Esqueça os famosos tutus, as pontas, a barra, os bailados clássicos que enchem salas de espetáculos temporada após temporada ou mesmo as aulas de balé para adultos. Estamos a falar de uma ginástica que tem como base os exercícios da dança clássica que promete um corpo modulado, uma postura irrepreensível e até uns quilos a menos. E, não, não precisa de ter feito balé antes para experimentar este tipo de modalidade, que faz sonhar milhares de crianças um pouco por todo o mundo.
O peso do corpo funciona como um motor, como sublinha Nina Reksten. Há já duas décadas que dá aulas de ginástica, tendo por base o que aprendeu enquanto bailarina. "Como comecei a dançar a sério tarde, tive de pensar muito para fazer os movimentos, que nas crianças são instintivos, mas isso deu-me um conhecimento muscular grande e foi, por isso, que desenvolvi esta técnica, toda ela baseada no uso do nosso corpo para desenvolver os músculos que são fundamentais", esclarece.
"Não há nada que substitua o trabalho do corpo sobre o próprio corpo, seja em alongamentos, em força física, em resistência e na compreensão muscular que depois usamos no nosso dia a dia. O movimento de cada exercício, quando bem explicado faz todo o trabalho que é preciso para o corpo estar no seu melhor", explica ainda a professora. Nina Reksten usa apenas pesos para alguns exercícios para os braços. "Porque é muito complicado conseguir ensinar trabalho muscular de braços para quem nunca fez esse trabalho intensamente", justifica a antiga bailarina.
Mas, nas alunas mais novas, dispensa-os. E, por falar em idades, a aluna mais nova que teve tinha 18 anos e a mais velha 86 anos. "Na verdade, todas as pessoas podem fazer as minhas aulas, até porque são sempre individualizadas e sei o que devo trabalhar com cada uma", realça a professora, aconselhando, no mínimo, a realização de duas aulas por semana para aprender a dançar e, sobretudo, para atingir os objetivos de trabalho muscular que se pretende. O preço ronda os 200 € por mês.
Os movimentos que esculpem o corpo
Um dos principais objetivos das aulas é modelar o corpo feminino. "As minhas alunas ficam com os músculos mais alongados, tal como as bailarinas, mais magras e a postura delas, quer seja em pé ou sentada, melhora muito", refere. Mas há mais. "As dores nas costas diminuem, aprendem a respirar e até quem foi mãe e ficou com problemas de incontinência urinária consegue ultrapassar o problema", garante Nina Reksten, que sublinha ainda que "os resultados veem-se rapidamente".
As aulas têm uma sequência. "E o princípio é sair do chão e a repetição dos exercícios, tal como no balé", refere. "Começo sempre pela parte superior do corpo e vou descendo até aos pés. Há um trabalho de abdominal constante, pois assim consegue-se manter a postura, que nos exercícios em pé é um pouco inclinada para trabalhar o equilíbrio", descreve a professora. A aula dura, por norma, cerca de 45 minutos e termina com alongamentos, fundamentais no fim de qualquer treino.
Nina Reksten diz, que para as aulas, não é preciso muito. "É necessário apenas roupa confortável e meias normais para poderem deslizar um pouco", avisa. A professora está, contudo, longe de ser a única a recorrer aos ensinamentos desta dança. A ginástica que tem como base o balé também tem conquistado os ginásios e a rede de clubes Holmes Place apostou mesmo numa dessas modalidades, o ballet flow, criado por Tanya Meimaridi, que foi bailarina profissional e coreógrafa.
"Estávamos a precisar de algo diferente, porque o que tem surgido é tudo muito à base de treinos militares e de crossfit e o ballet flow traz um lado mais feminino, mais elegante, apesar de ser um treino de intensidade média", explicou à edição impressa da Saber Viver Cláudia Domigues, treinadora pessoal e professora da modalidade. A aula divide-se em duas partes distintas. "A primeira tem muita influência da barra de chão e do pilates de colchão", esclarece a profissional do desporto.
"A segunda é coreografada ao som de música e é um treino mais aeróbio", garante a personal trainer, que diz que a modalidade pode ser praticada todos os dias. Os benefícios do ballet flow são, à semelhança dos do balé, diversos. Trabalha a força muscular, a força abdominal, a postura, a mobilidade e a flexibilidade. "Faz a reeducação postural e alonga o corpo, como o ballet e tonifica o core interno, o que contribui para o fortalecimento do soalho pélvico", refere Cláudia Domingues.
Essa ação é importante para evitar ou até mesmo corrigir problemas de incontinência urinária. "As posturas obrigam a contrair praticamente quase todos os músculos do core, os adutores, os glúteos e a parede abdominal e o tronco é obrigado a estar muito direito, é muito postural", justifica Cláudia Domingues. Quanto ao equipamento, o ideal é roupa confortável, meias antiderrapantes ou sapatilhas de balé. Os tutus, por muito que lhe agradem, terão de ficar para os seus treinos caseiros.
A história do ballet fitness
O ballet fitness surgiu na década de 1960 pela mão de Lotte Ber. Depois de ter uma lesão nas costas, a bailarina alemã criou uma modalidade que associou o balé aos exercícios de reabilitação que tinha de fazer ao ioga. Foi ela a percursora de todas aulas que hoje tem o balé como base, como as aulas de barra de chão, o balé funcional, o ballet pilates ou ainda o power ballet, entre outras das modalidades que, pelo mundo, se inspiram nesta dança. O seu método dividia-se em exercícios no chão e na barra.
Um dos seus objetivos era que as alunas se divertissem nas aulas. Uma das suas alunas mais famosa foi a popular atriz Joan Collins. Esther Fairfax, a sua filha continuous o seu legado. Mary Helen Bowers, a criadora do método Ballet Beautiful é outro dos nomes conhecidos no mundo do balé, pelo seu método de exercícios. Foi ela que treinou Natalie Portman para o filme "Cisne negro". Foi bailarina do New York City Ballet durante 10 anos e criou esta modalidade para ser artística, atlética e atingível.
Texto: Rita Caetano
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