“O pior de tudo é a pessoa viver com a infeção e não saber. Isso sim é que é perigoso para o próprio e para a sociedade”, porque “a partir do momento que sabe, a pessoa pode ter acesso aos cuidados de saúde que necessita”, disse Isabel Aldir, que falava à agência Lusa a propósito da “Semana Europeia do Teste VIH e Hepatites Virais”, que hoje se inícia e se estende até 29 de novembro com ações de rastreio em todo o país.
A médica infeciologista explicou que esta iniciativa pretende “alertar a população para a necessidade de fazerem os testes para diagnóstico das hepatites virais e da infeção VIH” porque são doenças que podem não se manifestar durante muitos anos.
“O mais importante é todos estarmos conscientes que estamos a tratar de doenças silenciosas e propormo-nos a fazer o teste, não termos receio de o fazer e de nos vermos confrontados com o diagnóstico positivo, temos é que ter receio de não sabermos que vivemos com estas infeções. Isso que é de evitar ao máximo”, defendeu.
Isabel Aldir referiu ainda que, ao longo da vida, todas as pessoas podem confrontar-se com estas doenças e que “a única forma” de saberem se a têm é realizando o teste.
Segundo a infeciologista, o diagnóstico destas doenças ainda é tardio. No caso da infeção VIH, acontece em mais de metade das pessoas.
Quando a pessoa é diagnosticada já numa fase avançada da doença a probabilidade de retomar o seu estado de saúde é mais pequeno, sendo mau para o próprio, mas também para a sociedade porque a pessoas desconhece o seu estado e pode transmitir a doença a terceiros.
“É uma realidade para quem vive com VIH, mas também é uma realidade para quem vive com hepatites virais”, disse Isabel Aldir, lembrando que estas doenças têm tratamento.
No caso da hepatite C, o tratamento permite a cura na grande maioria das situações. “Contudo, se a pessoa é diagnosticada tardiamente, já numa fase de cirrose não há possibilidade de voltar para trás”, advertiu.
“Se nós conseguirmos diagnosticar as pessoas precocemente e tratá-las, estamos a ser muitíssimo eficientes e a evitar que adoeçam e tenham complicações” e “estamos também a cortar a transmissão de novas infeções”, afirmou Isabel Aldir, sublinhando que “são estratégias muito ganhadoras em termos de investimento em saúde”.
A infeciologista adiantou que “há mais de 20 mil pessoas para as quais já foram pedidos os tratamentos” para a hepatite C, cuja taxas de cura ronda os 97%.
“É um processo dinâmico, todos os dias estão pessoas a concluírem o tratamento e novas pessoas a iniciá-lo e o que nós temos agora de prestar atenção é diagnosticar pessoas que têm a doença, mas que não sabem”, frisou.
Sobre o combate à infeção por VIH/sida, considerou que Portugal “tem vindo a ter um caminho de sucesso”: “temos mais de 90% das pessoas diagnosticadas, mas ainda há uma margem de pessoas que são diagnosticadas em fase já avançada da doença”.
Nesse sentido, é preciso continuar a fazer um “grande esforço” e um “trabalho muito intersetorial que ultrapassa também os limites da saúde”, para que todas as pessoas que vivem com VIH saibam da sua condição para puderem ser tratadas.
“Estamos numa situação felizmente boa, mas que nos coloca um desafio ainda maior. Não devemos de forma alguma repousar face ao que já foi conquistado, mas pelo contrário, esforçarmo-nos ainda mais e melhor”, sustentou.
Todos os anos surgem novos casos de hepatites virais. No caso da infeção VIH rondam os cerca 800 a mil novos diagnósticos por ano, sendo que há determinados grupos mais atingidos por estas doenças.
“O que nós temos é que caracterizar muito bem quem são essas pessoas e depois adotar estratégias de prevenção e diagnóstico”, defendeu a diretora do programa da Direção-Geral da Saúde.
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