Nestes tempos de incerteza, a abordagem, avaliação e acompanhamento desta doença deve ser uma das prioridades dos médicos de medicina geral e familiar. É importante evitar uma investigação exagerada e desnecessária, priorizando-se uma vigilância próxima e contínua, de uma forma holística: centrada na pessoa, na doença e no impacto desta na vida dos doentes.
Como tal, deve ser possibilitado um acompanhamento de perto do doente, e, em caso de suspeita de doença persistente ou grave, referenciar a outras especialidades ou unidades de reabilitação, se assim for necessário.
São inúmeros os estudos que referem a importância do acompanhamento de doentes pós covid 19, mostrando-se fundamental para uma recuperação plena.
É importante referir, que não são apenas os doentes que passaram por internamento que sofrem sequelas. Muitas pessoas recuperadas da doença (ligeira, moderada ou grave), continuam a manifestar sintomas para além do expectável.
Quais as fases de doença e recuperação?
Existem 3 fases:
- Fase aguda: sintomas de covid-19 até 4 semanas após inicio doença;
- “ongoing symptomatic” - manutenção de sintomas entre 4 a 12 semanas após inicio doença;
- Síndrome COVID-19/long lasting COVID-19 ou COVID-19 longa - sintomas persistentes ou de novo após 12 semanas após teste positivo, não atribuídos a outra causa.
Quais os sintomas físicos persistentes mais comuns?
- Fadiga/cansaço - até 3 meses
- Dispneia (falta de ar) - até 2-3 meses
- Toracalgia (dor ou sensação de peso no tórax) - até 2-3 meses
- Tosse - maioria dos doentes com queixas até 2-3 semanas podendo ir até 3 meses em alguns casos
- Alteração/perda olfato e paladar - até 1 mês
E quais os sintomas psicológicos ou cognitivos que mais afetam as pessoas após a infeção por covid 19?
Sintomas de ansiedade, depressão ou stress pós-traumático - até 3 meses 2. Alterações/agravamento da memória ou problemas de concentração - até 6 semanas.
Alguns sintomas menos frequentes: dores articulares, cefaleias, insónia, rinite, diminuição apetite, tonturas, mialgias, alopecia, diarreia e hipersudorese
O timing para resolução de sintomas é variável?
É variável e relaciona-se com: fatores de saúde existentes pré infeção covid-19; a gravidade da doença; sintomas durante a doença; idade avançada; necessidade de internamento; complicações durante infeção covid-19, como sobreinfeção bacteriana, trombose venosa, entre outros.
Quem precisa de ser reavaliado após infeção por covid?
A necessidade e timing da reavaliação após infeção covid é variável de acordo com as seguintes situações:
- Doentes jovens previamente saudáveis com doença ligeira - sem necessidade de reavaliação, exceto se sintomas persistentes ou de novo, ou se o doente assim o desejar;
- Doente idoso e/ou doente com comorbilidades com doença ligeira a moderada - reavaliação 3 semanas após doença·
- Doentes com doença grave com necessidade de observação médica ou internamento hospitalar - consulta de reavaliação no máximo até 3 semanas após alta
Quando a reavaliação está indicada, para além de uma história clínica detalhada e do exame objetivo, poderá ser necessária a requisição de alguns meios complementares de diagnóstico, a realizar idealmente 6-12 semanas após a infeção. Nomeadamente, uma avaliação analítica, exames de imagem de tórax, eletrocardiograma ou ecocardiograma e provas de função respiratórias.
Após avaliação detalhada do doente, dos achados laboratoriais e imagiológicos poderá ser necessária a realização de fisioterapia, terapia ocupacional, reabilitação cardíaca, reabilitação respiratória ou terapia da fala.
Mensagens finais
- Qualquer paciente pós covid-19 pode manter sintomas persistentes após a fase aguda da doença, com um impacto negativo no seu dia-a-dia.
- Sempre que se adeqúe ou o doente sinta necessidade, deve ser realizada uma avaliação médica após doença, quer para reavaliação dos sintomas, quer para tranquilização do
- Não devem ser minimizados sintomas persistentes ou possibilidade de sequelas pós covid-19.
- Não descuidar a saúde em geral: manter um estilo de vida saudável, a prática de exercício físico, exercícios de relaxamento, horas de sono adequadas, alimentação equilibrada e evitar álcool, tabaco e cafeína.
- O retorno das atividades normais do dia-a-dia e a retoma do exercício físico depende da condição física prévia à infeção por covid-19, da gravidade da doença e dos sintomas ainda presentes, devendo ser realizadas de acordo com a resposta do próprio organismo e recomendação médica.
- Reinfeções podem acontecer, apesar de apenas alguns casos terem sido relatados até à data.
- Nunca descuidar a etiqueta higiénica e respiratória - higienização das mãos, utilização da máscara, manter 2m de distancia entre pessoas e evitar espaços sobrelotados.
Um artigo da médica Mafalda Brito Salvador, especialista em Medicina Geral e Familiar no Hospital CUF Tejo - Consulta Pós COVID-19.
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