A deficiência de vitamina D é um problema de saúde pública em Portugal, com uma prevalência estimada de 66,6% da população.

Alguns grupos apresentam maior risco de desenvolver esta carência. É o caso das pessoas com mais de 65 anos, especialmente aquelas que se encontram internadas ou vivem em lares. Também estão em risco os indivíduos com exposição solar limitada, seja devido à pigmentação da pele, ao tempo reduzido passado no exterior ou à utilização de barreiras à radiação UVB, como protetor solar e vestuário que cobre grande parte do corpo.

Outro grupo vulnerável inclui aqueles que seguem uma dieta pobre em vitamina D. As principais fontes alimentares desta vitamina são os peixes gordos (como salmão, sardinha e cavala), o óleo de fígado de bacalhau, as vísceras e a gema de ovo.

Pessoas com síndromes de má absorção intestinal — como quem foi submetido a bypass gástrico para tratamento da obesidade ou sofre de doença celíaca ou doença inflamatória intestinal — também enfrentam maior risco. O mesmo se aplica a indivíduos com obesidade, insuficiência renal crónica, insuficiência hepática ou que tomam medicamentos que interferem com o metabolismo da vitamina D, incluindo anticonvulsivantes, antirretrovirais usados no tratamento da infeção por VIH, corticoides e antifúngicos.

Existem ainda doenças genéticas associadas a diferentes tipos de raquitismo que podem comprometer os níveis de vitamina D. Pessoas com história prévia de deficiência desta vitamina, raquitismo, osteomalácia, osteoporose ou fraturas não traumáticas fazem igualmente parte dos grupos de risco.

Se estiver em défice preciso de suplementar?

Sim. A vitamina D tem efeitos tanto esqueléticos como extra-esqueléticos.

Em termos esqueléticos, a sua função está diretamente relacionada com a regulação do metabolismo fosfocálcico. A deficiência de vitamina D compromete a adequada relação entre cálcio e fósforo e prejudica a mineralização óssea. Clinicamente, esta deficiência manifesta-se como raquitismo nas crianças e osteomalacia nos adultos.

No entanto, os efeitos da vitamina D vão além do osso. Quase todos os tecidos e células do corpo humano expressam o recetor da vitamina D. Após a ligação da vitamina D ao seu recetor, são ativados cerca de 2000 genes envolvidos em múltiplas vias metabólicas. Estas vias estão associadas a funções como o crescimento e a proliferação ou diferenciação celulares, a estimulação do sistema imunitário — incluindo a produção de citocinas anti-inflamatórias —, o aumento da atividade dos linfócitos e a estimulação da produção de insulina.

Em humanos, algumas destas ações extra-esqueléticas poderão estar na base de estudos observacionais que mostram uma associação entre a deficiência de vitamina D e diversas patologias, como cancros, infeções, doenças autoimunes, doenças inflamatórias crónicas, doenças cardiovasculares e doenças neurodegenerativas.

Um artigo da médica endocrinologista Paula Freitas, Professora na Faculdade de Medicina da Universidade do Porto e Presidente da Sociedade Portuguesa de Endocrinologia, Diabetes e Metabolismo.