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Direito à saúde mencionado pela maioria dos portugueses como o mais importante
21 de maio de 2013 - 09h39
Os portugueses tornaram-se pessimistas quanto ao futuro do Estado Social, acreditam ser responsabilidade do Estado, mas já perceberam que, devido à crise, não haverá capacidade para manter os atuais apoios sociais, concluiu um estudo do Instituto de Ciências Sociais.
"O que parece é que as pessoas estão como que resignadas" com o facto de serem necessários cortes e estão a dizer que, nos próximos 10 anos, "o Estado Social que herdamos do 25 de Abril e fomos construindo vai ter de ser redefinido, alterado e cortado", disse à agência Lusa o investigador Filipe Carreira da Silva.
O especialista coordenou o inquérito "O que pensam os portugueses sobre o Estado Social", no qual 48% dos portugueses dizem que nos próximos 10 anos Portugal não vai ser capaz de manter o nível atual do Serviço Nacional de Saúde e do sistema público de educação, uma percentagem que sobe até aos 55% quando se trata das pensões de reforma.
Para 65% dos 1.258 inquiridos em todo o país, só os cidadãos que realmente precisam, e não todos, é que deviam beneficiar dos apoios sociais do Estado, na educação, saúde e segurança social, e 67% pensa que o Estado deve ser totalmente responsável por garantir, por exemplo, um nível de vida digno aos idosos.
Mais de um quarto dos portugueses (27%) disseram que, se o Governo tivesse de reduzir os gastos com direitos sociais, devia garantir a todos os cidadãos, independentemente do nível de rendimento, o direito à saúde, educação, segurança social e habitação.
Para 42% dos inquiridos, "o Governo devia baixar os impostos e gastar muito menos em serviços e apoios sociais", um resultado que Filipe Carreira da Silva relacionou a possibilidade de se tratar "de profissionais liberais, pessoas para quem o pagamento de impostos é uma coisa importante no final do mês".
Saúde é a maior preocupação dos portugueses
À pergunta sobre qual o direito que seria mais preocupante não estar garantido a todos pelo Estado, 60% escolheu a saúde.
O investigador realçou que "as pessoas sabem que, neste momento, não há sustentabilidade financeira para manter" o nível atual de "investimento da parte do Estado, a universalidade ou a gratuitidade, princípios que estavam na Constituição desde 1975 e sobre os quais foi construído o Estado Social".
Na análise dos valores da confiança dos portugueses no projeto europeu ou no Estado Social, concluiu-se que não eram pessimistas, "mas desde 2008, vê-se claramente um aumento do ceticismo quanto ao futuro", referiu.
A crise económica e a ajuda à troika "claramente alterou a forma como os portugueses olham para o Estado Social", resumiu Filipe Carreira da Silva, salientando, no entanto, que a reforma do Estado Social "não é propriamente uma coisa dramática" e apontou os exemplos de países como Canadá, Alemanha, Holanda, Noruega, Holanda, Suécia ou Austrália.
Em Portugal, "nunca discutimos a reforma do Estado Social, a não ser neste momento, sob imposição externa", e "é a troika que nos diz onde cortar e é no Estado Social, estamos a discutir cortes e não o que vai acontecer para pôr a economia a crescer e pagar a dívida", defendeu o especialista.
Nos próximos 10 a 15 anos, nas eleições legislativas, "o que vai estar em cima da mesa é como reformar o Estado Previdência e estes dados dizem que os portugusees sabem que isso é necessário", disse o investigador, acrescentando que "não é um drama".
Lusa
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