O abandono de idosos nos hospitais é um problema que poderia ser prevenido pelos profissionais nos centros de saúde, a quem cabe não apenas medir a diabetes ou a tensão arterial, mas evitar que situações destas se agudizem, afirmou hoje uma representante dos serviços sociais.
Em entrevista à Agência Lusa, a presidente da Associação dos Profissionais do Serviço Social (APSS), Fernanda Rodrigues, defendeu que os cuidados de saúde primários identifiquem os idosos em risco de serem abandonados nos hospitais, uma situação que tende a aumentar com a crise.
Este abandono é uma realidade em várias instituições de saúde públicas, que não sabem como encaminhar alguns idosos após a alta clínica, por estes não terem para onde ir nem família que os acolha.
Fernanda Rodrigues sublinhou que os idosos, as crianças e os deficientes são “o elo mais fraco” da crise e que são cada vez mais as situações emergentes a que os profissionais dos serviços sociais têm de responder.
“Uma das consequências de tratar situações terminais é que nada mais há a fazer além da resolução imediata do caso, quando uma intervenção mais cedo permitiria desagravar as situações”, afirmou.
Fernanda Rodrigues lembrou que a Federação Internacional das Assistentes Sociais, a que a APSS pertence, foi das primeiras organizações a tentar saber as consequências desta crise e sobre isso mesmo indagou as associadas.
No caso português, a APSS já traçou o quadro dos efeitos da crise em Portugal, registando “uma recorrência acrescida aos serviços públicos e privados”, nomeadamente estes últimos, em busca de apoios.
“Isso deve-se ao lugar de proximidade destas instituições relativamente à população e porque se anuncia que esta é uma crise global em que o Estado também está debilitado e leva as pessoas a raciocinar que este pode não ser o melhor lugar a que recorrer”, disse.
Segundo Fernanda Rodrigues, “não só há um acréscimo de problemas, mas uma maior complexidade dos problemas”.
Esta responsável alerta para os efeitos do desemprego quando este atinge os dois elementos da família – o que não é nada invulgar – com consequências mais graves nos meios urbanos que nos rurais.
“A ausência de rendimentos traz consigo uma pluralidade de outras situações que tem a ver com efeitos na própria educação das crianças, as auto-limitações que as famílias se impõem em casos como os de saúde e consequências do ponto de vista da habitação, com um numero muito significativo de casos em que as pessoas deixaram de poder cumprir as suas obrigações com os empréstimos e o arrendamento”, disse.
Fernanda Rodrigues acrescentou que estas situações conduzem os atingidos a adotar mecanismos de contenção nos seus relacionamentos.
“As pessoas ficam mais contidas em encontrar as suas rodas de amigos nos espaços sociais onde vivem, para se precaverem de serem confrontados com a sua vulnerabilidade”, explicou.
“Numa situação em que as pessoas estão muito esvaídas de tudo, é difícil contar com uma grande harmonia dos agregados”, disse, concluindo: “É a velha história de casa em que falta o pão, todos ralham e ninguém tem razão”.
Perante este cenário, a presidente da APSS lamentou que já exista “um número significativo de assistentes sociais sem emprego e que se assista a uma opção pelos profissionais menos qualificados, por razões financeiras”.
16 de maio de 2011
Fonte: Lusa/SAPO
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