Entregas de compras e de medicamentos ao domicílio, passear cães ou conversas telefónicas para afastar a solidão, são algumas medidas de apoio das freguesias de Lisboa a fregueses de risco - idosos, doentes crónicos e pessoas em quarentena -, continuando também a apoiar as famílias que já tinham referenciado como necessitando de ajuda.
Todas as freguesias questionadas pela Lusa estão a contactar os idosos sinalizados pelo programa RADAR, da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa, para avaliar as suas necessidades de bens alimentares e farmacêuticas, e vão levar a casa destes utentes estes bens, em alguns casos numa dinâmica em que entram também os parceiros sociais oficiais da freguesia.
No entanto, segundo alguns autarcas, aos utentes já referenciados juntam-se também pedidos de pessoas que recorrem às juntas porque trabalham na chamada “economia informal” e, como não trabalham ou foram mandadas para casa, não ganham o suficiente para as suas necessidades.
“Esta crise está a levar à diminuição da economia informal e dos rendimentos informais e, portanto, há muitas famílias que, aparentemente, sempre estiveram estruturadas, mas que, com a diminuição desta atividade, entram numa situação de dificuldade e, portanto, vêm aqui à junta. Temos que ter também capacidade de resposta para estes casos”, disse à Lusa André Couto, presidente de Campolide.
Também Fábio Sousa, de Carnide, acrescenta que tem muitos utentes que trabalham nas limpezas ou fazem ‘biscates’, que nunca precisaram de ajuda e que agora estão a pedi-la.
“O nosso problema não é tanto com as pessoas que já estão identificadas e já estão nos planos de apoio do quotidiano, mas com aquelas pessoas que normalmente não precisam e que, tendo em conta o atual momento, vão precisar do nosso apoio, seja alimentar, seja na distribuição”, afirmou José António Borges, autarca de Alvalade.
Os números ainda são incertos, mas até quarta-feira Campolide tinha recebido 14 novos pedidos, Carnide tem 1.400 idosos referenciados e na totalidade das juntas lisboetas são milhares.
“Começámos na segunda-feira e estamos a contactar algumas centenas de pessoas por dia”, disse fonte da Junta da Penha de França, salientando que a ajuda está a ser feita em colaboração com a rede de farmácias e os bombeiros do Beato e da Penha de França.
Por outro lado, de acordo com autarcas, este trabalho das freguesias dá segurança aos utentes e permite também contornar eventuais fraudes, de quem se tenta aproveitar da vulnerabilidade dos menos esclarecidos.
“É uma questão muito séria. Estamos a fazê-lo com conhecimento das autoridades e não permitimos que ninguém possa fazer parte de um banco voluntário que não seja identificado. Já aconteceram tentativas ou mesmo burla a pessoas mais idosas ou menos esclarecidas, [com ofertas] de ir à farmácia, ir buscar ou levantar um medicamento”, disse António Cardoso, de São Domingos de Benfica, junta que criou uma linha de 120 mil euros para prosseguir com as primeiras necessidades, disponibilizando um carro para ajudar no transporte.
“Como tem havido algumas circunstâncias de fraude, nós, para evitarmos o desconforto da população que nós consideramos que é de risco, fomos nós próprios que fizemos a ponte com os comerciantes e com as farmácias”, que entregam nas casas, disse, pelo seu lado, o presidente de Alvalade, sublinhando considerar que os casos de fraude não são exclusivos da época de pandemia, já existem sempre, por algum motivo, ao longo do ano.
“Isto dá a garantia às pessoas de segurança de conforto de que não estão a ser enganadas”, acrescentou.
As juntas estão a contactar os idosos referenciados pelo RADAR, a apontar a ajuda que precisam, a sensibilizá-los para que permaneçam em casa, a classificar cada caso em função da prioridade e a cruzar este com outros programas de apoio que já têm.
Entre estes, Campolide reforçou o Celeiro Solidário, um programa próprio de apoio alimentar semelhante à Re-Food, que foi suspensa. Já a freguesia de Belém passou a dar apoio às 25 famílias que eram apoiadas pela Re-Food com a ajuda de alguns voluntários, enquadrados por funcionários da junta.
“A nossa questão, neste momento, é evidentemente a parte da ação social. Criámos o “Belém Consigo!”, para algumas famílias que tenham mais de 65 anos ou que estejam de quarentena ou que estejam doentes, e mantemos o projeto do Cabaz Solidário”, no qual a junta, em vez de ter iluminações de Natal, distribui a verba que seria gasta por cartões atribuídos a cerca de 300 famílias, que estas vão gerindo ao longo do ano, consoante as suas necessidades, disse o presidente, Fernando Ribeiro Rosa.
As juntas de freguesia estão ainda a fornecer refeições escolares às crianças, num serviço de ‘take away’.
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