologias que lhe estão associadas?
A tiróide é uma glândula endócrina, em forma de borboleta, localizada na parte anterior do pescoço, logo abaixo da maçã de adão. Ela faz parte do sistema endócrino e desempenha um papel fundamental na regulação do metabolismo do corpo humano. A tiróide é controlada através de outra glândula chamada hipófise que se localiza no centro do cérebro produzindo TSH. Esta hormona é responsável pela regulação da função da tiróide em produzir hormonas tiroideias, designadas por T3 e T4. Estas hormonas são libertadas na corrente sanguínea e afetam praticamente todas as células e tecidos do corpo. Ajudam o corpo a utilizar energia, a manter-se quente e a garantir o funcionamento adequado do cérebro, coração, músculos e outros órgãos. Tem ainda um papel fundamental, em idades mais jovens, no crescimento e desenvolvimento humano.
A maioria das patologias da tiróide relaciona-se com a produção de hormonas ou com a sua estrutura. Quanto à produção, pode haver um excesso de hormonas (hipertiroidismo) ou um défice de hormonas (hipotiroidismo), detetados por análises de sangue. Quanto à estrutura, a tiróide pode desenvolver nódulos, que são estruturas que crescem na tiróide, a maior parte benignas, e que podem ser detetados na palpação do pescoço ou por ecografia.
Quais os principais sintomas a que devemos estar atentos?
As manifestações e os sintomas das patologias da tiróide podem variar dependendo da doença específica. O hipotiroidismo (o mais comum) pode ocorrer com fadiga, ganho de peso, fraqueza, sensação de frio, pele seca, queda de cabelo, depressão e obstipação. Já o hipertiroidismo é o oposto, com perda de peso, aumento da frequência cardíaca, nervosismo, sudorese e sensibilidade ao calor, entre outros. A maioria dos nódulos da tiróide é assintomática e é habitualmente detetado em exames médicos. É importante ressalvar que os sintomas podem variar em intensidade e podem estar relacionados a outras condições de saúde pelo que, caso suspeite de qualquer patologia da tiróide, deve consultar um endocrinologista.
Quais são os fatores de risco para desenvolvimento de doenças da tiroide?
Apesar de ainda não serem conhecidas as causas exatas das doenças da tiróide, pensa-se que estas se encontram relacionadas com fatores geográficos (zonas mais interiores, longe do mar), genéticos (hereditários/ familiares), e ainda dietéticos (consumo insuficiente ou excessivo de iodo, através do sal de cozinha), entre outros.
Em Portugal, a principal causa do hipotiroidismo deve-se a uma doença autoimune em que o sistema imunológico ataca a tiróide, destruindo-a, e que se chama Tiroidite de Hashimoto. Outras causas incluem cirurgia à tiróide e ao défice de iodo, situação muito comum, por exemplo, na serra algarvia na década de 80. No caso do hipertiroidismo, a causa mais comum é a Doença de Graves, também uma doença autoimune, em que os anticorpos vão estimular a tiróide a produzir hormonas a mais. Outras causas incluem nódulos da tiróide hiperfuncionantes ou ainda inflamações transitórias da tiróide (por infeção, por exemplo) que se denominam genericamente por tiroidites.
Embora nem todas as patologias da tiróide possam ser totalmente prevenidas, algumas medidas podem ajudar a reduzir o risco ou a minimizar os sintomas associados. Manter uma dieta equilibrada rica em nutrientes essenciais (iodo, selénio e zinco), evitar o défice de iodo e ainda evitar fumar são medidas simples mas eficazes.
As doenças da tiroide podem ser hereditárias?
As patologias da tiróide podem ter uma predisposição hereditária e/ou genética. Caso tenha familiares com doença da tiróide, há maior que a probabilidade de desenvolver doença. No entanto, é importante salientar que a predisposição genética não garante que uma pessoa desenvolverá a doença, nem a ausência de história familiar significa que a pessoa esteja em risco de desenvolver uma doença da tiróide.
Como é que é feito o diagnóstico a uma possível anomalia da tiroide?
O diagnóstico é feito pela história clínica (sintomas), exame físico (palpação cervical), análises de sangue (doseamento das hormonas tiroideias e anticorpos específicos da tiróide) e ainda por alguns métodos de imagem e de diagnóstico, se necessário. Estes métodos de imagem são, sobretudo, a ecografia cervical. Os métodos de diagnóstico podem incluir biopsia no pescoço (citologia por agulha fina) no contexto de nódulos da tiróide que sejam suspeitos.
Quais são os diferentes tipos de tratamento utilizados e como é que os mesmos funcionam?
O tratamento vai depender da doença em causa. O hipotiroidismo é essencialmente tratado com reposição hormonal, ou seja, com comprimidos que contêm levotiroxina (T4). O hipertiroidismo pode ser tratado com comprimidos que inibem produção de hormonas tiroideias (antitiroideus de síntese), iodo radioativo (que apenas afeta a tiróide) ou ainda por cirurgia. Os nódulos, habitualmente não precisam de tratamento, mas quando dão problemas por serem grandes (compressão das estruturas à volta do pescoço e desconforto local) ou malignos na biópsia, pode ser necessário serem submetidos a cirurgia.
Como é feito o controlo destas doenças a longo prazo?
O controlo a longo-prazo das doenças da tiroide é feito da forma idêntica ao descrito para o diagnóstico. A pessoa com doença da tiróide deve manter seguimento em consulta, para avaliar se a doença se mantem estável, desapareceu ou voltou a surgir, e isso faz-se através da vigilância de sintomas, exame físico, pelas análises de sangue e eventualmente alguns métodos de imagem (ecografia tiroideia).
