Os longos corredores e as salas de espera do hospital, outrora cheios de doentes e familiares que os acompanhavam, estão hoje praticamente vazios, à exceção de alguns serviços como o de oncologia e as urgências que todos os dias continuam a receber doentes.

Para os proteger, foi necessário tomar medidas, nomeadamente no Serviço de Oncologia, à porta do qual estão afixados vários avisos onde se lê: “Se teve tosse, febre, sintomas respiratórios não entre neste espaço” e “não entre sem ter passado pela triagem na oncologia piso 2″.

“Precisámos de tomar medidas de proteção para evitar que houvesse infeção de doentes que pudessem contagiar outros doentes aqui no Serviço de Oncologia”, disse à agência Lusa o oncologista Luís Costa.

O diretor do serviço explicou que as prioridades foram evitar a contaminação de doentes, de funcionários e “fazer tudo aquilo que é preciso para tentar curar os doentes que têm cancro, uma doença que habitualmente é mais letal do que a covid-19″.

Foram tomadas medidas como colocar um vidro na zona de atendimento para diminuir a possibilidade de contágio, o uso obrigatório de máscara e lavagem das mãos, e as consultas de revisão por teleconsulta.

Contudo, há doentes que precisam de continuar a ir ao hospital e são muitos. A sala de espera do serviço continua cheia, bem como o espaço onde fazem a quimioterapia.

“Temos cerca de 20 mil tratamentos por ano” e alguns podem mesmo curar, daí a necessidade de os manter. “Não queremos mortes colaterais pelo covid-19, queremos que os doentes façam o tratamento que têm de fazer”, defendeu.

Para reforçar a proteção, há uma entrada própria para os doentes oncológicos no piso 2, independente do resto do hospital, e todos passam por uma consulta prévia de rastreio.

“Se houver alguma queixa suspeita, o doente não sobe ao hospital de dia e vai fazer o teste à covid-19″, disse, contando que nas últimas três semanas foram detetados dois casos positivos.

Desde a publicação da norma da Direção-Geral da Saúde, todos os doentes oncológicos passaram a fazer o teste antes de iniciarem o tratamento.

Para Luís Costa, é preciso “manter sensatez, calma e determinação para que tudo corra bem”.

“Esta pandemia vai passar e vai continuar a haver muitos doentes oncológicos a necessitar do nosso apoio”, afirmou, considerando que “é fundamental” que continuem a ser tratados e operados a “tempo e horas”, porque “a haver erros nesta fase, não se vão dar conta deles nos próximos meses, mas só daqui a uns anos e a memória às vezes é curta”.

Também o Serviço de Urgências do Centro Hospitalar Universitário Lisboa Norte sofreu transformações, tendo sido dividido em dois, para doentes com e sem covid.

Para o conseguir, abdicou-se de estruturas físicas, como a urgência de oftalmologia, otorrino, psiquiatria e da sala de aerossóis, contou Carlos Neto, enfermeiro chefe deste serviço.

Desde a pandemia, o Serviço de Urgências polivalente teve “uma queda significativa” no número de doentes, passando de uma afluência média diária de 500 a 600 doentes para 200 “nos dias piores”, disse a diretora do serviço, Anabela Oliveira, lembrando, no entanto, que cerca de metade eram falsas urgências.

Anabela Oliveira disse recear que alguns doentes não vão por medo ao Serviço de Urgência, que “está muito dedicado ao tratamento e orientação para doentes covid”.

O Serviço de Medicina II também sofreu transformações para internar doentes covid. O que mudou essencialmente foram os equipamentos e os procedimentos que os profissionais tiveram de interiorizar, segundo a enfermeira Conceição Barroso.

“Os enfermeiros estão habituados a um controlo de infeção, mas neste momento é um bicho desconhecido com um comportamento que ninguém estava a controlar muito bem”, o que levou a uma reaprendizagem, contou a enfermeira chefe do serviço.

O serviço tem capacidade para 21 doentes, tendo ultimamente havendo sempre entre três a cinco vagas. Alguns doentes já tiveram alta como um casal espanhol que os bombeiros levaram à Galiza.

Segundo a médica internista Marisa Teixeira da Silva, o doente mais novo tem 58 anos e o mais velho 90, sendo o tempo médio de internamento de 14 dias.

“Temos tido doentes que têm tido curtos períodos de ventilação mecânica e que voltam para nós com recuperação favorável e têm tido alta e outros em que a situação por falência orgânica se complica mais e têm internamentos mais prolongados em cuidados intensivos”, rematou.

A propósito de profissionais infetados, Marisa Teixeira da Silva disse que, até agora, só houve uma pessoa infetada que contactou inicialmente com um doente sem proteção.

Em Portugal, segundo o balanço de quarta-feira da Direção-Geral da Saúde, registaram-se 380 mortes, mais 35 do que na véspera (+10,1%), e 13.141 casos de infeções confirmadas, o que representa um aumento de 699 em relação a terça-feira (+5,6%).

O país, onde os primeiros casos confirmados foram registados no dia 02 de março, encontra-se em estado de emergência desde as 00:00 de 19 de março e até ao final do dia 17 de abril, depois do prolongamento aprovado na quinta-feira na Assembleia da República.