É a solução de recurso para quem não tinha “mãos a medir” por altura das festas e arraiais e que, de repente, devido à pandemia de covid-19, viu 72 espetáculos, de um total de 74, transitarem para o próximo ano.

“Dois foram anulados em virtude de as comissões de festas não saberem se as vão realizar”, relata à Lusa o cantor, que concilia a música com a profissão de canalizador e com atividades sindicais.

Lá vai aparecendo uma ou outra junta de freguesia que contrata com ele dar umas voltas pela freguesia a atuar no próprio camião com as suas 'partners', mas são “migalhas” os valores que pagam.

O rendimento, incerto, é menor, mas muito maior é o esforço que faz, mais para se manter em cartaz do que pelos proventos que consegue tirar.

“Não deixam que a gente pare por causa da covid e fisicamente é bem mais duro atuar com o camião em movimento. Vai sendo consolador é ver as pessoas nas janelas e portas para nos ouvir e aplaudir”, explica.

João Claro diz que “é muito o dinheiro que o artista perde” e que “o Governo não ajuda nada a quem tem também rendimentos por conta de outrem”, apesar de ter despesas contraídas em função do que era habitual receber.

“O impacto é enorme: para se ter uma ideia, só no outro fim de semana tinha no dia 14 em Salreu uma festa, no dia seguinte outra na Malhada, em Cantanhede, depois à noite em Arouca... E em Portalegre outra atuação”, exemplificou.

Desengana aqueles que julgam que, por o verem algumas vezes na televisão, está defendido: “Hoje as televisões pagam praticamente só as despesas com a alimentação e alojamento e nem sempre a horas”.

O cantor salienta que há todo um conjunto de pessoas a passar dificuldades e não apenas os cantores, mas também os que alugam os palcos e equipamentos de luz e de som, as luzes decorativas para as festas, e tudo isso está agora suspenso.

“Isto foi tudo ao ar e ninguém responde, ninguém quer saber. Infelizmente há muita gente a sofrer”, observa.

Apesar de sindicalista, tem dificuldade em perceber como é que a festa do Avante se vai poder realizar e as romarias não.

“Há festas populares bem pequeninas, que não chegam a ter 100 pessoas, como a de um lugar em Vale de Cambra, com 23 habitantes e que consegue ter mais de 80 pessoas na festa e me contratou para ir cantar para os familiares que vêm do estrangeiro”, regista.

Para João Claro, a cultura popular não pode ser penalizada e cada caso é um caso, pelo que deveria haver permissão para as comissões de festas as realizarem, cumprindo as normas sanitárias, com a GNR a fiscalizar.

“Olha, eu tenho meu estilo próprio e nem tudo é mau nestes tempos. Faço alguns espetáculos através das redes sociais cujo sucesso me tem surpreendido, porque tenho espetadores de países onde nunca fui que me felicitam pelas atuações e isso ajuda a tentar esquecer este ano. E no próximo, como vai ser? Há muita incerteza quanto ao futuro…”, conclui.

A pandemia de covid-19 já provocou pelo menos 774.832 mortos e infetou mais de 21,9 milhões de pessoas em 196 países e territórios, segundo um balanço feito pela agência francesa AFP.

Em Portugal, morreram 1.784 pessoas das 54.448 confirmadas como infetadas, de acordo com o boletim mais recente da Direção-Geral da Saúde.

A doença é transmitida por um novo coronavírus detetado no final de dezembro, em Wuhan, uma cidade do centro da China.