O que é a Perturbação de Stress Pós-Traumático (PSPT)? Esta patologia resulta da exposição de uma pessoa a um evento traumático, o qual corresponde a uma experiência subjetiva de medo e terror intensos, em que a pessoa sente que está sem controlo, desesperada e em risco de perder a própria vida.

Em Portugal, vários anos antes da pandemia, a Perturbação de Stress Pós-Traumático, chegou a ser apontada como a segunda perturbação psicológica mais prevalente na população, sendo apenas precedida pela depressão, como noticiou o jornal Público.

Porém, a prevalência desta patologia tende a ser desvalorizada pela sociedade, resultado do estigma social de que esta é uma doença exclusiva de pessoas envolvidas em contexto de guerra, como os combatentes. Esta ideia limitada resulta de os estudos sobre trauma terem alcançado maior intensidade com as duas grandes guerras mundiais, fruto das elevadas taxas de mortalidade entre os ex-combatentes.

Mas que situações podem facilitar o desenvolvimento desta patologia?

Todas as situações em que a pessoa sente que não tem recursos para gerir o sofrimento vivenciado, como no contexto de um acidente de viação, agressão física ou sexual. Em poucas palavras, situações em que a pessoa sentiu que estava em perigo – real ou percebido.

Ou seja, o trauma não corresponde ao evento per se, mas à forma como o evento é vivido internamente e de forma única pela pessoa, o qual abala todas as suas crenças e pressupostos sobre a vida e ultrapassa todos os seus recursos para lidar com as consequências nocivas do mesmo.

Não raras vezes, a sociedade tende a desvalorizar algumas situações e a acreditar que não são traumáticas, desconhecendo que a natureza do evento depende da intensidade com que é vivido pela pessoa, a qual é totalmente subjetiva, pela ameaça de vida percebida, sentimentos de impotência, imprevisibilidade e incontrolabilidade. Naturalmente que esta atitude tende a dificultar os pedidos de ajuda, seja das pessoas em sofrimento, ou das pessoas mais próximas, igualmente a sofrer e envolvidos em sentimentos de impotência pela sensação de ser incapaz de ajudar o outro.

A pessoa que sofre com este quadro considera que vive num mundo perigoso, inseguro e imprevisível, o que potencia que seja adotada uma postura de alerta a potenciais sinais de perigo, dada a sensação constante vivenciada de desproteção e medo.

Esta postura de hipervigilância, como estar atento ao comportamento de todas as pessoas à sua volta de forma minuciosa, envolve consequências, como por exemplo a incapacidade em relaxar ou dormir, dado que a pessoa se encontra num estado de ansiedade, medo e terror permanentes, assim como níveis mais acentuados de irritabilidade e tendência a recorrer à agressão e às, frequentemente, designadas por explosões de raiva (por exemplo, partir objetivos, gritar, insultar os outros).

Uma das principais sensações presentes nesta patologia é a sensação de ausência de controlo, sobre as emoções, pensamentos e comportamentos. Um exemplo representativo deste fenómeno são os pensamentos automáticos, repetidos e sobre os quais a pessoa sente que não tem controlo e que são perturbadores do bem-estar. Estes podem ser memórias do evento traumático, imagens assustadoras e flashbacks (momentos de recordação do episódio, em que a pessoa sente que está a reviver o evento, perdendo o contacto com a realidade).

Esta sensação de descontrolo sobre a própria vida e bem-estar, associada à sensação de impotência, frustração e revolta facilitam a existência de um risco de suicídio particularmente elevado. Para algumas pessoas, a ideia de terminar com a própria vida é a saída que veem para afastar os fantasmas que as perseguem.

No que remete para os sintomas desta patologia, destacam-se os principais:

  1. Sintomas de intrusão, como por exemplo, flashbacks;
  2. Sintomas de evitamento, com a finalidade de furtar-se a situações, sítios ou pessoas que fazem lembrar ou que se encontram associadas ao evento traumático;
  3. Alterações nos pensamentos, tais como pensamentos de culpa ou dificuldade em evocar memórias do evento traumático;
  4. Alterações nas emoções, como por exemplo, sensação de ser incapaz de vivenciar emoções positivas ou a experiência de um estado emocional negativo constante, constituído por emoções como a raiva, tristeza, medo e vergonha;
  5. Alterações no comportamento, ao nível da irritabilidade, explosões de raiva ou envolvimento em comportamentos de risco, como o consumo de álcool ou drogas;
  6. Alterações fisiológicas, como tremores, ritmo cardíaco acelerado, náuseas, dificuldades em respirar.

É importante referir que para o diagnóstico desta patologia, os sintomas necessitam de estar presentes, no mínimo, durante um mês e provocar um sofrimento significativo nas áreas de funcionamento da pessoa, isto é, no domínio familiar, social e profissional.

A ajuda psicológica precoce é particularmente benéfica. Se identifica alguns destes sintomas no seu funcionamento, procure ajuda, não está sozinho. Um evento tem um impacto diferente para cada uma das pessoas que o vive. Algo que não foi traumático para o seu familiar ou amigo, não impede de ser traumático para si. Por vezes, o cansaço associado aos pensamentos negativos constantes, sensação de medo e ansiedade permanente e explosões de raiva facilitam com que rede social se afaste, potenciando sentimentos de solidão e vazio. Recorra a acompanhamento psicológico especializado.

As explicações são de Sofia Gabriel e Mauro Paulino da MIND | Instituto de Psicologia Clínica e Forense.