Esta foi a semana do Campeonato Europeu, foi semana de subir ao palco e mostrar o trabalho das últimas semanas.
Como estamos também no final desta rúbrica hoje escrevo-vos sobre a última semana, os dias que antecederam toda a competição, a própria competição, todo o envolvimento nos últimos dias que antecederam a prova.
Deixo para o último episódio da rúbrica as minhas ilações, os meus próximos objetivos e todos os respectivos agradecimentos que não podem faltar, porque são mais que merecidos.
A nível de treino durante esta semana apenas treinei segunda e terça feira com o intuito de depletar o glicogénico muscular, sendo que realizei 2 circuitos trabalhando vários grupos musculares.
A partir daqui o tempo era apenas de descanso!
O dia da prova estava marcado para sábado dia 16 ao fim da tarde 18 horas, pelo que viajei para Barcelona – Santa Susanna na quarta feira de madrugada.
Quarta-feira – Dia de viagem - Foi longa!
Não que de Lisboa para Barcelona seja demorado o voo, mas por todo o envolvimento necessário desde o acordar até chegar finalmente ao hotel onde estávamos instalados.
8 horas passaram desde que saímos de Lisboa, check in e pesagens dos atletas realizados, podíamos por fim descansar no nosso quarto. Como é óbvio o meu companheiro de quarto era o Marco Costa, parceiro de treino e de vida, também ele a preparar-se para mostrar em palco toda a condição atingida.
Decidi para este dia levar todas as refeições preparadas, para não correr o risco de chegar ao hotel a tempo de alguma das refeições.
Posso dizer que estava curioso e também um pouco receoso com esta questão!
Dos relatos de outros amigos atletas que tinham competido, transmitiam-me que não necessitava de me preocupar, que haviam todas as condições de alimentação para os atletas, mas por outro lado a comida também podia acabar…hmmm dúvida, pouca certeza, nesta altura não é o que se deseja.
Felizmente, e apesar de inicialmente o hotel não estar completamente preparado para servir comida aos atletas, nomeadamente na questão do sal e a qualidade da comida não ser a melhor, a verdade é que foi melhorando ao longo dos dias e serviu as necessidades, não existindo problemas sérias nesta temática.
Quinta-feira e sexta-feira – Daqui até à prova é aproveitar o tempo pa ra relaxar, descansar o corpo, deixando fluir tudo o resto, comida, cabeça, gestão da água etc…Aproveitamos ainda para ver os primeiros portugueses em ação em palco nomeadamente o nosso grande campeão Carlos Rebolo.
A ansiedade que começou a aparecer! Aos poucos, comecei a ficar inquieto, enquanto tudo o resto fluía normalmente.
Ansioso era a palavra de ordem, sem explicação aparente, ou se calhar com toda as razões para tal estava ansioso, nervoso, cada vez que me imaginava a subir ao palco crescia um miniterramoto que me impedia de pensar racionalmente, acho que costumam chamar a isto stress pré-competitivo, então eraneste estado que me encontrava.
Rapidamente identifiquei este meu estado e percebi que além de não resolver nada, só me deixava mais inseguro, intranquilo, sendo mais importante manter a calma e relativizar todo este stress, no fim de contas o processo mais difícil estava feito, agora era disfrutar do momento.
A um dia da competição foi também altura de tratar da pintura.
O meu amigo César Matadinho, que me acompanhou para Santa Susanna, homem destinado para as pinturas, tinha tudo já planeado!
“Damos uma camada hoje, deixamos a tinta uniformizar, amanhã damos outra pela manhã e uns retoques antes de subires ao palco, pomos um brilho e voilá, estás pronto para arrasar”.
Que saudades, este cheiro da tinta é das coisas que mais recordações me tra z, mais nostálgico me deixa, são inexplicáveis todas as memórias que um simples odor nos dá e para onde nos consegue transportar.
Em relação à alimentação, neste dia estava a cortar todo o intake de sódio, subindo ainda a ingestão de água entre refeições.
Existem diversos protocolos para estes últimos dias. O meu contemplava uma subida ainda maior da ingestão de água neste último dia e consequente paragem até ao inicio da noite, dando tempo para toda a água sair até à prova.
Sábado – O ideal seria ter competido um dia mais cedo. Estes dias de espera aguçam a impaciência, mas contrastando com este sentimento o dia começa calmamente, uma calma assustadora. Está na hora de preparar o saco para a prova e seguir para o recinto da competição
Heis que tudo muda, que su rge a alteração!!
O speaker comunica: Está tudo atrasado e as competições Men´s Physique passam para o dia seguinte.
O que? Ouvi bem? Não pode ser? E agora?
O reboliço mental entre, como vou manter a condição, a pele, o sal, a água, o desconhecido a aparecer inesperadamente.
Decido por um momento acalmar-me.
A decisão já está tomada vamos focar-nos na resolução deste problema. Entrei em contacto com o meu treinador o Carlos Anhuka Silva, para perceber como se poderia resolver a situação. Rapidamente me acalmou e me mostrou o caminho a seguir a partir daqui,
Retorna aos aposentos, reformula as refeições, o intake de água e prepara-te para o dia a seguir!
Difícil esta alteração, mas neste ponto não há volta, vamos em frente e vamos c omo podemos e conseguimos
Domingo – Será mesmo hoje o dia de competição?
Estamos no recinto já preparados, pintados, com o nosso número no calção, eu e os outros atletas Portugueses.
Tento concentrar-me, afastar-me da comparação inevitável c om os outros competidores, mantendo a confiança em níveis o mais alto possível, o que nesta altura é tão difícil como aguentarmos sem comer quando alguém tem um banquete ao nosso lado.
São apenas uns minutos, momentos fugazes que quando reparamos já fugiram, temos de os aproveitar ao segundo, foi este o meu sentimento, portanto vou dar tudo, o melhor de mim.
Subi, mostrei a minha mais pura felicidade, afinal foi para isto que tanto lutei, foi por este momento, foi aqui que quis chegar.
Quem assistiu pode garantir que podia não ser o mais condicionado em palco, mas era o mais feliz, o mais satisfeito de ali estar e a representar o nosso país.
Descemos num ápice, esperamos os números apurados para as finais, não estou! Não me apurei para o top15 da categoria! Acabou!
Um misto de emoções percorrem as minhas veias, tristeza, resignação e de seguida a aceitação, flashback deste percurso, de tudo o que alcancei até aqui.
Foi tanto! evolui tanto! Tenho de me sentir feliz! Se tenho de melhorar como atleta? Muito! Apercebi-me que o nível internacional é altíssimo, falamos de atletas que competem dezenas de vezes ao ano, que se mantêm em condição o ano todo e portanto só tenho de caminhar nesse sentido, ou não!
Com esta dúvida vos deixo para o último episódio desta minha rúbrica, onde faço também um balanço geral da competição e dos próximos objetivos
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