Investigadores científicos do Penn Vet Working Dog Center, um organismo afeto à Universidade de Pensilvânia, nos Estados Unidos da América, desenvolveram, há uns anos, uma forma de detetar o cancro do ovário, recorrendo ao olfato canino. A pesquisa que a sustenta baseia-se na descoberta de que os compostos orgânicos voláteis, também conhecidos como odorantes, se encontram alterados nas fases mais precoces da doença.
Combinar o faro canino com sensores químicos nanotecnológicos permite detetar doses mínimas de odorantes. O objetivo é identificar diferenças entre os de tecidos cancerosos e os saudáveis. Em Portugal, segundo os dados estatísticos avançados pelas organizações do setor, o cancro do ovário afeta anualmente cerca de 500 mulheres. Dessas, perto de 70% desconhece os sintomas deste tipo de cancro, revela também um estudo.
Mais recentemente, continuam a ser muitos os cientistas a recorrer a cães para detetar tumores cancerígenos. Nas primeiras semanas de agosto, surgiram notícias que afirmam que o tumor venéreo transmissível nos cães, um antigo cancro canino, já detetado em animais de estimação há 6.000 anos mas que ainda vitima muitos canídeos atuais, está a permitir aos investigadores fazer novas descobertas sobre novas terapêuticas de tratamento da doença, através do recurso a análises genéticas. Nos últimos 15 anos, veterinários de todo o mundo recolheram amostras orgânicas que enviaram para laboratório.
Muitas delas foram analisadas por Elizabeth Murchison, investigadora da Universidade de Cambridge, no Reino Unido, uma das autoras de um estudo que, segundo muitos especialistas, pode revolucionar o tratamento de tumores cancerígenos. "Os cancros evoluem e as nossas estratégias para os controlar devem ser tidas em conta", defende também Carlo Maley, outro dos (muitos) cientistas que procuram a cura da doença.
"No futuro, esperamos conseguir controlar a evolução dos tumores numa perspetiva de longo prazo. O tumor venéreo transmissível nos cães é fascinante porque nos mostra como é que os cancros podem evoluir num período de tempo maior", refere Carlo Maley. Em novembro do ano passado, Joana Cavaco Silva, consultora científica e biomédica especializada em oncologia e hematologia, também abordou publicamente o problema.
Num artigo publicado no Medical News Today, intitulado "Os cães detetam o cancro?", a portuguesa, também autora de artigos médicos, é perentória. "Podem ser úteis no universo médico, uma vez que os cães conseguem farejar algumas doenças, incluindo o cancro". "À semelhança de muitas outras doenças, os cancros deixam marcas específicas ou cheiros distintivos ou secreções corporais no corpo de uma pessoa", sublinha.
"Dependendo do tipo de cancro, os cães podem detetar esses vestígios na pele, no hálito, na urina, nas fezes ou na transpiração", garante Joana Cavaco Silva. "E, com o treino certo, podem alertar as pessoas quando detetarem a sua existência", acrescenta ainda a especialista portuguesa. Em junho, o cientista Stephen Johnston, diretor do Centro de Inovações Médicas da Universidade Estatal do Arizona, nos Estados Unidos da América, anunciou ter desenvolvido uma vacina contra o cancro para humanos que, ao contrário do que pretendia, vai ser, primeiro, testada em canídeos.
Desenvolvida em colaboração com Doug Thamm, um veterinário do Flint Animal Cancer Center, unidade da Universidade Estatal do Colorado, que já teve cancro, também está a gerar expetativas. "O cancro é, atualmente, a principal causa de morte nos cães adultos. Eles desenvolvem muitos tumores espontâneamente em consequência da idade e de uma maneira que se assemelha muito à dos humanos", esclarece o especialista.
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