Na sequência de celebrarmos hoje o tão divertido Dia das Mentiras, dedicamos este artigo a uma doença muito especial: Mitomania, mais conhecida por Mentira Obsessivo-Compulsiva.

Dizer a verdade é um sofrimento para quem tem mitomania, uma doença definida como uma forma de desequilíbrio psíquico caracterizado essencialmente por declarações mentirosas vistas pelos que sofrem do mal como realidade. 
 

Existem alguns casos policiais, os quais não se consegue resolucionar plenamente sem o recurso a conhecimentos médicos ou psiquiátricos. Estes casos de psicopatas ou serial killers tiveram o seu contributo na atenção dos especialitas perante esta patologia denominada de Mitomania, uma doença difícil de compreender e ainda mais difícil de tratar.

Esquematicamente, a Mitomania pode ser definida como uma forma de desequilíbrio psíquico caracterizado essencialmente por declarações mentirosas nas quais acreditam aqueles que as fazem.

A doença foi descrita e assim denominada há apenas um século, por um médico francês, o professor Ernest Dupré, psiquiatra e médico-chefe da enfermaria da Prefeitura de Polícia de Paris. Os seus trabalhos provocaram uma notável transformação do discurso médico sobre a criança maltratada física ou sexualmente depois das leis de proteção à infância de 1889 e 1898. 

"O aparecimento, em 1905, do conceito de mitomania infantil leva sobretudo a matizar o otimismo do discurso sobre a proteção à criança", resume o historiador Jean-Jacques Yvorel na sua apresentação no número 2 da revista "Le Temps de l'Histoire", dedicado à repressão da violência contra crianças.

"Dupré quer dar uma demonstração científica para justificar a reserva expressa pela medicina legal de sua época contra a fiabilidade da palavra da criança. Ele vai fundamentar a sua demonstração em bases teóricas, às quais aderem, na altura, alienistas e pedagogos", explica, por sua vez, Denis Darya Vassigh na mesma revista.
 
A teoria de Dupré repousa num postulado básico: a infância corresponde a um estado primitivo da vida, no qual a imaturidade fisiológica produz uma imaturidade mental, comparável a um certo grau de debilidade. Noutros termos, na criança, a mentira é uma constante de natureza quase fisiológica.

Segundo Dupré, todas as crianças mentem habitual e naturalmente. Essa característica só assume um caráter patológico em alguns casos. "A mitomania pode ser considerada patológica quando leva a um encerramento na necessidade de repetição", explica por sua vez o professor Philippe Jeammet (Institut Mutualiste Montsouris, em Paris).

Por um lado, o mitómano, no seu íntimo, sabe que o que ele diz não é totalmente verdadeiro. Mas ele também sabe que isso deve ser verdadeiro para que lhe garanta um equilíbrio interior suficiente. Num determinado momento, o sujeito prefere acreditar mais na sua realidade do que na realidade objetiva exterior.

Ele tem necessidade de contar essa história para se sentir tranqüilizado e de acordo consigo mesmo."Desse ponto de vista, podemos dizer que o discurso do mitómano é muito diferente do discurso de um mentiroso ou de um fraudador, que têm finalidades práticas. Para estes, o objetivo não é a mentira, sendo esta apenas um meio para outros fins. Na mitomania, contrariamente, a mentira é uma finalidade em si", salienta o professor Jeammet.

"Contam-se histórias ao mesmo tempo que se acredita nelas. É também uma forma de consolo. Esse distúrbio tem origem na supervalorização das suas crenças em função da angústia subjacente." Diante desse distúrbio, existe o risco, principalmente quando há crianças envolvidas e a justiça intervém, de assumir as declarações mitómanas como primeiro grau de gravidade.

Segundo os psiquiatras infantis, a criança com propensão para ser mitómana e que constata que a sua mentira é entendida como verdade tem um sentimento de prazer e de poder que pode facilmente incitá-la a recomeçar.
 
Para o professor Jeammet,"a maioria das mitomanias é muito bem construída e alimenta-se de histórias verosímeis" explica. "Assim, é lógico que as pessoas próximas se deixem atrair para o jogo, pois não podemos de todo o modo começar a suspeitar de que todos são mitómanos".

A maioria dos psiquiatras estima que, actualmente, o modelo psicanalítico (caracterizado pela atenção flutuante e a neutralidade bem-intencionada) não tem como base a de ajudar o mitómano, na medida em que jamais o coloca na situação de confronto com o real que ele nega.

Para alguns, constitui até mesmo uma contra-indicação, na medida em que a escuta leva a fortalecer a mitomania. Nesse contexto, a melhor resposta reside muitas vezes na implementação de um quadro de cuidados que associa o tratamento em meio psiquiátrico do problema subjacente a um acompanhamento psicoterapêutico.

01 de abril de 2011

Fonte: Home News

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