Na avaliação após alta de um conjunto de doentes que esteve internado no Serviço de Medicina Intensiva do CHUSJ, destaca-se que 23 e 21% dos sobreviventes apresentavam sintomatologia depressiva e ansiosa, respetivamente, e 19% apresentavam alterações cognitivas.

Este acompanhamento inicial decorreu, em média, 63 dias após a alta, num universo de quase 200 doentes, com uma média de idades de 61 anos, na maioria do sexo masculino (67%) e casados (74%). Ao longo do internamento nos cuidados intensivos, 30% dos doentes desenvolveu delirium (estado confusional agudo) e mais de metade necessitou de sedação profunda, com uma duração média de 27 dias. Cerca de 53% chegou inclusivamente a precisar de ventilação mecânica invasiva, numa média de 33 dias.

De acordo com os investigadores, prevê-se que uma percentagem considerável destes doentes venha a desenvolver o síndrome pós-internamento em cuidados intensivos. “Esta condição caracteriza-se pelo aparecimento ou agravamento de complicações físicas, cognitivas e/ou psiquiátricas, que podem persistir meses a anos após a alta, dificultando a recuperação destes doentes”, explica Lia Fernandes, professora da FMUP.

Como revela a médica psiquiatra e investigadora responsável, “as contingências impostas pelos protocolos hospitalares adaptados devido à COVID-19, como a proibição de visitas, elevaram a complexidade associada a estes fatores, aumentando o risco de consequências neuropsicológicas”.

Ainda segundo os autores, estes doentes devem ser alvo de rastreios de rotina durante a hospitalização e após a alta, “incentivando a implementação de abordagens de acompanhamento com o intuito de minimizar as consequências adversas associadas”.

Este estudo foi desenvolvido no âmbito do projeto intitulado “MAPA - Saúde Mental em doentes críticos COVID-19: Implementação de um programa de Monitorização Ativa e suporte Pós-Alta”. O projeto tem como objetivo viabilizar um programa de implementação rápida para monitorização e suporte de doentes críticos COVID-19, permitindo antecipar as suas necessidades psicológicas e cognitivas, reduzindo o impacto a longo-prazo no doente, na família, na sociedade e no próprio SNS.

A par de Lia Fernandes, são também investigadores neste estudo José Artur Paiva, Isabel Coimbra, Sónia Martins, Ana Rita Ferreira, Liliana Fontes, Joana Fernandes, Tatiana Vieira e António Braga.