Paola Valenzuela estava grávida de 11 semanas, quando foi com o marido à primeira ecografia. Foi nessa altura que a microbióloga, de 40 anos, descobriu que o bebé que carregava na barriga sofria da síndrome de banda ou brida amniótica, uma doença rara que provoca lesões e amputações no feto. "Vi como o meu filho se mutilava enquanto crescia", relata à BBC. "O meu bebé chegou a ter todos os órgãos fora do corpo", recorda.

O bebé de Paola Valenzuela estava destinado a morrer, mas a lei chilena proíbe o aborto em qualquer circunstância, ainda que haja um projeto de lei "preso" no Senado para tentar permitir a interrupção da gestação em três casos específicos: risco de morte para a mãe, inviabilidade do feto ou gravidez resultante de violação.

Tudo aconteceu há dois anos. Paola era obrigada a esperar por um aborto espontâneo ou pelo fim da gravidez. "Senti que o meu filho estava a morrer. Cada dia da gravidez era uma tortura. Mas também tinha medo de sofrer um aborto espontâneo e ser culpada por isso. Tinha medo de ser presa", conta à radiotelevisão britânica.

As bridas ou bandas amnióticas podem aparecer no primeiro trimestre de gestação, quando a membrana que envolve o embrião se rompe, produzindo filamentos fibrosos. A tendência é que ocorra um aborto espontâneo. Mas se o embrião sobrevive, fica preso pelos cordões que vão provocado lesões no seu corpo à medida que vai crescendo. Os fetos podem sofrer ferimentos ou amputações no rosto, braços, pernas ou órgãos vitais, como cérebro e coração.

Os cientistas ainda não sabem a causa exata desta condição, mas várias publicações científicas sugerem a predisposição genética como uma das causas. Em vários casos, há a possibilidade de tratamento. Mas o caso de Paola Valenzuela era complexo e não havia sequer a possibilidade de o bebé sobreviver fora do corpo da mãe, escreve a BBC.

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Semana 14

Quando estava na 14.ª semana de gestação, a chilena sofreu um sangramento e foi levada de urgência para o hospital. De início, a equipa médica pensou que o bebé tinha morrido. "Senti algo terrível, mas tive esperança de que aquilo era o fim". Mas o especialista disse logo depois: "Não, o coração ainda bate". Tiveram dificuldades em detetar o batimento, explicaram, porque o coração estava fora do corpo. "O meu filho tinha o peito aberto", comenta Paola Valenzuela.Semana 14

Paola chegou a pensar em fazer um aborto no estrangeiro, mas descartou a ideia por medo. Às 22 semanas, após uma noite de contrações, foi de urgência para o hospital. "Às 7h30, o meu filho nasceu", conta.

Todos na sala de cirurgia ficaram em silêncio. "Perguntei aos médicos se o seu coração ainda batia e disseram-me que nasceu morto".

Os clínicos perguntaram à progenitora se queria ver o bebê, que foi descrito "como uma massinha, um tumor". "O meu marido disse que não. Eu também não queria ficar com aquela imagem. Sabia que não tinha uma cara, mas lembrei-me de que estava inteiro até à cintura e por isso pedi para que me mostrassem as pernas".

O bebê nasceu no dia 29 de maio e recebeu o nome de Jesus. De acordo com a ciência, a capacidade de sentir dor não se desenvolve até à 24.ª semana de gestação.