Os rins são órgãos vitais do corpo humano, desempenhando uma série de funções fundamentais para a manutenção da saúde geral. São os principais responsáveis pela filtração de resíduos, excesso de água e outras impurezas do sangue, que são eliminados sob a forma de urina. Além disso, regulam os níveis de pH, sal e potássio, cálcio, fósforo e outros compostos no organismo. Produzem também hormonas que afetam a função de outros órgãos e desempenham um papel crítico na manutenção da pressão arterial. Quando a função renal é normal, o resultado é um equilíbrio adequado de fluídos e compostos químicos no organismo. Se ocorrer um desequilíbrio, muitas funções corporais críticas podem ser afetadas, possivelmente produzindo sintomas associados à doença renal.

As doenças renais podem ser agudas ou crónicas. As agudas ocorrem quando uma determinada condição ou doença afeta temporariamente a função renal, voltando esta ao normal depois da correção do problema de base.

A doença renal crónica, por outro lado, é uma condição de longo prazo que resulta em danos renais permanentes. As causas mais comuns são a diabetes e hipertensão, pelo que é imprescindível o controlo destas patologias. Nas fases iniciais, os sintomas podem ser leves ou inexistentes, sendo apenas detetada em exames de sangue ou urina requisitados por outros motivos. À medida que a doença progride, os doentes podem desenvolver edema, com o inchaço dos pés, dos tornozelos ou das pernas, perda de apetite, sonolência, náuseas, vómitos, confusão e dificuldade de concentração. Em caso de falência completa, poderá ser necessário recorrer à diálise ou ao transplante renal. Não há possibilidade de regeneração de tecido renal após um dano permanente, sendo assim importante a prevenção e a deteção precoce.

Seguimento médico regular, estilo de vida saudável, controlo dos níveis de açúcar no sangue e de pressão arterial e evitar o uso excessivo e prolongado de medicação, tal como os anti-inflamatórios, são algumas medidas importantes para evitar a instalação e a sua progressão.

Os rins também podem ser alvo de um crescimento descontrolado de células que podem dar origem a tumores. A incidência de cancro do rim é particularmente elevada em doentes com doença renal crónica, partilhando fatores de risco importantes como o tabagismo, a obesidade e a hipertensão arterial. Surge maioritariamente entre os 60 e 70 anos, representando cerca de 3% de todos os cancros diagnosticados a nível mundial. Na grande maioria dos casos, também não dá sintomas até fases avançadas. Os mais frequentes que podem surgir são sangue na urina, dor nas costas, surgimento de uma massa palpável na parte lateral do abdómen e perda de peso.

No entanto, o cancro do rim é detetado em exames de imagem – ecografia, TAC ou ressonância magnética – realizados por outros motivos. No caso de a doença estar confinada ao rim, o tratamento é cirúrgico. A cirurgia consiste na remoção do tumor (nefrectomia parcial) ou na remoção de todo o rim (nefrectomia radical) nos casos mais complexos. Atualmente, com o desenvolvimento da cirurgia robótica, é possível abordar os casos mais complexos e realizar nefrectomias parciais em tumores que previamente seriam tratados com a nefrectomia radical. Para além disso, a cirurgia robótica consiste numa técnica minimamente invasiva com uma recuperação pós-operatória rápida e mais cómoda para o doente. Felizmente o desenvolvimento tecnológico dos últimos anos permite-nos hoje oferecer esta alternativa que permite poupar a função renal e evitar uma possível doença renal crónica a longo prazo.

Em conclusão, os rins desempenham um papel vital na manutenção da nossa saúde e as doenças renais podem ter consequências graves tanto para os doentes individualmente como para a saúde pública em geral. É importante consciencialização da população para o controlo dos fatores de risco e para o diagnóstico precoce das patologias que afetam estes orgãos.

Um artigo de Rui Prisco, Coordenador de Urologia no Hospital CUF Porto.