
O relatório do Serviço de Intervenção nos Comportamentos Aditivos e nas Dependências (SICAD) observa o agravamento do consumo nas mulheres e nos grupos etários 25-34 anos e 35-44 anos.
“Entre 2012 e 2016/7 verificou-se um agravamento do consumo de canábis, ao nível das prevalências de consumo recente e das frequências mais intensivas”, refere o relatório do SICAD apresentado hoje na Assembleia da República.
Segundo o documento, há um “maior número de pessoas a consumir e mais com padrões de consumo diário (mais de três quintos dos consumidores recentes)”.
Mais de metade dos novos utentes em tratamento admite ser viciada nesta droga considerada "leve", com 54% dos novos casos em tratamento a apontaram a canábis como a droga principal que os levou a procurar ajuda médica, informa o Jornal de Notícias.
Em relação à maioria das outras drogas, os consumos mantiveram-se estáveis, tendo mesmo diminuído em alguns casos, salienta.
Mais casos em tratamento
O número de doentes que foram tratados em ambulatório por uso de drogas aumentou em 2016, contrariando a tendência de diminuição que se registava desde 2009, refere o relatório anual sobre as drogas e toxicodependência hoje divulgado.
De acordo com o relatório, Portugal continua a surgir abaixo dos valores médios europeus relativos às prevalências de consumo recente de canábis, cocaína e 'ecstasy', as três substâncias ilícitas com maiores prevalências de consumo recente em Portugal.
Os Açores e a região norte foram as regiões que apresentaram as prevalências mais elevadas de consumo recente e atual de qualquer droga no escalão 15-74 anos, sendo que no escalão 15-34 anos foram também estas regiões, a par da região centro e de Lisboa.
O Alentejo foi a região com as menores prevalências de consumo recente e atual de qualquer drogas nestas faixas etárias, adianta o documento.
Mortes por overdose diminuíram
Vinte e sete pessoas morreram em 2016 vítimas de overdose, uma diminuição de 33% face ao ano anterior que quebra um ciclo de aumento registado desde 2014, revela o documento.
Citando os registos do Instituto Nacional de Medicina Legal, o Relatório Anual sobre A Situação do País em Matéria de Drogas e Toxicodependências 2016 refere que “dos 208 óbitos com pelo menos uma substância ilícita no metabolismo e com informação sobre a causa de morte, 27 (13%) foram considerados ‘overdoses’”.
O diretor do SICAD, João Goulão, observa, no preâmbulo de apresentação do documento, a “evolução positiva” de alguns indicadores na área do álcool, como a perceção de “menor facilidade de acesso a bebidas alcoólicas” aos menores e o “retardar das idades de início dos consumos em populações jovens”.
Em contrapartida, alguns indicadores apontam para um agravamento dos consumos de risco ou dependência na população geral de 15-74 anos e “outras evoluções negativas preocupantes em alguns subgrupos populacionais”, como nas mulheres e nas faixas etárias mais velhas, sublinha João Goulão.
Na área da droga, destaca a descida dos indicadores relacionados com as infeções por VIH e Sida associadas à toxicodependência e com a mortalidade.
“De um modo geral, também foram atingidas as metas definidas para os indicadores relacionados com os consumos dos mais jovens, em particular no que respeita à canábis”, afirma o diretor do SICAD.
Para João Goulão, “estas evoluções colocam grandes desafios para o próximo ciclo de ação”, nomeadamente no âmbito da Rede de Referenciação/Articulação, uma das “medidas estruturantes no domínio da redução da procura, e cuja implementação ficou aquém do desejável no decorrer do ciclo de ação de 2013-2016”.
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