O que é a doença renal crónica?

A doença renal crónica (DRC) corresponde a uma variedade de doenças que cursam com ou alteração na função dos rins (que é medida pela taxa de filtração glomerular, que se considera reduzida se abaixo dos 60 mL/min/1.73m2) e/ou alteração na estrutura renal (por exemplo presença de proteínas na urina). Estas alterações, se se mantiverem por um período de tempo superior a 3 meses, fazem o diagnóstico de DRC.

A DRC divide-se depois em vários estadios de gravidade de acordo com a função renal da pessoa (em 5 estadios, sendo que no estadio 5 é habitualmente necessário a substituição da função dos rins por uma técnica substitutiva, como a diálise ou a transplantação) e de presença de proteínas na urina (3 estadios, de acordo com a quantidade de proteínas presentes na urina), sendo que os estadios mais elevados se associam a perda de função renal e progressão de doença mais acelerada.

Quais as causas que podem levar a esta doença?

Existem várias causas de DRC, que como referido é composta por um grupo muito heterogéneo de doenças, que terão necessariamente manifestações diferentes. No entanto, as causas mais frequentes de DRC nos países ocidentais são a diabetes e a HTA.

E quais os sinais de alerta a que os doentes devem estar atentos?

Infelizmente a DRC é uma doença assintomática. Excluindo algumas situações raras, tais como distúrbios glomerulares que podem ter manifestações imediatas, esta doença mantém-se assintomática durante grande parte do tempo em que evoluí. Os primeiros sinais e sintomas são inespecíficos o que dificulta o diagnóstico. Assim, os sintomas mais frequentes serão os de cansaço, fadiga, que evoluem para outros sintomas mais específicos (e em fases mais tardias da doença), tais como o edema, a tensão arterial de difícil controlo, a anorexia, náuseas, vómitos, prurido.

De que forma é que esta patologia afeta a vida dos doentes?

A DRC é, como o nome indica, uma doença crónica. A doença acompanha o doente durante toda a sua vida e, apesar de assintomática inicialmente, ao evoluir para estadios mais avançados irá provocar perda de qualidade de vida pela sintomatologia inespecífica associada. Havendo evolução para o estadio 5, o mais avançado, há que se iniciar um tratamento substitutivo da sua função renal (por exemplo, diálise) que impacta a qualidade de vida de forma muitíssimo significativa.

Além disso, a própria doença renal acarreta risco de doença cardiovascular, sendo que os doentes com DRC acabam por ter mais eventos (como AVC, enfarte, entre outros) quando comparados com populações sem doença renal.

Ana Carina Ferreira, Nefrologista
Ana Carina Ferreira, Nefrologista créditos: Rui Jorge

Como é feita a avaliação que permite chegar ao diagnóstico?

A avaliação é muito simples: uma análise sumária de urina com pedido de análises de sangue que contemple ureia e creatinina fará o diagnóstico de lesão renal, que se mantida no tempo, poderá ser referida como DRC.

Existe tratamento para a doença renal crónica? Quais as opções?

Não existe um tratamento específico para a doença renal crónica. Existem tratamentos dirigidos às diferentes causas de DRC (uso de hipotensores nos casos de hipertensão arterial, controle glicémico, no caso da diabetes, tratamento dirigido a doenças glomerulares, no caso de glomerulonefrites, e assim por diante). Apesar de não ter um tratamento específico, existem atualmente fármacos que ao serem utilizados nas fases mais precoces de doença impedem a sua progressão. A modificação do estilo de vida para estilos mais saudáveis também impacta a evolução da doença.

E atitudes preventivas?

Sim, a prevenção é essencial: não fumar, perder peso, fazer exercício físico, reduzir o sal da dieta, ingerir água (cerca de 1L dia) e fazer uma dieta saudável. Também o controlo da tensão arterial e da glicémia, no caso das pessoas diabéticas, é fundamental.

De que forma é que a anemia está associada à doença renal crónica? Qual o impacto que tem na progressão da doença e na qualidade de vida dos doentes?

O surgimento de anemia é comum na DRC e a sua prevalência vai aumentando à medida que a função renal vai diminuindo. A anemia surge porque os doentes com DRC terão uma diminuição de uma hormona (a eritropoetina), produzida no rim, que é essencial para o processo de formação dos eritrocitos ou glóbulos vermelhos. Os doente com anemia têm maior risco de progressão da sua doença, para além da diminuição da qualidade de vida.

Que conselho deixa a quem nos lê?

Prevenção e rastreio. Se não sabe se tem doença renal, meça a sua tensão arterial, exclua que não é diabético e aconselhe-se com o seu médico.