Nas décadas de 1980 e 1990, uma doença desconhecida na altura altamente letal "assombrou" a comunidade científica: a Sida, causada pelo vírus do VIH, tornou-se um pesadelo e rapidamente um estigma. O filósofo Michel Focault, o ator Rock Hudson, o cantor português António Variações e o lendário Freddie Mercury foram apenas algumas das celebridades que morreram vítimas da doença.

Três décadas depois do surto inicial, as perspetivas de vida de um portador do vírus do VIH/Sida são hoje bem diferentes das de 1980. Já não se morre com VIH/Sida.

No entanto, segundo um estudo do instituto Datafolha, o diagnóstico do VIH/Sida é o que mais pessoas (76% dos inquiridos) teme ouvir. O estudo conclui que a maioria dos entrevistados considera a doença uma "sentença de morte".

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No entanto, contrariamente ao senso comum, o cancro mata mais, tem maior incidência e é mais letal do que o VIH/Sida. Enquanto em 2016 houve 1030 novos diagnósticos de VIH/Sida em Portugal, este país teve 40 mil novos casos de cancro, doença que mata anualmente cerca de 20 mil pessoas.

João Viola, que é desde 1998 chefe da divisão de investigação experimental e translacional do Instituto Nacional do Cancro no Brasil (Inca), defende que já é possível dizer que "a grande maioria dos cancros são curáveis". "Hoje temos capacidade de curar doentes. Esse estigma, temos também de combater", afirma em entrevista à BBC. Por outro lado, o cientista ressalta ser difícil falar em "cura definitiva", já que a doença pode ser extinta num órgão e reaparecer num outro.

"É muito difícil falar em cura porque, uma vez tendo a doença, é preciso estar sob vigilância. Mas o que nós prevemos é que, em 15 ou 20 anos, o cancro se torne na mesma coisa que o VIH/Sida. O doente fica em tratamento-controlo por muito tempo até que a doença se torne crónica", comenta. "Isso é bem plausível, bem possível", conclui.