Quero perguntar-te: Já alguma vez entraste num espaço e sentiste uma energia diferente? Como se, de repente, te sentisses mais calmo e mais criativo ou, pelo contrário, com um peso no peito sem saber porquê? Pois é. Não é coincidência. Os lugares que habitamos, onde trabalhamos e por onde circulamos — seja a nossa casa, o escritório ou até uma simples loja — têm um impacto subtil e discreto mas enorme. Influenciam o nosso humor, dão-nos uma sensação de desalento ou, pelo contrário, de empoderamento e otimismo, o nosso comportamento e modo de estar, se temos vontade de nos isolar ou pelo contrário de socializar, se somos mais ou menos impulsivos, a nossa criatividade, o nosso foco, a nossa motivação e produtividade e, até mesmo, as nossas vontades mais básicas, como comer, dormir ou comprar. E, muitas vezes, nem nos damos conta de como estes espaços estão a moldar o nosso bem-estar e as nossas vivências.
Mas afinal, como é que os espaços conseguem isto? Vamos por partes. As cores das paredes, a luz que entra ou não pela janela, mais fria ou mais quente, os sons à nossa volta, os aromas que nos rodeiam, um espaço mais aberto e organizado ou fechado e caótico e até a forma como os móveis estão dispostos, tudo isso comunica com o nosso cérebro. Avaliamos inconscientemente se é um espaço que nos é mais ou menos familiar e isso tem um impacto em nós e na nossa sensação de pertença e no quão seguros nos sentimentos. O impacto pode ser imperceptível mas é quase invariavelmente transformador.
E empresas e instituições, cada vez mais atentas e conscientes disto, tentam envolver-nos subtilmente em verdadeiras armadilhas para os nossos cinco sentidos. Desenham os espaços à nossa volta de forma a captar a nossa atenção, cativar-nos e influenciar as nossas escolhas e decisões e envolver-nos subtilmente.
Num hospital psiquiátrico, por exemplo, mudar as paredes de branco para um azul suave, garantir a entrada de luz natural pelas janelas e espalhar relógios e calendários pelas salas, pode diminuir significativamente as crises de agitação dos doentes. O azul transmite calma e a luz natural e as pistas sobre o dia e a hora regulam o nosso relógio biológico, melhorando o sono e o humor. Pequenos ajustes que fazem toda a diferença. Este é o exemplo que conheço melhor mas esta lógica aplica-se a vários áreas e sectores.
Nos escritórios, esta lógica também se aplica. Não é por acaso que empresas como a Google ou a Airbnb investem tanto no design dos seus espaços. A Google, no seu campus de Mountain View, integra jardins interiores, zonas de lazer e áreas amplas para estimular a criatividade e aliviar a sobrecarga mental. A Airbnb, em São Francisco, decora cada sala com temas culturais de diferentes cidades do mundo, criando um ambiente que inspira pertença e orgulho nas pessoas que ali trabalham. A Microsoft oferece espaços de socialização mas também cabines privadas. Um equilíbrio entre espaços abertos e áreas privadas permite colaboração e foco. Os exemplos multiplicam-se. Estes espaços não são apenas bonitos — são pensados para cuidar de quem lá trabalha e aumentar a produtividade.
Mas as empresas não cuidam só dos seus trabalhadores. A Starbucks, por exemplo, aposta em criar ambientes acolhedores com luz quente, sofás confortáveis e música suave. Tudo isto convida os clientes a ficarem mais tempo, a relaxarem e, claro, a consumirem mais. Hotéis boutique e spas utilizam elementos naturais na sua decoração e adaptam o seu espaço ao contexto cultural para criar uma experiência mais íntima. A Abercrombie & Fitch ficou famosa pelo cheiro intenso das lojas, que ajudava a criar uma identidade de marca e a atrair clientes. Pequenos detalhes, grandes resultados. E há espaços onde vão mais longe para nos manipular — como os casinos de Las Vegas - onde a música animada e a ausência de janelas fazem com que percamos a noção do tempo e fiquemos mais tempo a jogar.
Os espaços moldam-nos. Não são meros cenários. São protagonistas, tudo conta.
E a melhor parte? Muitas destas mudanças estão nas nossas mãos. Está na hora de olharmos com mais atenção para os espaços que habitamos e percebermos o que podemos ajustar. Está ao nosso alcance, mesmo ali ao lado. Pequenas mudanças no ambiente podem ter grandes impactos na nossa saúde mental. Porque, no fundo, cuidar dos nossos espaços é, no fundo, cuidar de nós.
Um artigo da médica Maria Moreno, psiquiatra na CogniLab.
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