"A epidemia não é nova no país, e o vírus circula despercebido há várias semanas, antes dos primeiros casos confirmados da doença", explicou o professor Massimo Galli, cuja equipa isolou a estirpe italiana do vírus, em entrevista ao canal público Rainews 24 esta sexta-feira (28).

"Esta não é uma descoberta incrível. É normal para um laboratório como o nosso, mas contribuirá para a pesquisa sobre a dinâmica da epidemia em Itália", continuou o professor Galli, diretor do hospital Sacco de Milão, especializado em doenças infecciosas.

Estee disse estar convencido de que o estudo da versão italiana do vírus "ajudará a entender melhor e a conter esta epidemia".

Com 650 pessoas que testaram positivo, das quais apenas 303 são consideradas realmente doentes, Itália é o país da Europa mais afetado pela atual epidemia.

Liderada pela professora de imunologia Claudia Balotta, a equipa de investigação do Sacco trabalhou em amostras de três pacientes da "zona vermelha" em torno de Codogno, na Lombardia (região de Milão, ao norte), hospitalizadas entre sexta e sábado.

Codogno (15.000 habitantes) é o local onde a epidemia italiana começou com um doente, chamado paciente 1.

O paciente zero ainda não foi encontrado, mas o paciente 1 é considerado a fonte dos dois focos existentes em Itália: o primeiro, como se afirmou, na Lombardia, e o segundo, em Veneto (nordeste), perto de Pádua.

Esse paciente 1, um executivo de 38 anos da empresa anglo-holandesa Unilever hospitalizado desde 19 de fevereiro, primeiro em Codogno e depois em Pavia, contaminou involuntariamente a esposa grávida, um amigo e depois pessoas que frequentavam um bar em Codogno, médicos, a equipa de saúde e pacientes do hospital local e os seus parentes.

"Polémicas inúteis"

A Lombardia concentra 403 casos entre as 650 pessoas que testaram positivo em Itália, onde o coronavírus causou, desde a sexta-feira passada, 17 mortes entre idosos e pessoas com patologias graves pré-existentes.

A professora Balotta explicou que "estudar as diferenças entre a estirpe italiana e o coronavírus chinês permitirá estabelecer o seu percurso em Itália, as relações entre o foco lombardo e o de Veneto e todos os contágios sucessivos".

Galli varreu as "polémicas inúteis" sobre o facto de Itália ter realizado muitos testes (mais de 12.000 desde sexta-feira), o que explicaria o aumento exponencial do número de casos - a maioria de pessoas que não estão doentes.

"O aumento no número de casos que vemos diariamente não corresponde às novas infecções que aparecem da noite para o dia", disse argumentando que estas são, principalmente, infecções antigas de parentes de pessoas já doentes.

Os investigadores procuram "testar todas as pessoas que estiveram em contacto com pacientes para os quais há informações claras sobre a doença".

É essencial voltar às primeiras versões do vírus, quando apareceu em Itália, "para ajudar a conter a epidemia e impedir que esta se espalhe", insistiu.

Segundo a professora Ballotta, "vai-se demorar semanas para determinar a data exata da chegada dessa estirpe em Itália, provavelmente quando a epidemia terminar".