SAPO: Que dicas é que tem para as pessoas se manterem saudáveis durante o verão?

Dipanda Vilhena: Para mim, mais do que se manterem saudáveis no verão, eu diria que se devem manter saudáveis ao longo do ano e ao longo da vida.

Coisas importantes: o treino, exercício físico. Acho que mesmo depois do Covid, as pessoas ganharam consciência desta importância. Cada vez mais, a comunidade científica fala disso e eu costumo dizer que não existe nenhum comprimido melhor no mercado do que treinar, fazer exercício físico, mexermo-nos, termos hábitos de vida saudáveis, mas acima de tudo, treinar.

Quando digo treinar é fazer exercícios de força. Subir umas escadas e descer, fazer repetições durante X tempo, é um exercício de força, fazer umas simples flexões ou deitar no chão e levantar, é um exercício de força. Se eu pegar em dois sacos de compras e deixar o carro a 100 metros e for desde a porta do supermercado até ao carro, vamos imaginar, com 10 kg de cada lado é um exercício de força.

Portanto, para mim, a primeira dica prende-se efetivamente com o treino, ou seja, treinar, de preferência, com exercícios de força e também fazer exercícios metabólicos ou cardiovasculares.

Quanto às caminhadas, para quem nunca fez nada, sugiro caminhar 5, 10, 15, 20 minutos. Correr e caminhar, correr 20 passos e caminhar 10. Fazer este tipo de atividade, cardiovascular, mas não é preciso fazer uma maratona.

Às vezes, 20 minutos de treino por dia são mais eficazes do que não fazer nada, ou estar a fazer de 7 em 7 dias.
A principal dica será, portanto o treino, fazer exercício.

A segunda será dormir. Eu consegui programar a minha mente para dormir cinco ou seis horas no máximo. Chego à cama, faço três respirações profundas, durmo tranquilamente e seis horas depois acordo com energia, vitalidade e sem cansaço nenhum.

Dormir é muito importante e as pessoas que não conseguem fazê-lo, deveriam pelo menos tentar descansar entre seis a oito horas por dia. Porque é durante o sono que todo o nosso organismo recupera do esforço que fez durante o tempo em que estivemos acordados. É também quando ele se autorregenera, compensa e corrige tudo.

Outra coisa também, é tentar ir para a cama pelo menos até às 10h30 da noite e pelo menos uma hora antes de ir descansar, começar a desligar os ecrãs, baixar a intensidade da luz na casa, nos quartos, etc. E se conseguirmos que a temperatura do quarto também seja mais baixa todo o corpo também acaba por recuperar.

O açúcar é um veneno que está associado a muitas doenças

Já temos os treinos, sono, vamos agora à nutrição e alimentação.
Primeiro, evitar o açúcar. O açúcar é um veneno que está associado a muitas doenças que atualmente temos, desde doenças cardiovasculares a doenças neurológicas, epidemias como a obesidade, Alzheimer, Parkinson, tudo isso está relacionado com o açúcar.

Evitar o açúcar e também, se possível, evitar o glúten. Não digo que as pessoas deixarem de comer pão, mas tentarmos que o pão seja regado, por exemplo, com azeite ou até mesmo com abacate e depois a proteína. Em Espanha faz-se aquela tostada, com azeite e tomate e isso faz baixar a carga glicémica do próprio glúten.

Não quer dizer que, de vez em quando, não possamos comer açúcar, eu por acaso tenho um truque: eu adoro bolo de chocolate, mas como é que eu baixo o índice glicémico ou a carga de açúcar, dessa fatia de bolo de chocolate? É uma coisa muito simples: queijo fresco batido ou um pouco de iogurte natural em cima desse bolo de chocolate faz baixar o índice glicémico desse açúcar.
Evitar também os hidratos de carbono com alta carga glicémica. Se tivermos de escolher entre a batata, escolhemos a batata-doce. Se tivermos de escolher entre a batata-doce e a mandioca, escolher a mandioca.

Escolher primeiro legumes e vegetais, tudo que seja também da época. Portanto, voltando àqueles hidratos de carbono, escolher de preferência os que têm menor carga glicémica. Daí que eu fale primeiro na mandioca ou no inhame, depois a batata-doce, depois a batata branca, o arroz e, por último, a massa.

Beber água, pelo menos três litros de água por dia, de preferência que esteja guardada em garrafas de vidro e não de plástico.
E depois, aproveitar que como estamos no verão, é muito importante a exposição solar. Apanhar sol, principalmente fora dos horários de pico, porque a vitamina D está muito ligada ao sistema imunitário.

Falta falar da meditação, tentar respirar, acima de tudo, meditar, às vezes cinco ou dez minutos. Não fazer nada, esquecer a nossa monkey mind e estarmos sozinhos, com nós próprios, e só respirar, não há problema nenhum e é muito importante.

É importante agradecer cada dia como um novo dia para enfrentar o mundo.

Mais uma coisa: ter um mindset positivo. Sermos otimistas, sermos pessoas que independentemente das adversidades que surgem no nosso caminho, são capazes de ver o copo meio cheio, não meio vazio.

SAPO: Segundo um estudo, 67,6% da população portuguesa tem excesso de peso e obesidade. Na sua opinião, como é que se pode combater esta doença?

