A qualidade dos cuidados de saúde é definida como a medida em que os serviços de saúde, voltados para os indivíduos e populações, aumentam a probabilidade de os resultados de saúde desejados (efetividade) se alinharem com o conhecimento profissional atual (baseado em evidência).
De acordo com a American College of Clinical Pharmacy, a farmácia clínica é definida como “uma disciplina das ciências da saúde onde os farmacêuticos prestam cuidados ao doente que otimizam a terapêutica medicamentosa e promovem a saúde, o bem-estar e a prevenção de doenças”. Assim, o papel da farmácia clínica, na pessoa dos farmacêuticos hospitalares, passa, entre outros, pela participação na gestão dos medicamentos, que abrange toda a forma como os medicamentos são selecionados, adquiridos, prescritos, administrados e monitorizados. Estas atividades são realizadas garantindo que os 7 “certos” (rights) são respeitados: doente certo, dose certa, processo certo, hora certa, medicamento certo e com a informação e documentação certas.
De acordo com um estudo australiano, a farmácia hospitalar tornou-se tão relevante no dia-a-dia dos hospitais que os farmacêuticos dedicavam em média 47% do seu tempo a atividades clínicas, 37% à distribuição e 16% a atividades de gestão . No mesmo sentido, as evidências sugerem que quando os farmacêuticos clínicos integram uma equipa multidisciplinar, as suas intervenções de reconciliações e revisões de medicação podem ajudar na redução da probabilidade de mortalidade, do tempo médio de internamento, na prevalência de eventos adversos a medicamentos e na melhoria da qualidade de vida dos doentes.
Uma forma de avaliar a qualidade e o impacto dos serviços prestados aos doentes é quantificar e monitorizar as atividades clínicas através de auditorias, revisão de casos, relatórios de incidentes e inquéritos aos doentes, e garantir que os procedimentos de gestão e controlo de reclamações estejam atualizados. Torna-se fundamental, portanto, a utilização de Indicadores de Desempenho e, consequentemente, na definição de benchmarks. Estes indicadores visam encapsular os valores das farmácia hospitalares e demonstrar o seu impacto nos resultados dos doentes a todos os atores da prestação, direta ou indireta, de cuidados de saúde: Ministério da Saúde, Administrações, Equipas multidisciplinares, Farmacêuticos, Doentes e seus familiares, entre outros.
O “TOP Farmácia Hospitalar” surge assim como uma iniciativa da Ordem dos Farmacêuticos, com o apoio técnico da Consultora IQVIA, com o objetivo de, pela primeira vez em Portugal, promover a discussão em torno da importância da avaliação e comparação da qualidade na prestação dos serviços prestados em diferentes Farmácias Hospitalares, definindo, para tal, uma matriz de indicadores que permita a avaliação e melhoria contínua do seu desempenho em ambiente hospitalar. Esta matriz é composta por treze indicadores, distribuídos em três dimensões:
A. Consumo e preparação de medicamentos: Número de medicamentos introduzidos no Sistema de Informação de Avaliação das Tecnologias de Saúde, por farmacêutico equivalente a tempo completo (ETC); Rácio entre medicamentos Biossimilares e Biológicos; Número de preparações estéreis por 1000 doentes saídos; Número de preparações não-estéreis por 1000 doentes saídos.
B. Atividades Clínicas: Número de visitas médicas com participação do farmacêutico hospitalar, por farmacêutico ETC; Número de reuniões multidisciplinares com participação do farmacêutico hospitalar, por farmacêutico ETC; Número de monitorizações farmacocinéticas, por farmacêutico ETC; Número de consultas farmacêuticas realizadas em ambulatório, por farmacêutico ETC.
C. Segurança do Doente: Percentagem de altas de internamento com reconciliação terapêutica; Percentagem de prescrições validadas no internamento; Número de prescrições validadas em internamento, por farmacêutico ETC; Número de reações adversas a medicamentos reportadas no Sistema Nacional de Farmacovigilância, por 1000 doentes saídos; Número médio de horas semanais de farmacêutico dedicado por ensaio clínico
Apesar de as evidências sugerirem diversas barreiras na definição e implementação de indicadores de desempenho – resistência à mudança, aumento da carga de trabalho, descrença nos reais benefícios, incerteza das consequências da avaliação, ou do real impacto no futuro da prática farmacêutica –, esta iniciativa nasceu da vontade dos farmacêuticos para os farmacêuticos.
Neste sentido, é bom destacar o lema da iniciativa: A criação, definição e implementação destes indicadores de desempenho nasceu “dos farmacêuticos, pelos farmacêuticos, para os farmacêuticos”.

O futuro da Farmácia Hospitalar só aos Farmacêuticos Hospitalares pertence.

[1] O’Leary KM, Allinson YM. Pharmacy clinical and distribution service delivery models in Australian public hospitals. J Pharm Pract Res. 2004;34(2):114–21