Aconselhamos em específico as mulheres com défice (hipotiroidismo) ou excesso (hipertiroidismo) de hormonas tiroideia que estão a planear engravidar, a contactar logo que possível o seu médico assistente de Medicina Geral e Familiar ou de Endocrinologia. Neste contexto especial e único na vida da mulher, as alterações hormonais vão ter influência na tiróide e há maior propensão para existir doença. Assim, há necessidade de manter uma vigilância mais frequente e realizar eventuais ajustes ao tratamento, de forma a proteger ao máximo a saúde da mãe e do bebé.
Em que é que os rastreios podem ajudar e melhorar a vida de quem possa desenvolver alguma destas doenças?
O rastreio das doenças da tiróide é importante para pessoas com sintomas sugestivos ou em risco de vir a desenvolver estas doenças, na medida em que a maior parte destas são silenciosas. Este começa logo à nascença com o “teste do pezinho”, uma análise que é feita em todos os bebés e que inclui o rastreio dos défices de hormona da tiróide, por alterações genéticas que levam a que a tiróide do bebé exista, mas funcione mal ou que durante o seu desenvolvimento na gravidez não se desenvolva de forma adequada.
Mais tarde, o rastreio por análises de sangue ou ecografia ao pescoço está indicado sobretudo em pessoas com fatores de risco para doenças da tiroide, como nos casos de sintomas sugestivos de doenças da tiróide, pessoas com idade mais avançada, com antecedentes de tratamentos com potencial dano para a tiróide, como radioterapia ou cirurgias ao pescoço ou com antecedentes na família de doenças da tiróide, por beneficiarem mais do diagnóstico e do tratamento atempado, de forma a evitar complicações futuras que interfiram significativamente na vida quotidiana.
Há que alertar para a possibilidade de pessoas saudáveis sem fatores de risco realizarem sem indicação exames de rastreio, atendendo à probabilidade de se detetarem alterações “acidentais” nesses exames que não são e não serão relevantes para o estado de saúde das pessoas, trazendo ansiedade, preocupações e gastos desnecessários. O maior exemplo é a ecografia do pescoço, pedida frequentemente por rotina a pessoas sem sintomas ou com sintomas menos específicos, atribuíveis a outras causas como o “pigarro”, a “azia” ou o “nó da garganta”, situações para o qual não tem benefício, porque a maioria não se relaciona com a tiróide. Além disso, a esmagadora maioria dos nódulos são “bons/benignos” e não necessitam de tratamento ou intervenção. A ecografia deve ser realizada sobretudo se a pessoa apresenta uma lesão visível ou palpável no pescoço.
Há alguma fase da vida em que é maior a probabilidade de desenvolver estas patologias?
As doenças da tiróide podem aparecer em qualquer fase da vida, embora se saiba que há doenças específicas que são mais frequentes em determinadas faixas etárias. Os nódulos da tiróide, por exemplo, são mais frequentes em idades mais avançadas, ao contrário, por exemplo das causas autoimunes para o défice (hipotiroidismo) ou excesso (hipertiroidismo) de hormonas da tiroide que são habitualmente mais frequentes, ou pelo menos iniciam-se mais cedo, entre adultos jovens (aproximadamente a partir dos 30 anos), até à meia idade (aproximadamente até aos 50 anos), sobretudo em mulheres.
Quais são as estratégias para melhorar a qualidade de vida das pessoas com doenças da tiroide?
As patologias da tiróide podem ter impactos significativos no dia-a-dia de uma pessoa. Esses impactos variam dependendo do tipo e da gravidade da condição, bem como da resposta individual ao tratamento. É importante ressaltar que cada pessoa pode vivenciar esses impactos de maneira diferente e que o tratamento adequado e o acompanhamento médico regular são fundamentais para minimizar os sintomas e melhorar a qualidade de vida. Com o tratamento apropriado, muitas pessoas conseguem controlar as suas condições da tiróide e levar uma vida normal.
É fundamental seguir as recomendações do seu médico e isso inclui tomar a medicação conforme prescrição médica, não se devendo interromper o uso de medicação sem orientação médica. O doente deve manter acompanhamento médico regular para monitorizar o tratamento.
Além disso, as medidas preventivas que possam zelar pela saúde da tiróide no nosso dia-a-dia deverão ser as mesmas adotadas para a prevenir qualquer outra doença de outro órgão. Recomenda-se a adoção de estilos de vida saudáveis, manter uma alimentação saudável e equilibrada e evitar fumar e ingerir bebidas alcoólicas. Acresce apenas a necessidade de assegurar um aporte adequado de iodo conseguido simplesmente com uma alimentação equilibrada que inclui peixe, alimentos do mar, vegetais e uma ingestão adequada de água (pelo menos 1 litro e meio).
Onde é que os doentes podem encontrar mais informação sobre estas doenças?
R: Existem várias plataformas digitais de fácil acesso por internet, com informação fidedigna e de leitura bastante acessível para pessoas sem formação em saúde, da qual destaco o sítio online da Associação das Doenças da Tiróide e o sítio online da Sociedade Portuguesa de Endocrinologia, Diabetes e Metabolismo (SPEDM); secção “informação para público”).
Em jeito de conclusão, a tiróide desempenha um papel fundamental no funcionamento do organismo e, portanto, é essencial estar ciente de qualquer sintoma incomum ou persistente e discuti-los com um médico especialista. O diagnóstico precoce e o tratamento adequado das doenças da tiróide são fundamentais para minimizar complicações e garantir uma boa qualidade de vida.
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