D.V: Com exercício, nutrição e sono. Agora porque é que os portugueses não fazem mais atividades físicas? Depois do Covid, as pessoas estão a utilizar as nossas instalações mais vezes do que utilizavam no passado. Quer dizer que há uma maior consciência relativamente ao exercício físico. E não são só os nossos dados, porque todos os outros operadores falam do mesmo.

Há dois fatores aqui. Um, que as pessoas mais conscientes estão a treinar efetivamente mais, porque sabem da importância do exercício físico. Dois, aqueles jovens que durante o Covid tinham 16, 17 anos, que ao estarem agora na maioridade também, descobriram também essa importância.

Os portugueses não fazem mais atividades físicas porque creio que adotámos um estilo de vida que não é um estilo de vida mediterrânico, nem é um estilo de vida ibérico. Tornámo-nos mais sedentários também fruto da própria tecnologia e do desenvolvimento tecnológico, que temos atualmente tudo, é muito mais fácil.

Estamos a comer pior, na minha opinião, do que comíamos há 20 anos

Quando estava na escola, lembro-me que os pratos eram mais pequenos e que a porção de comida, se formos a pensar em termos calóricos, era menor do que aquela que temos atualmente.

A análise que faço é que comemos mais, mexemos-mos menos, treinamos menos e estamos mais tempos sentados.

Outra coisa é que a quantidade de hidratos de carbonos, versus proteína, versus lípidos que colocamos no prato, muitas vezes é 80 vezes mais do que aquilo de que o nosso corpo precisa, do que aquilo que as gerações anteriores tinham.

SAPO: Acha que o governo devia criar mais programas para prevenir esta doença? Talvez em parceria com os ginásios?

DV: Acho que sim, pela nossa saúde sim. Porque o nosso SNS não se devia chamar de sistema nacional de saúde, devia-se chamar tal como nos Estados Unidos, o sistema nacional da doença e não da saúde. Da saúde estamos nós a tratar, a indústria do fitness trata da saúde. E é aqui que eu acho que os governos, particularmente o primeiro-ministro, os governantes, deviam pensar nisto de uma vez por todas, porque os países nórdicos têm IVA de zero e de 6% no fitness. Nós, em Portugal e em Espanha, temos um IVA de 23% em Portugal e de 21% em Espanha.

Claro que sabemos, e os estudos assim o indicam que se nós estamos a falar da condição humana, este devia ser um direito humano.

Se eu sou considerado ativo e que treino, quer dizer que o produto, o resultado, o trabalho, tudo aquilo que eu faço na sociedade é mais positivo. Portanto, se eu estou menos vezes doente, quer dizer que o produto interno-bruto vai ser maior porque se tivermos uma sociedade mais saudável, mais forte, mais resiliente, mais pensadora, mais ativa e mais saudável, digamos assim, é uma melhor sociedade em todos os setores.

Todas aquelas empresas e organizações que são responsáveis por cuidar da saúde dos portugueses, deveriam ter um benefício e aqui o benefício poderia ser duplo. Vamos imaginar, por exemplo, baixar o IVA para zero ou para 6%, e às pessoas que estão inscritas num ginásio e em que comprovem o número de vezes que estão a frequentar, permitir maiores descontos para o IRS.

SAPO: Qual é a vantagem de frequentar um ginásio?

DV: A primeira é que vou encontrar num só espaço tudo aquilo de que preciso para ser ativo e para ter um estilo de vida saudável. No ginásio vou encontrar máquinas para treinar, vou encontrar equipamentos, vou encontrar profissionais que me podem ajudar como um personal trainer, um instrutor de aula de grupo ou uma simples pessoa que está em sala e que me que pode ajudar a que mais rapidamente consiga fazer a minha atividade física, o meu treino e obter resultados.

E tudo isto com valores cada vez mais acessíveis, e que para mim, volto a dizer, se houvesse uma contrapartida por parte dos governantes, seria ainda mais apelativo.

SAPO: Quem é que devia adquirir os serviços de personal trainer?

DV: Toda a gente precisa de personal trainer, até eu preciso e sou personal trainer e treinador também. Acho que todos nós precisamos de alguém que nos guie, alguém que desenhe o treino para nós, e nada melhor do que um profissional qualificado de excelência para nos ajudar nesse sentido. Porque os PTs, enquanto profissionais de saúde, vou dizer desta maneira, e do estudo físico e de saúde, estudamos todas as outras variáveis que estão relacionados com o corpo humano, com o treino, com a parte psicológica, com a motivação, com a nutrição, tudo.

Temos formação de base para tudo e eu acredito que a formação é sempre o início, depois cada também deve seguir e melhorar a sua formação profissional. Portanto, ter um PT vai ajudar não só no alcance dos resultados pretendidos, mas também efetivamente a guiar-me durante o percurso de forma que eu não desista.

Toda a gente queria ter PT

Quem não tem, pelo menos, deveria experimentar para perceber quais são as mais valias, porque personal training é diferente de qualquer outro produto que nós compramos numa loja qualquer. Portanto, é uma experiência, é um serviço, é algo que não pode ser quantificável.

Se não fosse o PT ou se não fosse esta orientação, era mais difícil, mas o facto de ter uma pessoa a puxar, a prescrever, a ajudar, a fazer também com ela, etc. ajuda as pessoas a alcançarem os seus resultados e objetivos.

E depois, muitas vezes pessoas que fazem PT, depois ficam a fazê-lo para sempre, porque torna-se um hábito. A grande maioria das pessoas que têm uma boa experiência relativamente ao serviço de personal training, ficam fãs e não mudam.