Depois de ter vindo a reiterar, juntamente com a Organização Mundial de Saúde, os “profundos impactos negativos do encerramento de escolas”, o ECDC vem hoje admitir essa possibilidade, numa altura em que o número de infeções de covid-19 sobe acentuadamente na Europa, o que já motivou a adoção desta medida em Portugal.

“A incidência da covid-19 em ambientes escolares parece ser principalmente motivada pelos níveis de transmissão comunitária. A transmissão generalizada de variantes altamente mais transmissíveis do SARS-CoV-2 [novas estirpes detetadas no Reino Unido, África do Sul e Brasil] aumenta assim a probabilidade de aparecerem casos de covid-19 em ambientes escolares, mesmo que estas variantes não sejam mais transmissíveis entre os jovens”, explica a agência europeia num documento hoje divulgado.

Em causa está o relatório sobre o “Risco de propagação das novas e preocupantes variantes da SARS-CoV-2”, hoje divulgado pelo ECDC e ao qual a Lusa teve acesso, em que este centro europeu recomenda que “o encerramento de escolas seja uma medida de último recurso, implementada como uma medida adicional, limitada no tempo, após outras intervenções não-farmacêuticas [restrições] não terem sido capazes de controlar a transmissão local”.

“Pensa-se geralmente que os fechos de escolas, se considerados necessários, devem ser inicialmente organizados para crianças nos grupos etários mais velhos”, sugere este organismo, que tem como missão apoiar os países europeus no combate a pandemias e epidemias.

Ainda assim, o ECDC recomenda que, “antes de tomar decisões de encerramento de escolas, os países devem rever cuidadosamente as outras medidas intervenções não-farmacêuticas em vigor, ao mesmo tempo que reforçam as medidas na escola para reduzir o risco de transmissão da SARS-CoV-2 em ambientes escolares”.

Insistindo que esta deve mesmo ser a última medida restritiva a ser adotada, a agência europeia propõe, antes, a adoção de “uma vasta gama de medidas de mitigação que minimizem a mistura social entre as classes escolares e o pessoal adulto”, bem como o “rastreio de contactos em ambientes escolares”.

Neste relatório a que a Lusa teve acesso, o ECDC defende, ainda, que “a tomada de decisões em torno do encerramento ou reabertura de escolas deve ser acompanhada de uma comunicação eficaz dos riscos”.

“As escolas são locais importantes para a educação científica e a aprendizagem de boas práticas de higiene, tais como a lavagem das mãos. Os estudantes podem tornar-se defensores efetivos da prevenção e controlo de doenças nas suas casas, na escola e na comunidade em geral”, conclui esta agência europeia.

O primeiro-ministro português, António Costa, anunciou hoje o encerramento das escolas de todos os níveis de ensino durante 15 dias para tentar travar os contágios pelo novo coronavírus.

O chefe de Governo anunciou a medida, que entra em vigor na sexta-feira, após uma reunião do Conselho de Ministros e referiu que se justifica por um "princípio de precaução" por causa do aumento do número de casos da variante mais contagiosa do SARS-CoV-2, que cresceram de cerca de 8% de prevalência na semana passada para cerca de 20% atualmente.

Ainda assim, António Costa apontou que a interrupção das aulas é "profundamente danosa para o processo de desenvolvimento das crianças e para o processo de aprendizagem e não é suscetível de compensação".