3 de fevereiro de 2014 - 11h11
Zang, é assim que se identifica um jovem homossexual chinês, submeteu-se a choques elétricos nos genitais, enquanto assistia a filmes pornográficos homossexuais como forma de "tratamento" para a sua homossexualidade. Este é, relata, um dos procedimentos adotados na China para "corrigir" a orientação sexual.
"Achava que tinha de tentar isto para ver se tinha possibilidade de me tornar uma pessoa normal", declarou à AFP este jovem de 25 anos.
Para "não dececionar a família",  optou por este método, um dos mais extremos entre os utilizados na China, onde o amor entre pessoas do mesmo sexo ainda é considerado uma desonra.
"Quando reagia às imagens, levava um choque elétrico", pouco intenso, mas "doloroso", lembra Zhang, que pagou pelas sessões depois de chegar à conclusão que assumir a homossexualidade era "difícil demais".
Em 2001, as autoridades chinesas retiraram oficialmente a homossexualidade da lista de doenças mentais e, com o passar dos anos, os homossexuais tornaram-se mais aceites na sociedade, sobretudo entre os jovens e nas grandes cidades.
No entanto, costumam sofrer forte pressão familiar, já que na maioria são filhos únicos, acabando por resignar com o intuito de dar aos pais um neto.
A maioria dos especialistas em Medicina considera que as "terapias de conversão", praticadas em todo o mundo, são ineficazes e  perigosas. Porém, esses supostos "tratamentos" proliferam de Singapura ao Reino Unido, dos Estados Unidos à China.
Pelo menos, cinco clínicas chinesas contatadas recentemente pela AFP admitiram propor soluções "de reajuste da sexualidade", como tratamentos químicos, hipnoses ou choques elétricos em sessões de 30 minutos.

"Não é uma doença"
As "terapias de conversão" foram condenadas em 2009 pela Associação de Psicologia Americana, que considera que esse tipo de tratamento pode criar traumas, e pela Organização Mundial da Saúde, para a qual carecem de justificação médica e são "eticamente inaceitáveis".
Para o Centro LGBT (Lésbicas, Gays, Bissexuais e Transexuais) de Pequim, esses tratamentos causam "danos graves à saúde física e mental, e pioram a falta de auto-estima".
Dois ativistas vinculados ao Centro LGBT, uma organização financiada pelas embaixadas americana e britânica, colocaram frente a uma clínica em Pequim um cartaz elucidativo: "A homossexualidade não é uma doença". Com a campanha, pretendiam convencer as autoridades a revogar as licenças destes centros.
Algumas clínicas contatadas pela AFP consideram que é possível mudar a orientação sexual nas pessoas em que a orientação sexual "não é inata". 
Liu Wei, de 21 anos, foi pressionado pelo pai e acabou por visitar um hospital em dezembro. Como tratamento, um médico propôs "magoar-se com uma borracha presa ao pulso" quando "começasse a fantasiar".
No caso de Zhang, o tratamento com choques elétricos que fez há três anos fê-lo perder totalmente a líbido e provocou-lhe uma depressão. Depois da terapia, perdeu o emprego, as dívidas dos gastos médicos avolumaram-se e começaram os pensamentos suicidas. 
No fim, Zhang percebeu que não podia fazer nada para mudar a sua orientação sexual e aceitou a sua opção sexual. "Ser gay não é tão terrível", disse ao pai.
SAPO Saúde com AFP